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Justiça birmanesa mantém jornalistas da Reuters na prisão

11/04/2018 06h44

Yangon, 11 Abr 2018 (AFP) - Apesar das pressões internacionais, a justiça de Mianmar manteve as acusações contra dois jornalistas da agência de notícias Reuters detidos há quatro meses por "violação de segredos de Estado" quando investigavam um massacre de muçulmanos rohingyas.

"O tribunal decidiu rejeitar o recurso da defesa para libertar os acusados", anunciou o juiz Ye Lwin durante a audiência celebrada em Yangum assistida por centenas de jornalistas e diplomatas.

"Após ter escutado as testemunhas, o tribunal avaliou que os relatos têm fundamento", destacou o juiz, rebatendo os argumentos da defesa.

Wa Lone, que completou 32 anos nesta quarta-feira, e Kyaw Soe Oo, 27, são acusados pela polícia de possuir documentos relacionados às operações das forças de segurança no estado de Rakhine (oeste), onde o exército organizou uma campanha de repressão contra a minoria rohingya.

Os dois jornalistas foram denunciados por atentar contra os "segredos de Estado" durante suas investigações e correm o risco de ser condenados a até 14 anos de prisão.

"Pergunto ao governo: Onde está a verdade? Onde está a justiça? Onde estão a democracia e a liberdade?", questionou Wa Lone antes de ser levado de volta à prisão.

"Os que cometeram o massacre de Inn Din foram condenados a 10 anos de prisão. Por querer verificar a informação podemos ser condenados a 14 anos de prisão", completou.

Fora do tribunal, parentes dos jornalistas não conseguiram conter as lágrimas. A esposa de Kyaw Soe Oo compareceu com a filha do casal.

Na terça-feira, o exército birmanês anunciou que sete militares foram condenados a 10 anos de prisão pelo massacre de rohingyas na localidade de Inn Dinn, objeto da investigação dos jornalistas.

O julgamento secreto dos militares não tem precedentes desde o início da crise que provocou a fuga de 700.000 muçulmanos rohingyas do oeste de Mianmar para Bangladesh.

Os rohingyas tentavam escapar de uma operação do exército birmanês qualificada de "limpeza étnica" pela ONU.

O exército admitiu que os militares cometeram execuções "extrajudiciais".

Pouco depois da detenção dos jornalistas em dezembro de 2017, o exército reconheceu que soldados e civis budistas mataram prisioneiros no dia 2 de setembro.

"Por quê os dois jornalistas continuam na prisão se sua investigação estava correta?", questionou o advogado Than Zaw Aung.

Os repórteres conseguiram fotos das mortes de 10 moradores de Inn Dinn.

Os rohingyas, muçulmanos, são alvos de um forte movimento budista em Mianmar que os considera uma ameaça para o predomínio de sua religião no país.

O governo civil da vencedora do Nobel da Paz Aung San Suu Kyi parece ser refém do ódio anti-rohingya estimulado durante décadas pela junta militar birmanesa.

Sob pressão internacional desde agosto de 2017, quando começou a crise dos rohingyas, o governo civil birmanês é acusado de atentar contra a liberdade de imprensa.

A ONU e vários governos pediram a libertação dos jornalistas.

A advogada Amal Clooney, casada com o ator americano George Clooney, integra a equipe de defesa dos jornalistas, mas não estava presente na audiência desta quarta-feira.

A próxima audiência acontecerá no dia 20 de abril.