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O ano em que a Coreia do Norte aumentou o temor de uma guerra atômica

21/12/2017 14h31

Seul, 21 dez 2017 (AFP) - A Coreia do Norte acelerou o ritmo de sua enlouquecida corrida rumo ao armamento nuclear em 2017, aumentando o temor de um conflito atômico digno dos piores momentos da Guerra Fria.

O tema deve permanecer nas manchetes em 2018 porque as grandes potências parecem incapazes de obrigar a Coreia do Norte a renunciar a seus programas nuclear e balístico.

Os múltiplos pacotes de sanções aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU não dissuadiram Pyongyang de executar, em setembro, o sexto teste nuclear de sua história, o mais potente até agora. O regime norte-coreano anunciou que testou uma bomba de hidrogênio.

A Coreia do Norte também realizou este ano vários testes de mísseis intercontinentais (ICBM) e afirmou que tem a capacidade de atingir o território continental dos Estados Unidos. O regime norte-coreano afirma que se tornou um Estado nuclear de pleno direito.

O presidente americano, Donald Trump, respondeu com um discurso repleto de ameaças - se comprometeu na tribuna da ONU a "destruir totalmente" a Coreia do Norte no caso de um ataque de Pyongyang - e de insultos contra o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, a quem chamou de "pequeno homem foguete".

"Por quê me Kim Jong-Un me insultaria e chamaria de 'velho' quando em NUNCA o chamaria de 'baixinho e gordo'?", escreveu Trump no Twitter.

Para alguns analistas, a reação do governo americano pode ter o efeito contrário ao desejado, estimulando ainda mais Pyongyang. Ainda mais levando em consideração que a Coreia do Norte justifica seu programa nuclear pela ameaça americana.

- Risco de 'guerra involuntária' -Os Estados vulneráveis costumam responder as ameaças externas com a militarização, observa Vipin Narang, professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

"A solução é acelerar até o ponto em que, diante da ameaça de um ataque, você adverte que tem muitas armas nucleares", explica Narang. "É impressionante e assustador a rapidez com que juntaram todas as peças".

Pyongyang afirma que sua prioridade é a própria sobrevivência. Os críticos acusam o país de querer reunificar por meio da força a península dividida há quase 70 anos.

Em resposta aos avanços norte-coreanos, Washington multiplicou as demonstrações de força, principalmente com os voos de bombardeiros sobre a península.

Ao mesmo tempo, autoridades americanas citaram a ameaça da opção militar, o que alimenta o medo de um erro de cálculo que poderia provocar um conflito.

Van Jackson, analista para questões de Defesa da Universidade Victoria de Wellington, considera que o risco de uma "guerra nuclear involuntária" nunca foi tão elevado desde a Guerra Fria, por causa da sofisticação do armamento norte-coreano e do nível atual das tensões.

"A Coreia do Norte pode querer executar um bombardeio nuclear preventivo se acreditar que os Estados Unidos estão a ponto de invadir ou de decapitar o regime", declarou Jackson.

Assim, os países que estão ao alcance do arsenal norte-coreano temem uma guerra nuclear que deixaria milhões de mortos.

No Japão, algumas pessoas começaram a construir abrigos em suas casas ou nas empresas. Na Coreia do Sul, algumas vozes pedem que o governo inicie o próprio programa nuclear, o que colocaria em risco a aliança com os Estados Unidos, que supostamente deve proteger o Sul.

- Fracasso político americano? -No início de dezembro as sirenes foram ouvidas no Havaí, quando o estado americano testou, pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, o sistema de alerta de ataque nuclear.

Muitos analistas consideram que Washington deve dialogar com Pyongyang. Mas o Norte, que alega que seu armamento nuclear não é negociável, reivindica uma negociação de igual para igual com os Estados Unidos, como duas potências nucleares.

Washington sempre disse que não aceitaria uma Coreia do Norte a arma nuclear e que Pyongyang deveria adotar medidas concretas de desarmamento antes de qualquer diálogo, que deve ter como objetivo sua desnuclearização.

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, surpreendeu, no entanto, ao dar a entender que seu país estaria disposto a negociar "sem precondições". Mas a Casa Branca afirmou pouco depois que nada mudou.

"Eu acho estranho dizer que 'não aceitamos' a arma nuclear norte-coreana", declarou Joshua Pollack, pesquisador do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais de Monterey (Califórnia).

"Dizer ou não dizer algumas palavras não mudará nada na realidade".

Sentar à mesa de negociações com uma Coreia do Norte "nuclear" constituiria, no entanto, um fracasso político enorme para os Estados Unidos, que não conseguiriam assim impedir um regime norte-coreano com a bomba.

E quanto mais Washington esperar, maior será o custo diplomático de um diálogo para os Estados Unidos, adverte Joel Wit, da Universidade Johns Hopkins, que negociou com a Coreia do Norte durante os governos Clinton e Bush.

Na época, recorda, Pyongyang tinha apenas "mísseis desarmados".

"Nós dávamos risadas deles dizendo que não era sério. Hoje, vemos que é sério, que o preço subiu e que vai ser um osso duro de roer".

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