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RSF alerta para aumento do ódio contra jornalistas

25/04/2018 15h08

Paris, 25 Abr 2018 (AFP) -









Existe um clima de ódio em relação aos jornalistas cada vez mais pronunciado no mundo, alerta a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em seu relatório anual publicado nesta quarta-feira (25), no qual vários países latino-americanos seguem figurando entre os mais perigosos para se exercer o Jornalismo.

"A hostilidade diante dos meios de comunicação, alentada por certos dirigentes políticos, e o desejo dos regimes autoritários de exportar sua visão do Jornalismo ameaçam as democracias", assinala a ONG em sua Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2018.

Além dos países "autoritários como Turquia e Egito, que caíram na 'mídiafobia', a ponto de acusar de 'terrorismo' vários jornalistas e deter de forma arbitrária os que não lhes são leais, cada vez mais chefes de Estado eleitos democraticamente (...) veem a imprensa como um adversário", destaca a ONG sediada em Paris.

Assim, os Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump qualifica os jornalistas de "inimigos do povo", retrocedeu duas posições na lista de 180 países, situando-se na 45ª posição, atrás de Espanha e Chile.

As Filipinas, onde o presidente Rodrigo Duterte "costuma insultar e ameaçar os meios de comunicação", caiu seis posições (133º), enquanto a Índia, onde "os discursos de ódio contra jornalistas são amplamente divulgados nas redes sociais (...) pagos pelo premier Narendra Modi", recuou duas posições (138º).

- 'Excessos autoritários' na Venezuela -No continente americano, a organização mostra um "ligeiro progresso", embora em muitos países latino-americanos persistam problemas como a impunidade, a violência contra os jornalistas e as políticas autoritárias frente à imprensa, enumera a RSF.

A Venezuela (143º), onde, segundo a ONG, o governo do presidente Nicolás Maduro "segue se distinguindo por seus excessos autoritários", sofreu a maior queda do continente, recuando seis posições.

"Nicolás Maduro se empenha em calar a imprensa independente e segue controlando a informação", disse à AFP o diretor para a América Latina da Repórteres Sem Fronteiras, Emmanuel Colombié.

"Em 2017, a RSF registrou um número recorde de prisões arbitrárias, de atos de violência contra jornalistas, por exemplo, por parte das forças da ordem e dos serviços de inteligência venezuelanos durante as manifestações", declarou Colombié.

Para a RSF, ao impedir o trabalho dos jornalistas, o governo de Maduro "busca encobrir a magnitude da grave crise política que sacode o país".

Cuba, onde o "regime castrista monopoliza quase por completo a informação", continua sendo o país pior colocado no continente (172º); enquanto a Costa Rica, que tem uma "sólida base legal em matéria de liberdade de informação", ocupa a melhor posição (10º).

- México, segundo mais fatal depois da Síria -









O México, onde 11 jornalistas foram mortos no ano passado, se tornou o segundo país mais fatal para a imprensa em 2017, destaca a RSF.

"Se os jornalistas cobrem temas ligados à corrupção das autoridades, especialmente a nível local, ou ao crime organizado, sofrem intimidações, agressões e até podem ser assassinados a sangue frio", afirma Colombié.

A Colômbia, apesar da "esperança" gerada pelos acordos de paz entre o governo e as Farc, continua como um dos países mais perigosos do continente para os jornalistas.

A RSF, por sua vez, comemora os avanços no Brasil, onde as agressões à imprensa diminuíram ligeiramente, e no Equador, "onde a eleição do presidente Lenín Moreno permitiu acalmar as tensões entre o governo e muitos meios de comunicação".

A classificação, não obstante, não leva em conta o recente assassinato de dois jornalistas equatorianos na fronteira com a Colômbia, o primeiro homicídio de uma equipe de imprensa nesse país.

No continente europeu, que é a zona geográfica onde a liberdade de imprensa se encontra menos ameaçada, também se multiplicaram os casos de "violência verbal" de líderes políticos contra a imprensa, denuncia a RSF.

Dos cinco países que experimentaram as maiores quedas na classificação, quatro são europeus: Malta (65º, caiu 18 posições), República Tcheca (34º, caiu 11), Sérvia (76º, caiu 10) e Eslováquia (27º, caiu 10).

Noruega e Coreia do Norte mantêm, respectivamente, o primeiro e último lugares do termômetro.