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Bernard Law, de influente cardeal a símbolo de escândalo de pedofilia

20/12/2017 13h11

Cidade do Vaticano, 20 dez 2017 (AFP) - O cardeal americano Bernard Law, que morreu em Roma nesta quarta-feira (20), aos 86 anos, foi um dos cardeais mais influentes da Igreja Católica antes de cair em desgraça em 2002 por acobertar padres pedófilos na diocese de Boston.

Acusado pelo jornal "Boston Globe" de ser uma figura-chave nas investigações sobre os abusos sexuais cometidos por dezenas de sacerdotes pedófilos entre 1984 e 2002, Law se refugiou em Roma após o escândalo e nunca foi processado.

Apesar da reputação arruinada, o religioso continuou sob a proteção da Santa Sé, que o nomeou em 2004 arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior.

Oficiou várias missas na basílica, o que gerou protestos de alguns fiéis.

Aposentou-se em 2011, mas manteve os títulos - como é tradição na igreja - de arcipreste emérito da basílica e arcebispo emérito de Boston.

Considerado um dos cardeais mais próximos de João Paulo II, o prelado chegou a se reunir com o próprio Fidel Castro em dezembro de 1998, meses após a viagem histórica do papa polonês à ilha comunista.

Tinha tanta influência que entrou na lista dos chamados "papáveis". Depois do escândalo envolvendo seu nome, sua carreira desmoronou.

Nascido em 4 de novembro de 1931 na cidade mexicana de Torreón, Law era filho de um coronel da Força Aérea americana e cresceu em bases militares.

Estudou História Medieval na Universidade de Harvard e iniciou os estudos religiosos em 1953. Foi ordenado sacerdote no Mississippi, em 1961.

Defensor na década de 1960 dos direitos civis dos negros no sul dos Estados Unidos, opunha-se fervorosamente ao aborto e era simpatizante dos setores mais conservadores da Igreja.

Law foi nomeado cardeal pelo papa polonês em 1985, um ano após se tornar arcebispo de Boston.

Após a morte, em maio de 2000, do cardeal de Nova York John O'Connor, Law se tornou o "cardeal mais influente dos Estados Unidos", segundo o professor de Teologia Richard McBrien, da Universidade de Notre-Dame.

Defensor dos pobres e dos oprimidos, Law era contra a ordenação das mulheres, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e contra o fim do celibato dos padres.

Chegou a instar os católicos a votarem contra os candidatos democratas à Casa Branca em 1984 - Walter Mondale e Geraldine Ferraro -, porque defendiam o direito ao aborto.

Em várias ocasiões, criticou a política americana nos anos 1980 em relação à América Latina, adotando o modelo de João Paulo II: progressista em questões sociais, conservador em temas morais.

Law se opunha ao embargo econômico imposto sobre Cuba e conversou com Fidel Castro diversas vezes por telefone.

Em 1969, foi nomeado diretor-executivo para assuntos inter-raciais e ecumênicos da Conferência Episcopal e, dois anos depois, retornou para o Mississippi.

Sua ascensão na hierarquia da Igreja começou em 1973, quando foi nomeado bispo da diocese de Springfield-Cabo Girardeau, no Missouri.

O cardeal não participou do conclave que elegeu o papa Francisco, por já ter mais de 80 anos. Além disso, diz-se em Roma que o pontífice argentino evitou encontrá-lo em suas muitas visitas à basílica de Santa Maria Maior antes de suas viagens.

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