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Após indulto, Fujimori pede perdão por atos de seu governo

26/12/2017 12h56

Lima, 26 dez 2017 (AFP) - O ex-presidente peruano Alberto Fujimori pediu perdão pelos atos de seu governo (1990-2000) nesta terça-feira (26), dois dias depois de receber um polêmico indulto do presidente Pedro Pablo Kuczynski.

"Estou consciente de que os resultados durante meu governo por uma parte foram bem recebidos, mas reconheço que desapontaram outros compatriotas. A eles peço perdão de todo coração", afirmou Fujimori, de 79 anos e internado em uma clínica por problemas circulatórios, em um vídeo postado no Facebook.

O indulto dado a Fujimori, decretado na véspera do Natal, desatou uma nova crise política contra Kuckynski, que, na quinta-feira, se livrou de ser destituído pelo Congresso ao receber apoio de uma parte do fujimorismo.

Isso motivou muitos protestos contra o indulto a Fujimori, que cumpria pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.

As reações ao indulto a Fujimori mostraram um Peru polarizado, dividido entre simpatizantes do fujimorismo e a indignação de seus críticos, que pretendem impugnar a medida em tribunais internacionais.

"O que aconteceu não garante a estabilidade, estamos avançando para uma nova instabilidade", disse à AFP o analista Mirko Lauer.

O contexto da decisão de Kuczynski, três dias depois de evitar seu afastamento do cargo pelo Congresso sob a acusação de mentir por não revelar serviços de assessoria à empreiteira brasileira Odebrecht, alimentou a fúria do antifujimorismo.

O fracasso da moção para destituir Kuczynski na quinta-feira passada no Congresso evidenciou as divergências entre os irmãos Keiko e Kenji Fujimori.

Kenji Fujimori desobedeceu a ordem do partido liderado por sua irmã e não votou pela destituição, optando pela abstenção. Ele foi acompanhado por outros nove congressistas, o que provocou o fracasso da moção Kuczynski.

"É evidente que aconteceu uma troca da destituição pelo indulto", destacou Lauer.

Esta percepção motivou os protestos contra o indulto a Fujimori.

A primeira grande manifestação reuniu pelo menos 5.000 pessoas em Lima, que criticaram o indulto e exigiram a renúncia de Kuczynski.

"Fora, fora PPK!", gritaram os manifestantes. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar o protesto e evitar que os manifestantes caminhassem até a clínica em que Fujimori está internado.

A repressão deixou um cinegrafista do canal estatal TV Peru ferido. Ele foi agredido pela polícia, passou por exames e sua situação é estável, segundo o presidente da emissora, Hugo Coya.

- Kuczynski tenta explicar -Kuczynski fez um discurso na segunda-feira à noite à nação, transmitido por rádio e televisão, no qual tentou justificar o indulto alegando que o concedeu para tentar reconciliar o país antes que Fujimori morresse na prisão.

"Estou convencido que aqueles que são democratas não devem permitir que Alberto Fujimori morra na prisão, porque justiça não é vingança", disse o presidente.

"Foi a decisão mais difícil da minha vida", completou.

O indulto estremeceu o governo. A bancada parlamentar de Kuczynski, 17 deputados de um total de 130, registrou as renúncias de três legisladores até o momento.

Mas o deputado governista Juan Sheput defendeu o indulto e pediu a reconciliação da classe política.

"O que motiva o governo tem relação com a reconciliação nacional, não podemos continuar lutando entre direita e esquerda com base em um antifujimorismo e um fujimorismo", disse Sheput.

- Fujimori internado -Fujimori, de 79 anos, passou a primeira noite em liberdade hospitalizado na UTI da clínica em que foi internado no sábado por uma arritmia cardíaca e queda de pressão.

Ele permanecerá no local até sua recuperação e uma série de exames, segundo o médico pessoal de Fujimori, Alejandro Aguinaga.

"A alta dependerá da evolução e em consequência disso será tomada uma decisão", declarou Aguinaga.

Dezenas fujimoristas manifestaram apoio ao ex-presidente diante da clínica.

As repercussões do indulto afetarão o poderoso partido populista Força Popular, de Keiko Fujimori, que tema liderança questionado por seu irmão Kenji, que não compartilha a oposição frontal ao governo.

"Kenji é apoiado por seu pai e tem agradecimento a Kuczynski, enquanto Keiko segue furiosa por sua derrota eleitoral. Faz uma política de aliança com o governo estimulada por seu pai", afirmou à AFP o analista Fernando Rospigliosi.

Kuczynski indultou e concedeu o perdão presidencial no domingo a Fujimori, com base em um relatório de uma junta médica.

A junta "determinou que o Sr. Fujimori sofre de uma doença progressiva, degenerativa e incurável e que as condições carcerárias significam um sério risco para sua vida, saúde e integridade".

- Pedido de nulidade -O indulto provocou o protesto das famílias de 25 vítimas assassinadas por esquadrões da morte do Exército durante o regime de Fujimori. Esse caso foi o que acabou levando Fujimori à prisão, após ser condenado como responsável pelos homicídios.

Os parentes das vítimas pretendem recorrer à Corte Interamericana para pedir a anulação do indulto.

"Não é possível indultar estes crimes contra a humanidade", afirmou Carlos Rivera, advogado das vítimas.

Fujimori continua a ser popular apesar dos abusos cometidos durante o seu regime. Muitos o reconhecem por ter conseguido derrotar os guerrilheiros do Sendero Luminoso e o MRTA e estabilizar a economia após a crise da hiperinflação produzida sob o primeiro governo de Alan García (1985-1990).

De acordo com pesquisas recentes, 65% dos peruanos são favoráveis ao indulto a Fujimori.