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Republicanos aumentam pressão sobre procurador que investiga conluio russo

31/01/2018 11h52

Washington, 31 Jan 2018 (AFP) - O presidente Donald Trump deve divulgar um memorando secreto do Partido Republicano, o qual alega que o Departamento de Justiça e o FBI agiram acima da lei e com motivações políticas para espioná-lo durante a campanha eleitoral.

Os republicanos parecem ansiosos para ver esse documento de quatro páginas divulgado, e o comitê de Inteligência da Câmara de Representantes já votou a favor nesse sentido. Todos os democratas no comitê se opuseram à divulgação do memorando.

O texto foi escrito pelo representante republicano Devin Nunes, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara e um aliado muito próximo de Trump.

Ao final de seu discurso sobre o Estado da União na terça-feira à noite, Trump foi flagrado pelas câmeras de televisão confirmando a um congressista de seu partido que vai divulgar o texto. "Não se preocupe, 100%", garantiu.

Os democratas alegam que o tal memorando é altamente distorcido e político e tem como objetivo minar a credibilidade do procurador especial Robert Mueller, encarregado da investigação sobre a suspeita de conluio entre a equipe de campanha de Trump e a Rússia na eleição de 2016.

De acordo com matérias da imprensa americana, que citam pessoas que viram o documento, o texto resume como o Departamento de Justiça e o FBI (a Polícia Federal dos EUA) conseguiram obter um mandado da Justiça para monitorar Carter Page, um consultor de campanha de Trump com amplos contatos entre os russos.

Para o líder da maioria na Câmara, Paulo Ryan, há "questões legítimas sobre se as liberdades civis foram violadas" pelo fato de esses órgãos terem atuado no âmbito da FISA, a lei de Vigilância da Inteligência Estrangeira que permite o monitoramento de agentes e potências estrangeiros.

"Pode ter havido má conduta da parte de certos indivíduos no FBI", disse Ryan ontem.

- Rejeição democrata -O memorando alega que o Departamento se baseou em um polêmico e não comprovado "dossiê Rússia" - compilado pelo ex-agente de Inteligência britânico Christopher Steele e financiado, em parte, pela campanha à Presidência da democrata Hillary Clinton - para justificar o pedido de um mandado ao ultrassecreto tribunal que atua nos termos da FISA.

O documento aponta ainda que, depois de Trump se tornar presidente, o mandado foi estendido pelo vice-procurador-geral Rod Rosenstein. Foi ele que indicou Mueller para comandar o escândalo sobre a Rússia, além de ser o único que pode demiti-lo de suas funções.

Rosenstein assumiu a investigação, quando o próprio procurador-geral Jeff Sessions se recusou a fazê-lo - decisão muito criticada por Trump.

A divulgação desse documento baseado em informação altamente sigilosa é rejeitada tanto pelo Departamento de Justiça, quanto pelo FBI. Na mesma linha, os democratas alegam que é impossível divulgá-lo sem, ao mesmo tempo, expor informação confidencial de contra-Inteligência.

Na segunda-feira, o representante democrata Adam Schiff, que também integra o Comitê de Inteligência dessa Casa, denunciou que o órgão "votou para colocar o interesse pessoal - talvez seus próprios interesses políticos - acima do interesse nacional, negando até mesmo a habilidade de ouvir o Departamento [de Justiça] e o FBI".

"Isso, eu acho, é um estado de coisas profundamente lamentável", comentou Schiff.

- 'Extraordinariamente imprudente' -A possibilidade de que esse documento venha à tona surge justamente no momento em que a investigação sobre os vínculos de funcionários de Trump com os russos se aproxima cada vez mais da Casa Branca e em que Mueller pressiona a Presidência para deixá-lo conversar com o magnata nova-iorquino.

Além de conluio, Mueller analisa se o presidente tentou obstruir a investigação em curso.

Para os analistas, o memorando tem dois alvos.

Um é a base republicana, que está pronta para acreditar que a investigação é uma operação politizada conduzida por dois órgãos corruptos e anti-Trump.

O outro é deslegitimar Mueller e minar Rosenstein.

Na avaliação dos democratas, isso ajudaria Trump a substituir Rosenstein, conseguindo alguém que concorde em demitir Mueller.

De acordo com matérias publicadas pelo jornal "The New York Times", cujo conteúdo foi negado pela Casa Branca, ao longo do ano passado, Trump manifestou em privado seu desejo de se livrar tanto de Mueller quanto de Rosenstein.

Mesmo sem terem visto o documento, Rosenstein e o atual diretor do FBI, Christopher Wray, pediram a Paul Ryan para bloquear sua divulgação, afirmando que também poderia liberar informações ultraconfidenciais de contra-Inteligência.

Na semana passada, em carta enviada a Nunes, o Departamento de Justiça disse que sua disseminação seria uma "ação sem precedentes" e "extraordinariamente imprudente".