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Irã deve permitir 'espaço para crítica', diz Rohani

31/12/2017 17h02

Teerã, 31 dez 2017 (AFP) - O presidente do Irã, Hassan Rohani, afirmou neste domingo que os órgãos governamentais devem dar "espaço para a crítica", após o terceiro dia de manifestações contra o poder, durante as quais duas pessoas morreram e dezenas foram detidas.

Rohani ressaltou, no entanto, que protesto não significa violência e vandalismo.

"A crítica não é o mesmo que a violência e que destruir os bens públicos", disse em uma reunião do executivo, acrescentando que "os órgãos do governo devem dar espaço para a crítica legal e para os protestos", segundo a rede de televisão pública.

"Isso deveria ficar claro para todo o mundo: somos uma nação livre, e em virtude da Constituição [...] o povo é absolutamente livre para expressar suas críticas e inclusive para protestar", afirmou.

"Ao mesmo tempo, não devemos permitir que se crie um ambiente em que os defensores da revolução e o povo fiquem preocupados sobre suas vidas e sua segurança".

Além disso, declarou que o presidente americano, Donald Trump, "não tem o direito" de simpatizar com os manifestantes iranianos.

"Este homem que hoje, dos Estados Unidos, quer simpatizar com a nossa gente esqueceu que há alguns meses chamou a nação do Irã de terrorista", disse Rohani.

"Esta pessoa, que está completamente contra a nação do Irã, não tem o direito de sentir piedade do povo do Irã", acrescentou.

No sábado, Trump reiterou suas advertências ao poder iraniano, declarando que "os regimes opressivos não podem durar para sempre".

A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, assegurou neste domingo que o governo iraniano está "sendo posto à prova por seus próprios cidadãos", depois de três dias de protestos contra o regime clerical.

"Rezamos para que a liberdade e os direitos humanos prevaleçam", disse em um comunicado.

- "Manifestantes pagarão o preço" -Mais cedo, o governo iraniano havia advertido que os manifestantes "pagarão o preço" dos protestos.

Segundo vídeos divulgados nas redes sociais, milhares de pessoas marcharam em várias cidades do Irã durante a madrugada de domingo.

Em Teerã, 200 manifestantes foram detidos no sábado, segundo uma declaração do vice-prefeito da cidade, Alí Asghar Naserbajt, citado neste domingo pela agência Ilna, próxima aos contestadores.

"Estas pessoas foram entregues à justiça. (...) Vários estudantes foram liberados e devolvidos às suas famílias", disse Naserbajt. Segundo ele, entre os detidos estão "40 líderes das manifestações ilegais".

"Alguns grupos opositores no exterior incentivam nossos jovens", acrescentou.

Os veículos de comunicação oficiais divulgaram vídeos dos protestos, apresentando como "contrarrevolucionários" aqueles que queimam bandeiras nacionais ou invadem prédios públicos.

As manifestações começaram na quinta-feira em várias cidades, diante das dificuldades econômicas do país, isolado e submetido durante anos a sanções internacionais por suas atividades nucleares.

Na sexta e no sábado, os protestos aumentaram, dirigindo-se contra o governo.

Neste domingo à tarde, nem a imprensa nem as redes sociais informaram sobre novos protestos contra o poder instituído, enquanto centenas de estudantes se manifestaram na universidade para apoiar o governo e denunciar "a corrupção e o alto custo de vida".

São as manifestações mais significativas registradas na República Islâmica desde o movimento de protesto contra a reeleição do ex-presidente ultraconservador Mahmud Ahmadinejad em 2009. Na época, o movimento foi violentamente reprimido.

"Quem destrói os bens públicos, cria desordem e age na ilegalidade deve responder por seus atos e pagar o preço. Agiremos contra a violência e contra quem provoca medo e terror", declarou o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, neste domingo, na televisão estatal.

Também hoje o governo restringiu o acesso ao aplicativo Telegram e à rede social Instagram de celulares, segundo várias agências de notícia iranianas.

As autoridades alegam que grupos "contrarrevolucionários" estabelecidos no exterior estão recorrendo a essas redes para convocar a população a ir às ruas e a usar coquetéis molotov e armas de fogo.

Dois manifestantes morreram em confrontos na cidade de Dorud (oeste), informou o vice-governador da província de Lorestan, Habibollah Khojastehpur, garantindo que as forças de segurança não atiraram na multidão.

"Nosso objetivo era pôr fim, pacificamente, aos protestos, mas, devido à presença de certos indivíduos e grupos, duas pessoas morreram", afirmou Khojastehpur.

Em mensagem no aplicativo Telegram, os Guardiães da Revolução - o Exército de elite iraniano - afirmaram que pessoas com armas militares se infiltraram entre os manifestantes e começaram a "disparar a esmo contra a multidão e contra o prédio do governador" de Dorud, deixando dois mortos e seis feridos.

Em meio aos protestos, o Executivo continua gozando de amplo apoio. No sábado, milhares de pessoas marcharam para lembrar do aniversário do fim da revolta de 2009.

Segundo a agência Ilna, ligada aos reformistas, "80 pessoas foram detidas em Arak (centro), e três ou quatro pessoas ficaram feridas" nos confrontos na cidade, no sábado à noite.

Centenas de manifestantes enfrentaram as forças de segurança no sábado à noite no bairro da universidade da capital. No fim, a Polícia dispersou as manifestações.

"Foram causados danos menores nas instalações e nos recursos da prefeitura. Alguns destroem os bens do povo com ações cegas", declarou o prefeito de Teerã, Mohamad Ali Najafi, citado pela agência Isna.

A agência de notícias Mehr publicou no Telegram vários vídeos de manifestantes atacando um prédio da prefeitura de Teerã e virando um carro da Polícia.