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Violência do crime organizado espalha cemitérios por todo o México

21/12/2017 17h11

México, 21 dez 2017 (AFP) - O ano de 2017 tingiu o México de vermelho. As cifras de homicídios contabilizadas pelo governo bateram recordes em vários meses, enquanto locais que não eram atingidos pela violência hoje geram preocupação.

Por isso, 2017 se apresenta como o ano mais violento no México desde que o país começou o registro oficial de homicídios - há duas décadas.

Para o ex-agente da agência antidrogas americana (DEA), Mike Vigil, há várias razões para o aumento no número de homicídios, que hoje está incontrolável.

Uma delas é a fragmentação dos grandes cartéis em células menores e mais violentas. A outra é a mancha da corrupção nas forças policiais.

"Há muitos grupos que estão dominando diversas zonas do México. Esses grupinhos que vêm do Cartel do Golfo, dos Zetas, dos Templarios, dos Beltrán Levya, dos Arellano Félix, do Cartel de Juárez e assim há muitos conflitos", disse o também analista em entrevista à AFP.

Embora nem todos os homicídios no México obedeçam ao crime organizado, os cartéis estão por trás da maior parte.

"Há cemitérios por todo o México, principalmente por causa do crime organizado", afirmou Vigil.

Pergunta: A que se deve o aumento na violência?

Resposta: "Há muitas razões. Número um: a fragmentação dos cartéis. Começaram a brigar por território, pelo controle das zonas produtivas de cultivos ilícitos".

"Por muitos anos, a corrupção entre as entidades estaduais e municipais tem sido endêmica. Nem a Polícia Federal nem os militares querem trabalhar com a polícia estadual e municipal. É preciso haver uma reforma nessas agências policiais".

"Também se trata do movimento do dinheiro, das drogas nos Estados Unidos retornando ao México. Fora isso, as armas. Isso também causa muita violência no México".

P: Por que a violência se estendeu a locais onde não era vista, como o balneário de Los Cabos (noroeste)?

R: "Muitos desses grupos se fragmentaram e é o que está acontecendo agora no México, que estão entrando em zonas onde não existiam nos anos anteriores, e isso é pela necessidade de controle territorial".

P: Tem a ver com o enfraquecimento do cartel de Sinaloa?

R: "Para mim, o cartel de Sinaloa ainda é muito poderoso, embora Joaquín 'Chapo' Guzmán tenha sido extraditado. E (seu sócio) Ismael 'Mayo' Zambada tem controle do cartel e saúde para fazer isso. Acho que vai continuar sendo muito poderoso".

P: Por que o cartel Jalisco Nueva Generación cresceu tanto este ano?

R: "Estava crescendo bastante desde quando se formou, porque começou em Jalisco e depois que se formou já havia se movido do lado Pacífico para o lado Atlântico, em Veracruz".

"Então (o líder, Nemesio Oseguera) 'El Mencho' disse: 'isso é bom, estamos controlando portos que são estratégicos, mas precisamos nos mover para o norte, onde temos o maior país consumidor e necessitamos ter pontos para poder cruzar a mercadoria para os Estados Unidos'".

P: A Lei de Segurança Interna (recém-aprovada pelo Congresso mexicano) resolve alguma coisa?

R: "É como uma faca de dois gumes. Um, obviamente, pois sempre houve recriminação sobre violações de direitos humanos dos militares, mas ao mesmo tempo agora estamos falando de dois cartéis que são muito organizados (Sinaloa e Jalisco Nueva Generación), então é muito difícil para as autoridades, agências policiais, combaterem esses grupos".

"Precisa-se dos militares para combater, mas ao mesmo tempo os militares não são treinados para serem investigadores, e muitas vezes fazem operações, muitas vezes não têm a capacidade para reconhecer as evidências".

"Esta lei vai permitir que os militares possam colocar os detidos à disposição de um juiz competente. E sem essa lei não podem fazer isso. Precisam pedir, por exemplo, à Polícia Federal e dizer 'prendemos essa pessoa e vocês vão precisar colocá-lo à disposição da Justiça', e a Polícia diz 'não fizemos a prisão' e não querem lidar com isso, muitas vezes os soltam".

"Ao mesmo tempo, o México tem que renovar, reformar a polícia estadual e municipal para que em algum tempo possa passar toda essa responsabilidade outra vez para as agências policiais, seja municipal, estadual, ou federal".

P: E isso acontecerá? Não se vê propostas sérias dos candidatos à Presidência nesse sentido.

R: "É preciso. Os militares não são investigadores. Eu formaria grupos entre a Polícia Federal e os militares que trabalharam juntos. É necessário que haja uma estratégia para reformar as agências municipais, locais e estaduais, mas nenhum candidato está falando disso".

"O que mais me incomoda é que Andrés Manuel López Obrador (candidato do partido Morena à Presidência) está dizendo que quer anistiar esses traficantes de drogas que prejudicaram tanto o México".