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A não-violência de Gandhi, um desafio na era Trump, segundo seu neto

30/01/2018 12h31

Paris, 30 Jan 2018 (AFP) - Há mais 70 anos, um jovem menino revoltado com o que sofria na África do Sul do apartheid foi enviado para a Índia para morar com seu avô. Dois anos depois, Arun Gandhi, neto de Mahatma, tornou-se um adolescente transformado pelos ensinamentos recebeu.

"Meu avô me ensinou que a raiva é como a eletricidade, é útil e poderosa se usada com inteligência, mas pode ser igualmente fatal e destrutiva se for usada mal", explica ele em uma entrevista com a AFP em Paris na segunda-feira, na véspera do 70º aniversário do assassinato do pai da nação indiana.

Antes deste encontro com Mahatma, Arun Gandhi, que cresceu em um ashram perto de Durban, na África do Sul, era um poço de raiva que brigava constantemente, assediado por brancos e por negros por não pertencer a de nenhuma das duas comunidades.

Mas em contato com seu "Bapuji", seu avô, a criança esqueceu seus sonhos de vingança e aprendeu a dominar suas emoções mais negativas.

Sua chegada na Índia coincidiu com o momento culminante da luta pela independência do país e a divisão sangrenta do Império britânico das Índias em 1947 em uma união indiana hindu de um lado e o Paquistão, de maioria muçulmana, do outro.

Símbolo do conceito de resistência não-violenta por desobediência civil e reverenciado na Índia como o "Mahatma" (Grande Alma), Gandhi foi assassinado por um extremista hindu em 30 de janeiro de 1948.

Ele teria ficado "extremamente infeliz" se testemunhasse o ressurgimento do nacionalismo hindu, sete décadas depois, sob o atual primeiro-ministro Narendra Modi, diz Arun.

"É um círculo muitoo vicioso e isso se agrava com um governo de direta no poder", considera este militante de voz calma.

- 'Tomar os golpes na cabeça' -O que teria pensado Mahatma da tentativa de Modi de vestir suas túnicas, posando "à la Gandhi" para fotos, em frente a uma roca de fiar algodão? Arun, que publicou recentemente um livro sobres os ensinamentos de Gandhi chamado "O poder da raiva", tem sua própria resposta: para ele, Modi "tenta apenas utilizar Gandhi, como todo o mundo, para ser aceito pelo povo".

Aos 84 anos, Arun se lembra de ter sido "intimidado" por seu avô em sua chegada ao ashram de Sevagram, no centro da Índia. "Todas as manhãs, quando me levantava, encontrava centenas de pessoas que o esperavam para vê-lo", relata.

Atencioso, Gandhi se ocupava do garoto, conversava e brincava com ele, entre das negociações com as autoridades indianas.

Arun Gandhi mudou-se para os Estados Unidos em 1987, depois de ter trabalhado como jornalista por 30 anos.

Ele fundou um instituto de promoção da não-violência. Seus alunos encontraram terreno fértil em um local insólito: uma prisão. Seis anos após ter começado suas intervenções na prisão de Groveland (estado de Nova York), a violência caiu 70%, explica, dizendo citar o governo. E este estado deseja ampliar este programa para outras prisões.

Ele lamenta ver alguns líderes mundiais "sem autoridade moral" que se aproveitam das populações, ao contrário de figuras como Nelson Mandela ou Mahatma.

Arun critica também o presidente Donald Trump, que ele acusa de reduzir a nada décadas de avanços em termos de igualdade racial nos Estados Unidos, reprovando ao mesmo tempo os afro-americanos que "exigem respeito com agressividade".

Do mesmo modo, considera as manifestações da Primavera Árabe "cheias de mais de raiva".

Diante da repressão, "você deve manter as mãos longe do corpo e tomar os golpes na cabeça", afirma. Mas mesmo Gandhi teve dificuldades em fazer entender uma tal filosofia.

"O fato é que ninguém quer realmente seguir o exemplo dessas pessoas formidáveis", afirma seu neto. "O melhor que fazem é colocá-lo sob um pedestal e venerá-lo ao invés de seguí-lo".

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