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Os elefantes de hoje não se misturam como as espécies antigas

26/02/2018 20h40

Miami, 26 Fev 2018 (AFP) - As espécies antigas de elefantes e mamutes se cruzavam, trocando genes que os ajudaram a se adaptar a novos habitats e climas, uma prática que se perdeu entre os elefantes modernos, disseram pesquisadores nesta segunda-feira.

Hoje, os dois tipos de elefantes vivos na África - da savana e da floresta - são de fato espécies diferentes, mas os pesquisadores não encontraram evidências recentes de que eles acasalem entre si.

O estudo oferece o primeiro olhar abrangente sobre o genoma de mamutes e mastodontes e seus primos elefantes, uma vez abundantes na Terra, mas hoje em declínio por causa da caça proibida, que mata 50 mil exemplares por ano.

"A miscigenação pode ajudar a explicar por que os mamutes foram tão bem-sucedidos em ambientes tão diversos e por tanto tempo", disse o autor sênior Hendrik Poinar, um geneticista evolutivo da Universidade McMaster.

"Esses dados genômicos também nos dizem que a biologia é bagunçada e que a evolução não ocorre de forma organizada e linear".

Muitas outras espécies relacionadas são conhecidas por cruzarem entre si, incluindo os ursos pardos e polares e os orangotangos de Sumatra e Bornéu.

Mas a forma como isso aconteceu entre os elefantes - que surgiram há entre cinco e 10 milhões de anos na África e que já estiveram entre os grandes animais mais difundidos na Terra - não estava clara até agora.

Para o estudo, pesquisadores internacionais sequenciaram 14 genomas, incluindo os de dois mastodontes americanos, um elefante de presas retas de 120 mil anos de idade, um mamute colombiano e indivíduos de populações de elefantes modernos na África e na Ásia.

Um dos elefantes extintos que há muito intrigava especialistas era o elefante de presas retas, que tradicionalmente era agrupado com os elefantes asiáticos atuais porque a forma do crânio e o tamanho dos dentes eram semelhantes.

Mas o estudo descobriu que os elefantes de presas retas eram na verdade "um híbrido com porções de sua composição genética provenientes de um antigo elefante africano, do mamute lanoso e os elefantes da floresta atuais", revela o trabalho publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

"As descobertas foram extremamente surpreendentes para nós", disse Eleftheria Palkopoulou, cientista na Universidade de Harvard.

"As relações na população de elefantes não podiam ser explicadas por divisões simples, fornecendo pistas para entender a evolução dessas espécies icônicas", acrescentou.

Os estudos do genoma "revelaram múltiplos grandes eventos de cruzamentos entre diferentes espécies antigas, destacando como isso desempenhou um papel fundamental na evolução do elefante", afirmou o estudo.

Mas eles não mostraram evidências genéticas de cruzamento entre os elefantes africanos da floresta e da savana, "sugerindo que eles viveram em isolamento quase completo nos últimos 500 mil anos, apesar de viverem em habitats vizinhos".

O coautor sênior David Reich, de Harvard, disse que o estudo mostra que os elefantes africanos da savana e da floresta "estiveram isolados por longos períodos de tempo - tornando cada um digno de um estado de conservação independente".