O sonho de salvar o mar Morto com água do mar Vermelho mais perto do que nunca
Ghor al-Haditha, Jordania, 18 Mar 2018 (AFP) - Utilizar a água do mar Vermelho para evitar que o mar Morto seque e, ao mesmo tempo, produzir água potável? O ambicioso projeto "Canal da Paz", lançado pela Jordânia, Israel e os palestinos, está mais próximo do que nunca.
"Somente o mar pode encher o mar", afirma Musa Salim al Athem, que vem arar sua plantação de tomate nas margens do mar Morto. Nascido em 1953, este agricultor jordaniano viu como as águas azuis recuaram ao longo dos anos, deixando uma paisagem lunar de crateras e esculturas naturais de sal.
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"Antes de 1967, a água estava a dez minutos a pé da minha casa, agora, está a uma hora de distância", conta.
O mar Morto, com águas altamente salgadas e cercado por montanhas de cor ocre, pode desaparecer. Desde 1960, perdeu um terço de sua área e seu nível continua a cair um metro por ano.
Os culpados são a exploração intensiva do potássio, que acelera a sua evaporação, mas sobretudo a diminuição do fluxo do rio Jordão, cada vez mais explorado por Jordânia e Israel.
"Desde 1950, o fluxo do Jordão caiu de 1,2 bilhão de metros cúbicos para menos de 200 milhões", explica Frédéric Maurel, engenheiro da Agência Francesa para o Desenvolvimento (AFD).
Um desastre para o mar Morto e seus ribeirinhos jordanianos, israelenses e palestinos.
O sonho de Theodor Herzl
Com sua lama de propriedades medicinais, sua salinidade excepcional, suas reservas de potássio e seu atrativo turístico, "o mar Morto (...) é um tesouro inestimável", afirma Avner Adin, especialista israelense.
Não faltaram ideias para evitar o seu desaparecimento. Em 1900, o pai fundador do sionismo Theodor Herzl já havia imaginado um canal que o alimentaria a partir do Mediterrâneo.
Mas, finalmente, foi escolhido um projeto de aqueduto que começará no Mar Vermelho e que será construído inteiramente no território jordaniano, em colaboração entre israelenses, jordanianos e palestinos.
O projeto, assinado em 2013, prevê a extração de 300 milhões de metros cúbicos de água que serão dessalinizados em Aqaba, no sul da Jordânia, para obter água potável, escassa na região. Os resíduos originados pela dessalinização serão transferidos para o mar Morto, 200 km mais ao norte, através de um aqueduto.
Isso não será suficiente para estabilizar os níveis do mar Morto, mas será um começo para parar o seu desaparecimento, aponta Frédéric Maurel, responsável pelo projeto para a AFD. "Mas também seria necessário usar menos água, tanto na agricultura como na indústria de potássio", adverte.
Este plano foi concluído em fevereiro de 2015 com um acordo israelense-jordaniano que prevê vendas de água recíprocas. A Jordânia forneceria água potável para o sul de Israel, enquanto o norte da Jordânia receberia água do lago Tiberíades em troca.
'Último empurrão'
A questão do financiamento desta parceria público-privada, estimada em US$ 1 bilhão, dos quais US$ 400 milhões de fundos públicos, permanece pendente.
Vários países, incluindo os Estados Unidos e o Japão, prometeram uma doação de US$ 120 milhões. A AFD criou um grupo europeu de doadores (Espanha, França, Itália, União Europeia e Banco Europeu de Investimento) disposto a conceder à Jordânia US$ 140 milhões em créditos a juros baixos.
"Nunca antes estivemos tão perto de sua concretização, falta apenas um último empurrão", diz Maurel.
Para uma fonte diplomática em Amã, "este projeto é fundamental para os países da região", embora "isso dependa muito da diplomacia".
Por exemplo, em julho passado, as discussões foram completamente congeladas após a morte de dois jordanianos nas mãos de um agente de segurança israelense na embaixada de Israel em Amã. Foram retomadas apenas algumas semanas atrás, depois que Israel pediu desculpas em janeiro.
Mas para Avner Adin, o principal obstáculo poderia ser financeiro. Israel, que deve contribuir com US$ 140 milhões, ainda não confirmou seu compromisso.
Amã está determinado a avançar, com ou sem Israel. Este país, que está entre os cinco mais áridos do mundo, também está sob forte pressão que fez aumentar suas necessidades de água, já que desde 2011 acolhe quase um milhão de refugiados sírios, 15% de sua população.
"É uma questão de segurança nacional", explica o secretário-geral da autoridade jordaniana da água, Iyad Dahiyat.
"Nossa água subterrânea é superexplorada, a dessalinização da água é o futuro da Jordânia, para nós este projeto é essencial", ressalta.
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