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O destino de Merkel nas mãos dos militantes socialdemocratas na Alemanha

17/02/2018 14h24

Hamburgo, 17 Fev 2018 (AFP) - O Partido Socialdemocrata Alemão (SPD) lança neste sábado (17) uma campanha para convencer seus membros a aprovarem um governo com a chanceler conservadora Angela Merkel, cinco meses depois das eleições legislativas na primeira economia europeia.

A votação dos cerca de 464.000 afiliados do SPD é vital para a presidente, que ganhou as eleições de 24 de setembro, mas não obteve maioria clara no Parlamento.

"Estou convencida de que os bons argumentos convencem", afirmou Andrea Nahles, que, salvo alguma surpresa, será no final de abril a primeira mulher a dirigir o partido.

Ela está em Hamburgo para uma série de conferências para defender a nova grande coalizão ("GroKo") diante das bases da sigla.

A consulta, que começa na terça-feira (20), chega em um momento complicado para o partido mais antigo da Alemanha, o qual não para de cair nas pesquisas.

- Erros -"É incontestável que todos cometemos erros nesses últimos meses e que provocaram críticas da base", admitiu Nahles, em entrevista à revista "Der Spiegel".

"Reagimos a essas críticas", garantiu.

"Não posso constatar que a base tenha ficado insatisfeita", acrescentou.

Uma pesquisa da televisão pública ARD atribui ao SPD 16% das intenções de voto, apenas um ponto à frente do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Em setembro, os socialdemocratas haviam conseguido 20,5% dos votos, seu piso histórico.

Os resultados da votação do SPD serão conhecidos em 4 de março.

Se os militantes aprovarem um governo de coalizão com os conservadores, Merkel - há mais de 12 anos no comando do país - poderá iniciar seu quarto mandato.

Caso contrário, o contrato de coalizão firmado por conservadores e socialdemocratas após extenuantes negociações será letra morta, e a Alemanha se dirigirá, muito provavelmente, para eleições antecipadas. E, delas, o AfD pode ser um dos beneficiados.

- Guerra de líderes - A missão de Andrea Nahles também consistirá em restabelecer a calma depois dos ajustes de contas entre dirigentes e que provocaram, na última terça-feira, a renúncia do presidente do partido, Martin Schulz.

"As velhas lutas de poder entre os homens prejudicaram o partido", criticou Manuela Schwesig, uma vice-presidente do partido, em entrevista ao jornal "Schweriner Volkszeitung".

"Nós, mulheres, vamos agir de outra forma", prometeu.

Recebido como um salvador há apenas um ano, Schulz, que durante meses esteve perto de Merkel nas pesquisas, levou o partido para uma derrota histórica nas legislativas, marcadas pela ascensão do AfD.

Depois de proclamarem que preferiam regenerar o partido na oposição, os dirigentes socialdemocratas mudaram de ideia, após o fracasso em novembro das negociações entre conservadores, liberais e Verdes para formar governo.

O giro não caiu bem para a militância. Muitos consideram que o partido se afastou de suas raízes de esquerda e perdeu a confiança do eleitorado.

A gota d'água foi a vontade de Schulz de ocupar o Ministério das Relações Exteriores no futuro governo, embora tenha jurado que nunca entraria em um Executivo com Merkel.

Nahles quer se concentrar no conteúdo do contrato de coalizão que, segundo ela, tem uma forte "digital socialdemocrata".

O SPD conseguiu, de fato, várias concessões em matéria de saúde, ou de emprego, além de seis ministérios, incluindo o das Relações Exteriores e o das Finanças. Este último foi durante anos "propriedade" dos conservadores.

Apesar das dificuldades, uma sondagem do Instituto Kantar Emnid divulgada na sexta-feira revela um dado animador para os dirigentes socialdemocratas: dois terços de seus simpatizantes se mostram a favor de uma coalizão com os conservadores.

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