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Engenheiro austero, Vizcarra é convocado a presidir o Peru

22/03/2018 17h33

Lima, 22 Mar 2018 (AFP) - Pragmático, austero e sem vínculos com a elite empresarial ou partidos políticos tradicionais, o primeiro vice-presidente do Peru, Martín Vizcarra, é considerado um tecnocrata político, uma mistura inusual no contexto peruano.

Seu perfil é, paradoxalmente, sua maior fortaleza em um país em que a classe política está completamente desprestigiada por escândalos de corrupção.

"Estou indignado pela situação atual, como a maioria dos peruanos. Mas tenho a convicção de que juntos demonstraremos mais uma vez que podemos seguir em frente", disse em um tuíte na noite desta quarta-feira, com o qual rompeu o silêncio de quase 20 dias, após a renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski por seus laços com a Odebrecht.

Atual embaixador Peru no Canadá e primeiro vice-presidente da República, Vizcarra, que completa nesta quinta-feira 55 anos, volta ao Peru esta noite para assumir na sexta-feira a presidência do Peru. Ele completará assim o mandato - de cinco anos - de Kuczynski até julho de 2021, ano do bicentenário da independência peruana.

A hashtag "#OPeruprimeiro" que acompanhou seus tuítes de quarta-feira, resume o pedido que os peruanos lhe fazem para que assuma a presidência.

"É muito mais cuidados na administração de sua imagem" e "muito mais situado politicamente", estima o analista Fernando Tuesta, comparando-o com Kuczynski.

Vizcarra foi ministro de Transportes e Comunicações entre junho de 2016 e maio de 2017, quando renunciou para evitar ser destituído pelo Congresso, dominado pelo partido Força Popular (direita populista), liderado por Keiko Fujimori.

Quando era ministro surpreendeu mais de uma vez ao almoçar com funcionários no refeitório do ministério.

Quem o conhece ressalta sua simplicidade e garante que ele é um gestor meticuloso, cuidadoso com o gasto público e convencido de que o desenvolvimento começa com a educação.

- "Sensibilidade social" -Sua primeira incursão na política remonta a 2011, quando foi eleito governador de Moquegua (2011-2014), uma região mineradora do sul do Peru marcada por desigualdades. Uma de suas principais conquistas foi torná-la uma das regiões com maior investimento do PIB em educação.

Nasceu em Lima em 1963 em uma emergência médica sua mãe. Retornou a Moquegua, onde foi criado.

Ali aprendeu de política observando seu pai, um dirigente e prefeito dessa cidade pelo partido social-democrata APRA, do ex-presidente Alan García.

"Meu pai influenciou bastante a minha sensibilidade social. Se eu a tenho, devo ao meu pai", disse Vizcarra em uma entrevista.

Vizcarra tinha 18 anos, quando lhe disseram que o normal é que os filhos superem seus pais e que em seu caso ele só poderia superar seu progenitor sendo presidente, segundo uma reportagem do semanário Somos publicado em 2016.

Sua incursão na política se remonta a 2008, quando liderou em Moquegua um protesto durante dez dias contra a mineradora Southern (do grupo México), pedindo uma melhor distribuição dos fundos sociais gerados pela mineração para sua região.

Foi assim que o egresso da Universidade Nacional de Engenharia, em Lima, que ganhava a vida com sua construtora, saiu do anonimato.

Em 2016 Kuczynski o convidou para ser candidato à primeira vice-presidência para atrair o voto das regiões do sul peruano. Vizcarra aceitou após recusar propostas do APRA e da fujimorista Força Popular, segundo pessoas próximas.

Casado com Maribel Díaz, uma professora da escola de Moquegua, ele tem quatro filhos.