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León, bastião histórico do sandinismo, pede mudanças a Ortega

24/04/2018 22h33

León, Nicarágua, 25 Abr 2018 (AFP) - A cidade de León, um dos maiores bastiões da esquerda sandinista na Nicarágua, conhecida por suas batalhas contra a ditadura 'somozista', agora diz ao governo de Daniel Ortega que se cansou da repressão e do autoritarismo.

"Acredito que León se cansou, é possível que sejamos sandinistas, mas não 'danielistas'. O povo se cansou de ser reprimido e de ser intimidado", disse à AFP Eliza Rodríguez, uma colaboradora do albergue San Vicente, onde foram socorridos manifestantes feridos nos confrontos com a polícia de choque durante os protestos da última semana.

"Acredito que toda a Nicarágua, e não apenas León, quer a saída (de Ortega e da vice-presidente Rosario Murillo). É o meu povo que está morrendo e isto não pode continuar", declara a mulher sobre os 27 mortos e dezenas de feridos na repressão aos protestos.

As manifestações começaram na semana passada, após um pacote de reformas da Previdência que elevou as contribuições de patrões e empregados e reduziu o valor das aposentadorias.

"É preciso uma mudança total, que haja mais liberdade de expressão, mais apoio das autoridades ao povo e não que as autoridades prejudiquem o povo", disse Carlos Gutiérrez, um pedreiro de 26 anos, enquanto observa o centro universitário da cidade queimado durante os distúrbios.

"Queremos mudança e, se possível, que partam", declarou María del Socorro Pérez, 32 anos, para quem no país "não há liberdade de expressão e todas as instituições estão partidarizadas".

León, que tem sido governada pela Frente Sandinista desde a vitória da revolução, em 1979, conserva as ruas estreitas e as casas de paredes altas da arquitetura herdada da colonização espanhola, que testemunharam grandes batalhas pela independência e a luta contra a ditadura da família Somoza, que governou a Nicarágua de 1936 a 1979.

No bairro de Posada del Sol de León, os moradores lembram como na noite de sexta-feira um grupo de jovens queimou a rádio opositora Darío para evitar que transmitisse as manifestações contra o governo.

"A ideia era acabar com a rádio que se caracteriza pela liberdade de expressão", disse à AFP o jornalista Lester Hernández, que conseguiu escapar do incêndio por uma janela, como as demais treze pessoas que estavam no local.

"É uma situação terrível que o país vive. Acredito que chegou a hora de mudar", declarou Hernández diante dos escombros da rádio.

"Ortega é como Somoza, são a mesma coisa", resumiu o ex-guerrilheiro sandinista Sergio Medrano, de 59 anos, que lutou contra a antiga ditadura "por uma vida melhor e para viver em liberdade".