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Nudismo vira meio de escapar da rigidez do sistema no Vietnã

nudista vietnã afp - Hoang Dinh Nam/ AFP - Hoang Dinh Nam/ AFP
Nudista se aquece para nadar no rio Vermelho, em Hanói, Vietnã
Imagem: Hoang Dinh Nam/ AFP

Em Hanói

23/12/2017 04h00

No Vietnã comunista, o nudismo está longe de ser aceito. Mas em Hanói, os mais corajosos se encontram no rio para nadar, meditar ou fazer ioga, em busca de uma comunhão com a natureza que desafia as normas sociais.

Escondidos atrás de placas, ao lado do rio Vermelho, os homens se despem antes de mergulhar, jogar xadrez ou correr.

"Para nós, é importante vir aqui pois queremos estar em boa saúde", afirma Nguyen Tuan Nghia, de 43 anos, que frequenta esta improvisada praia de nudismo há 18 anos.

Nguyen, budista recém-convertido ao protestantismo, vê no nudismo uma forma de regressão, de volta à infância, algo como "um renascimento pela graça de Jesus ou Buda".

Os frequentadores são em sua maioria funcionários públicos. Alguns vêm todos os dias, embora a temperatura neste período de inverno não ultrapasse 20ºC. Após nadarem, os banhistas se aquecem com um pouco de chá, fervido em uma pequena fogueira.

Não existe nenhuma associação oficial de nudistas no Vietnã nem na vizinha China. Os adeptos do nudismo se apropriaram desta praia selvagem, onde a polícia não os incomoda contanto que não causem confusão.

No Vietnã, assim como no Camboja ou em Mianmar, o nudismo é um tabu. E isto apesar de haver cada vez mais reuniões de nadadores nudistas na China, da Tailândia contar com retiros naturistas (sobretudo para estrangeiros) e da tradição dos banhos públicos, onde se entra nu, conservar sua popularidade no Japão e na Coreia do Sul.

Sensação de liberdade

A nudez é estritamente regulamentada nos filmes e na arte em geral no Vietnã e na China. Em setembro, durante a primeira exposição de fotos de nus organizada na Cidade de Ho Chi Minh (antiga Saigon), algumas das imagens não foram aprovadas pela censura.

Mas nesta margem do rio Vermelho, a dois passos de uma das principais pontes de acesso a Hanói, ninguém se choca ao ver homens correndo ou fazendo ioga sem roupa.

Todos os participantes insistem na sensação de liberdade causada pelo fato de se despir, longe das normas impostas desde a infância neste país de partido único, onde todos os meios de comunicação são controlados pelo regime.

"Me sinto cômodo quando venho aqui, faço exercício e me sinto melhor na hora de voltar ao trabalho", diz Nguyen Hoang Duong, um vendedor de 23 anos.

Nem espreguiçadeiras nem guarda-sóis: o lugar segue sendo muito rudimentar, entre árvores e sacos de areia dispostos para frear as inundações.

Apesar da poluição do rio Vermelho, que nasce no sul da China antes de passar pelo Vietnã, em seu caminho para o mar da China, os naturistas afirmam que se banhar nele é bom para a saúde.

"Nunca tivemos nenhuma doença de pele nem pruridos. Acreditamos que é bastante limpo aqui", afirma Le Duc Lam, de 67 anos, que diz se sentir com mais saúde desde que começou a se banhar no rio.

"Os vietnamitas deveriam ser mais abertos de mente quando se fala do banho nudista. Não deveríamos ser tão discretos como no passado", defende Nguyen Thi Thuy, uma das poucas mulheres que praticam o banho nudista, em uma praia separada da dos homens.