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Estado Islâmico ainda é ameaça para o Iraque um mês após 'libertação'

18/01/2018 11h31

Mossul, Iraque, 18 Jan 2018 (AFP) - Apenas um mês depois do governo iraquiano declarar sua vitória sobre o grupo Estado Islâmico (EI), os extremistas ainda estariam dispostos a recuperar zonas do Iraque, especialmente perto da fronteira com a Síria, advertem os especialistas e responsáveis locais.

Ali Al-Bayati, comandante das unidades paramilitares Forças de Mobilização Popular, que lutam junto às forças de segurança iraquianas na esgotante batalha contra o grupo, disse que a região de Nimrud, no norte do Iraque, poderia "cair a qualquer momento porque a segurança ali é frágil".

Em julho, as autoridades de Bagdá anunciaram com toda a pompa a "libertação" de Mossul, a segunda cidade do Iraque, também no norte.

Os combatentes do EI que fugiram de seu antigo reduto e se refugiaram no oeste, no extenso deserto junto à fronteira síria, lançaram vários ataques contra as forças de segurança e os civis desde então, explicou Bayati.

Escondendo-se em vales, barrancos e trincheiras escavadas antes de sua expulsão de Mossul, os extremistas teriam acumulado armas, gasolina, água e comida.

Mais de 4.000 extremistas foram presos na província de Nínive desde a captura de Mossul, segundo o chefe da Polícia, o general Wathiq Al-Hamdani.

Mas Aed Al-Louayizi, do Conselho Provincial de Nínive, afirmou que vários civis foram assaltados ou assassinados dentro da mesma cidade, e que alguns agressores apareciam disfarçados de soldados.

Segundo ele, os ataques foram executados por membros do grupo EI das áreas de Tal Afar e Hatra, duas cidades que no ano passado também foram retomadas das mãos dos extremistas.

Hisham al-Hashemi, um especialista em movimentos extremistas, sustentou que o anúncio do Iraque da vitória militar feito em dezembro "simplesmente significa que a bandeira (preta) do grupo EI já não ondula" nos edifícios do governo.

Para responder à ameaça de uma nova insurgência do EI, "foram realizadas várias operações no sul de Mossul" com o apoio da coalizão liderada pelos Estados Unidos para apreender armas, indicou o porta-voz da coalizão, o coronel Ryan Dillon.

- 'Adormecidos' ativos -Louazi explicou que, "geograficamente, o território foi retomado (...), mas nem todos os extremistas foram presos".

"Sobre segurança, estamos na mesma situação que levou à queda de Mossul" em 2014, que ocorreu depois que os extremistas tomaram algumas áreas, advertiu.

Para tentar evitar erros do passado, Dillon disse que "a coalizão treinou as forças de segurança iraquianas para gerir a transição e futuras ameaças. Sabíamos que haveria uma transição dos combates para a vigilância policial".

As Forças de Mobilização Popular, que patrulham a fronteira com a Síria, asseguram que têm que lidar diariamente com as tentativas de infiltração dos extremistas.

Embora o EI também esteja sendo derrotado militarmente na Síria, surpreendeu os observadores na semana passada ao anunciar que havia retornado ao noroeste do país.

Em Hawiyah (norte do Iraque), ao menos três civis e um combatente das Forças de Mobilização Popular foram abatidos este mês, segundo fontes de segurança.

Além disso, cerca de 60 extremistas morreram em combates em torno de Hawiyah, um dos últimos redutos urbanos do EI reconquistado pelas forças iraquianas, segundo as mesmas fontes.

Na segunda-feira, um duplo atentado suicida em Bagdá custou a vida de 30 pessoas, o que levou o primeiro-ministro Haider Al-Abadi a pedir às forças de segurança que "eliminem as células adormecidas do EI" e protejam os civis.

Mas Hashemi defendeu que a ameaça é mais imediata.

"Este conceito de células adormecidas é um erro. Não estão adormecidas, estão ativas", afirmou. "São capazes de aumentar seus ataques e até tomar o controle de zonas".