Topo

Turquia diz que não cessará campanha na Síria enquanto tensão eleva com EUA

25/01/2018 20h22

Antioquia, Turquia, 25 Jan 2018 (AFP) - O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu nesta quinta-feira (25) que a operação da Turquia contra uma milícia curda no norte da Síria vai continuar quanto tempo for necessário, após a conversa com seu contraparte americano, Donald Trump, não aliviar as tensões com os Estados Unidos.

Com a operação lançada no sábado contra as Unidades de Proteção do Povo (YPG), milícia curda aliada dos Estados Unidos na Otan, o país ataca uma força respaldada por Washington, o que despertou temores de um confronto militar entre as duas potências.

Depois de uma conversa telefônica na noite de quarta-feira entre os presidentes, Donald Trump "pediu que a Turquia reduza e limite suas ações militares" e que evite "qualquer ação que possa provocar um confronto entre as forças turcas e americanas".

Mas Ancara não parece concordar com esta versão, assegurando que "o presidente Trump não expressou preocupação (sobre) a violência crescente" em Afrin, mas evocou "a necessidade de limitar a duração da operação turca", de acordo com fontes oficiais turcas.

Esta situação ilustra as diferenças entre os dois países em relação às YPG.

Ligadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que trava um conflito de guerrilha contra a Turquia desde 1984, as YPG são consideradas uma organização "terrorista" pela Turquia.

Em sua primeira visita às tropas ao sul da região fronteiriça turca de Hatay desde sábado, Erdogan enfatizou nesta quinta-feira que a operação "Ramo de Oliva" "vai continuar até que se alcance resultados".

- Até o leste do Eufrates -Erdogan, citado pela presidência turca, disse que uma vez que a "limpeza de terroristas" termine em Afrin, voltará a entregar a região aos seus "principais residentes".

"A Turquia não está de olho em outro território do país", acrescentou.

"A segunda fase será Manbij", uma região também controlada pelas YPG a leste de Afrin, na qual há presença militar americana, "e, depois disso, o leste do rio Eufrates", indicou Ilnur Cevik, conselheiro do presidente Erdogan.

As autoridades locais de Afrin pediram nesta quinta-feira ao governo sírio que intervenha para impedir que a aviação turca sobrevoe o cantão.

"O Estado sírio (...) deveria fazer frente a esta agressão e declarar que não permitirá aos aviões turcos sobrevoar o espaço aéreo sírio", disse Othman Al Sheij Isa, copresidente do Conselho Executivo do cantão de Afrin.

Pouco antes, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse em uma declaração nesta quinta-feira que a Turquia tem o direito de se defender, mas isso deve ser feito "de forma proporcional e medida".

Washington se apoia nas YPG para lutar contra o grupo Estado Islâmico (EI) e não pretende abandoná-las neste momento em que os extremistas estão sendo derrotados.

Já Ancara conta com o apoio de vários grupos rebeldes sírios, principalmente do movimento islâmico, que acusam as milícias curdas de procurarem dividir a Síria estabelecendo sua própria entidade no norte do país.

A ofensiva desperta preocupações de diversos países. A Alemanha pediu nesta quinta-feira que a Otan abra debates sobre a operação.

o vice-primeiro-ministro turco, Bekir Bozdag, afirmou que se os Estados Unidos quereme "evitar um confronto com a Turquia - o que nem eles nem a Turquia desejam - o caminho a seguir está claro: devem parar de apoiar os terroristas".

- 'Restabelecer a confiança' -Um porta-voz do Pentágono indicou nesta quinta que militares americanos e turcos debatiam a possibilidade de criar uma "zona de segurança" na fronteira turca, mas que, por enquanto, era "apenas uma ideia".

O ministro de Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, havia evocado anteriormente esta opção, fazendo referência a uma zona colchão de 30 quilômetros de profundidade. Mas disse que, antes de debater, era necessário restabelecer a confiança entre Ancara e Washington.

A ofensiva turca está em seu sexto dia, ao mesmo tempo em que uma nova rodada de discussões de paz sobre a Síria começou nesta quinta-feira em Viena.

Desde sábado, mais de 90 combatentes das YPG e dos grupos rebeldes pró-turcos foram mortos, bem como 30 civis, a maioria deles em bombardeios turcos, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Ancara nega ter atacado civis.

O exército turco lamentou três mortos em suas fileiras.