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Depoimentos de ex-chefe da Odebrecht ameaçam Humala e Keiko Fujimori

28/02/2018 21h43

Lima, 1 Mar 2018 (AFP) - Os depoimentos entregues a procuradores peruanos no Brasil pelo ex-chefe da empreiteira Odebrecht no Peru, Jorge Barata, ameaçam complicar o ex-presidente Ollanta Humala e a líder opositora Keiko Fujimori.

Durante um interrogatório feito pelo procurador peruano Germán Juárez em São Paulo, Barata ratificou na terça-feira que entregou cerca de três milhões de dólares a Humala para a campanha eleitoral que o levou ao poder em 2011. Basicamente reiterou algo que havia declarado em dezembro de 2016.

"A situação de Humala se complica porque não tem uma força que o respalde", disse à AFP o analista político Luis Benavente, diretor da consultora Vox Populi.

Outro procurador peruano, José Domingo Pérez, interrogou nesta quarta-feira (28) Barata sobre contribuições ilegais a Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori e líder do partido Força Popular (direita populista), a maior força política do Peru.

Coincidindo com os interrogatórios de Barata no Brasil, o presidente Pedro Pablo Kuczynski negou nesta quarta ter recebido dinheiro do ex-chefe da Odebrecht no Peru.

"Eu, Pedro Pablo Kuczynski, jamais recebi uma doação do senhor Barata. Eu não recebi nenhum financiamento de tal fonte para minhas campanhas presidenciais", escreveu no Twitter.

Keiko Fujimori reafirmou nesta quarta-feira, em entrevista coletiva, que jamais recebeu dinheiro da empreiteira.

"Quero ratificar a vocês o que disse muitas vezes: não recebi dinheiro de Marcelo Odebrecht, nem de sua empresa e que fique bem claro que tampouco do senhor Jorge Barata".

"O senhor Barata assinalou que nunca lhe solicitei dinheiro, que nunca me entregou dinheiro e que nunca falou de apoio econômico algum comigo. Espero que, depois destas declarações, a investigação contra a minha pessoa seja arquivada de uma vez por todas".

- 'Entorpeciam a investigação' -Humala (2011-2016) e sua esposa, Nadine Heredia, estão em prisão preventiva há sete meses acusados de receberem cerca de três milhões de dólares da Odebrecht na campanha de 2011, e sua situação vai se complicar com o depoimento de Barata, consideram advogados.

"A Procuradoria já contaria com todos os elementos para realizar a acusação formal" contra Humala e sua esposa, declarou o ex-procurador Avelino Guillén ao jornal El Comercio. "Com o que foi dito pelo ex-CEO da Odebrecht no Peru o cerco se fecha" em volta deles.

"Atribuem a Ollanta Humala e Nadine Heredia a lavagem de dinheiro porque a quantia recebida (...) teria origem ilícita: o famoso Caixa 2 (da Odebrecht). Entretanto, o Ministério Público também poderia avaliar uma acusação por associação criminosa", declarou o ex-procurador Luis Vargas Valdivia também ao El Comercio.

"A declaração (de Barata) poderia confirmar que Humala e Heredia entorpeciam a investigação por meio de mentiras", acrescentou.

Em uma tentativa de recuperar a liberdade, Humala e sua esposa apresentaram um recurso de amparo que deve ser analisado pelo Tribunal Constitucional nos próximos dias.

- Colaboração de Barata -Os procuradores não revelaram o conteúdo do depoimento desta quarta-feira, mas El Comercio publicou em seu site que "Barata detalhou que a Odebrecht contribuiu com US$ 1.200.000 à campanha presidencial de Keiko Fujimori em 2011".

Na segunda-feira, um tribunal peruano negou o pedido de Keiko e de seu marido, Mark Vito, para que a Procuradoria fechasse a investigação contra eles. Assim como Humala e sua esposa, enfrentam acusações por lavagem de dinheiro, que após o depoimento de Barata poderiam ser ampliadas.

Keiko também enfrenta problemas em seu partido: 13 legisladores, liderados por seu irmão Kenji Fujimori, renunciaram ou foram marginalizados este ano, fazendo com que o Força Popular perdesse a maioria absoluta que tinha no Congresso.

- Marcelo Odebrecht: 'apoiamos todos' -O escândalo da Odebrecht atingiu também o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006). A Suprema Corte peruana resolverá na segunda-feira se autorizará sua extradição dos Estados Unidos.

A Procuradoria acusa Toledo de ter recebido 20 milhões de dólares em propinas da Odebrecht para conceder a construção de uma estrada na Amazônia.

Em novembro, o empresário Marcelo Odebrecht declarou que sua empresa apoiou vários políticos peruanos em suas campanhas, segundo um áudio publicado pelo site de investigações IDL-Reporteros.

"Com certeza apoiamos todos. Toledo, Alan García, Humala, Keiko", afirmou então Marcelo Odebrecht, que optou por colaborar com a Justiça brasileira, assim como Barata e outros executivos da empresa.

Keiko e os ex-presidentes peruanos negam ter recebido doações da Odebrecht.

"De todos os investigados no caso o único dos ex-presidentes que está em prisão preventiva é Humala porque, de alguma forma, é o mais fraco (politicamente)", declarou o analista Benavente.