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Sindicatos europeus perdem força, mas são essenciais para o trabalhador

30/04/2018 08h50

Paris, 30 Abr 2018 (AFP) -

Diante do aumento do desemprego e do individualismo, os sindicatos estão perdendo terreno na Europa, mas continuam sendo a principal arma contra as desigualdades salariais.

"É errado pensar que os sindicatos pertencem ao velho mundo!", declara otimista Thiébault Weber, da Confederação Europeia de Sindicatos (CES).

Os sindicatos são "necessários", sobretudo no que se refere à distribuição da riqueza, à redução das desigualdades e às condições de trabalho, enumera este sindicalista.

No entanto, o sindicalismo europeu deve enfrentar um "grande desafio": defender o "sistema de proteção social" que ajudou a construir, mas "sem uma base como a que tinha antes".

A erosão dos sindicatos começou na década de 1980. A taxa de sindicalização na França, na Holanda, na Irlanda, no Reino Unido e na Suíça caiu em mais de um terço, segundo a OCDE.

Economistas e pesquisadores explicam o fenômeno mencionando o auge do trabalho autônomo, do individualismo, do desemprego e da precarização do trabalho. O instituto de pesquisa econômica e social (Ireso) explica também pelo "enfraquecimento das relações com os partidos políticos" e "uma diminuição dos recursos" financeiros.

No entanto, DGB (Alemanha), CGT (França), CGIL (Itália), TUC (Reino Unido) e LOS (Suécia) continuam sendo "organizações de massa", muitas das quais têm mais membros do que alguns partidos políticos, lembra Weber.

Na Europa, a taxa de sindicalização é muito variável e dificilmente comparável já que os sistemas são diferentes. Beira os 10% na França e na Polônia, 20% na Alemanha e na Espanha, e chega perto dos 70% na Suécia e na Finlândia.

Em geral, a força do sindicalismo tem um impacto na igualdade social nesses países.

"Existe uma correlação forte entre a taxa de sindicalização de um país e as reduções das brechas salariais", explica o economista Patrice Laroche, que examinou dezenas de estudos sobre o tema na Europa e nos Estados Unidos.

Em 2015, dois pesquisadores do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicaram uma análise que mostra que o enfraquecimento dos sindicatos nos países ricos agravou as desigualdades sociais. Um enfraquecimento que reduziu "as capacidades de negociação" dos trabalhadores, em benefício dos acionistas e daqueles com rendas mais altas.

- 'Invisíveis' -A taxas de cobertura das convenções também são importantes já que "as condições salariais são mais favoráveis quando os trabalhadores estão cobertos por uma convenção coletiva", explica Werner Zettelmeier, do Centro de Informação e Pesquisa sobre a Alemanha contemporânea. No geral, é superior a 50%, mas em alguns países, como Áustria, França e Eslovênia, se aproxima de 100%.

Não se pode esquecer do poder de negociação, que varia de país para país. O sindicato alemão IG Metall (2,3 milhões de membros) acaba de obter um acordo que introduz a semana de 28 horas e um aumento dos salários.

O poderoso sindicato industrial era "o único interlocutor frente à patronal", afirmou Zettelmeier. A união sindical também é comum na Espanha.

O que acontece com os trabalhadores de empresas ou setores sem sindicatos? Esses trabalhadores devem negociar diretamente com seus patrões. E aí ou é "ultra competente" e "obtém salários superiores aos do mercado", ou é "precarizado em relação aos demais", resume Laroche.

Alguns trabalhadores em situação precarizada se auto-organizam, com o apoio dos sindicatos.

Como "le Collectif" (o Coletivo) de mensageiros em bicicleta, criado em 2017 na Bélgica, que conseguiu conservar vários empregos que estavam ameaçados.

Na Espanha, as funcionárias de limpeza de hotéis criaram seu próprio coletivo, "Las Kellys" em 2016. "Nos organizamos à margem porque éramos invisíveis, 'nada' para os sindicatos", disse à AFP Angela, da rede de Madri. Muito ativas nas redes sociais e nas ruas, elas conseguiram ser reintegradas nas convenções coletivas do setor hoteleiro na Catalunha e nas Canárias.