Topo

Israel celebra seus 70 anos diante de desafios regionais e domésticos

18/04/2018 19h42

Jerusalém, 18 Abr 2018 (AFP) - Israel se prepara para festejar seu 70º aniversário, exibindo sua potência militar e seu improvável sucesso econômico frente às ameaças regionais renovadas e às incertezas domésticas.

Depois do recolhimento, desde terça-feira, em memória de seus compatriotas mortos a serviço do país, ou em atentados, os israelenses se dedicam até a noite de quinta-feira às celebrações que marcam a criação de seu Estado proclamado em 14 de maio de 1948. A data é festejada agora em função do calendário hebraico.

Em uma cerimônia em Jerusalém, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, elogiou o que chamou de "verdadeiras sementes da paz" que, segundo ele, começaram a crescer em alguns países árabes.

Netanyahu não deu detalhes, mas ultimamente houve sinais de aproximação, especialmente com Riad, enquanto Israel como o reino saudita vêem no Irã uma grave ameaça.

O governo costuma agitar o fantasma de um ataque do Irã, seu rival na região.

Em meio aos preparativos, Israel vive sob o espectro de um ataque do Irã, seu inimigo ferrenho.

O medo de um atentado, nos moldes da ofensiva surpresa de uma coalizão árabe durante as celebrações do Yom Kippour (Dia do Perdão) em 1973, foi aventado após um ataque lançado em 9 de abril contra uma base aérea na Síria. O governo Bashar al-Assad e seus aliados Rússia e Irã responsabilizam Israel pelo ataque.

"O ataque do regime sionista na Síria não ficará sem resposta", declarou Ali Akbar Velayati, conselheiro do guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, depois que sete iranianos morreram no episódio.

Desde o início da guerra na Síria, em 2011, dezenas de ataques remotos a esse país têm sido atribuídos a Israel, que não confirma, mas também não nega sua autoria.

Esses atos têm como alvo posições sírias e arsenais do Hezbollah libanês, grupo que também atua militarmente no conflito ao lado de Assad, assim como Moscou e Teerã.

- Os 'conselhos' de Lieberman -Em fevereiro, Israel admitiu pela primeira vez ter atingido alvos iranianos, após a intrusão de um "drone" do inimigo em seu espaço aéreo. Foi a primeira confrontação abertamente declarada entre Israel e Irã na Síria.

Israel insiste em que não permitirá a Teerã se entranhar militarmente na Síria.

Nesta quarta-feira (18), jornais israelenses publicavam matérias sobre elementos específicos da presença, na Síria, dos Guarda Revolucionária, unidade de elite iraniana.

A publicação combinada de imagens de satélite de bases aéreas e de aparelhos civis suspeitos de conterem armas, assim como mapas e até nomes de autoridades militares iranianas, representa um alerta, de acordo com analistas militares: Israel sabe onde e quem retaliar, se necessário.

Por precaução, o Exército decidiu não enviar caças F-15 para as manobras previstas para acontecerem em maio nos Estados Unidos.

Sem evocar uma ameaça iraniana imediata, o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, advertiu: "não procuramos problema", mas "aconselho nossos vizinhos ao norte (Líbano e Síria) e ao sul (Faixa de Gaza) a levarem seriamente em consideração" a determinação de autodefesa de Israel.

"Com a ajuda de Deus, esse Estado continuará a existir por 7.000 anos. Os que querem nos matar não vencerão", frisou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

- A busca de um lar -Para Israel, o festejo por seu 70º aniversário é a data para - nas palavras de Netanyahu - "construir o escudo e pegar a espada em mãos", celebrar o "milagre" de sua existência, sua força militar, a prosperidade da "nação start-up" e seu modelo democrático.

Com mais de 8,8 milhões de habitantes, a população se decuplicou desde 1948, segundo estatísticas oficiais. O crescimento atingiu 4,1% no quarto trimestre de 2017, e o país reivindica uma dúzia de Prêmios Nobel.

Israel registra, porém, os maiores índices de desigualdade entre os países desenvolvidos, e o futuro de seu premiê, envolvido em escândalos de corrupção, é incerto.

Para além de Egito e Jordânia e apesar dos sinais de convergência, Israel nunca estabeleceu a paz com seus vizinhos árabes. Uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos nunca pareceu tão distante.

O aniversário de Israel coincide com "a Marcha do Retorno", um movimento organizado desde 30 de março na Faixa de Gaza,território palestino sujeito do bloco israelense. Após quase três semanas de episódios violentos ao longo da fronteira que deixaram 34 palestinos mortos, novas manifestações são esperadas para esta sexta (20).

O Ministério israelense da Defesa anunciou que um "potente artefato explosivo", aparentemente destinado a um atentado a ser cometido durante as festas israelenses, foi descoberto em um caminhão palestino interceptado em um ponto de passagem entre a Cisjordânia ocupada e Israel.

"Israel foi estabelecida para que o povo judeu, que nunca se sentiu em casa em parte alguma do mundo, tenha, enfim, um lar", declarou o escritor David Grossman, em uma cerimônia na terça à noite em uma Tel-Aviv agitada pelos militantes de direita que protestam contra a presença de famílias palestinas.

"Hoje, após 70 anos de conquistas impressionantes em tantas áreas, Israel, com toda sua força, é, talvez, uma fortaleza. Mas ainda não é um lar. Os israelenses nunca terão um lar, enquanto os palestinos não tiverem o seu", vaticinou.

jlr-lal/tp/tt