Após saída dos EUA, Irã aposta na diplomacia para salvar acordo nuclear
O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, começará no sábado (12) uma viagem diplomática para tentar salvar o acordo nuclear após a retirada dos Estados Unidos, em um momento de grande tensão após os ataques israelenses na Síria.
Zarif visitará Pequim, Moscou e Bruxelas para falar sobre as maneiras de salvar o acordo, afirmou à AFP seu porta-voz.
O Irã não parece disposto a entrar em um conflito mais amplo com Israel, uma questão que também será abordada nas reuniões.
O Exército israelense realizou na quinta-feira dezenas de ataques contra alvos na Síria, em represália aos disparos de mísseis "iranianos" na direção da parte das Colinas do Golã ocupada por Israel.
Teerã, que apoia militarmente o regime sírio de Bashar al-Assad, desmentiu nesta sexta-feira (11) a versão israelense do ocorrido na véspera. "Os ataques reiterados do regime sionista contra o território sírio aconteceram com pretextos inventados (por Israel), que carecem de fundamento", declarou o porta-voz do Exército iraniano,Bahram Ghasemi, citado pela agência Isna.
O presidente iraniano, Hassan Rohani, havia afirmado na quinta-feira, durante uma ligação com a chanceler alemã, Angela Merkel, que seu país não queria "novas sanções" na região.
Manifestações em Teerã
Nesta sexta-feira, a calma imperava na fronteira entre Israel e Síria, ao mesmo tempo em que vários líderes mundiais fizeram um apelo para reduzir a tensão após os ataques israelenses e a decisão do presidente americano, Donald Trump, de abandonar o histórico acordo nuclear com o Irã.
O acordo de 2015 estabeleceu o compromisso do Irã de abandonar as atividades nucleares em troca da retirada de parte das sanções internacionais contra sua economia.
O Irã está em uma posição delicada. O país deseja demonstrar firmeza após a decisão de Trump e dos ataques israelenses, enquanto tenta obter o apoio europeu para a continuidade do acordo.
Mas os ultraconservadores iranianos se mobilizaram contra a possibilidade de fazer qualquer concessão aos europeus. E milhares de pessoas se manifestaram em Teerã contra a decisão de Trump de retirar seu país do acordo sobre o programa nuclear, queimando bandeiras americanas e gritando lemas anti-israelenses.
"Os responsáveis não devem confiar na França nem no Reino Unido. Nunca abandonarão os Estados Unidos por nós", disse uma manifestante.
Evitar a guerra
Os ataques israelenses reforçaram o temor de que o Irã convença o grupo Hezbollah, seu aliado, a lançar foguetes contra Israel a partir do sul do Líbano como represália.
Ao mesmo tempo, as dúvidas prosseguem sobre o real alcance dos ataques israelenses de quinta-feira na Síria.
Analistas iranianos afirmam que Israel atacou primeiro e que a reação veio das forças sírias, não do Irã.
O Exército israelense publicou nesta sexta-feira imagens por satélite de seus supostos alvos de quinta-feira, que descreveu como quatro centros de Inteligência iranianos nas localidades sírias de Tel Gharba, Tel Kleb, Tel Nabi Yusha e Tel Maqdad. Também divulgou fotos de um complexo militar em Al-Kiswa e de um centro logístico situado a 10 quilômetros de Damasco.
Outros analistas consideram que Israel tinha o aval dos Estados Unidos para ser mais agressivo contra a presença iraniana na Síria, sobretudo, depois da decisão de Trump de abandonar o acordo nuclear.
Sobre esta questão, o Irã já afirmou que permanecerá no acordo se as outras cinco potências que assinaram o texto - China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha - apresentarem garantias de que os interesses econômicos serão preservados.
Paralelamente, o chefe de inspetores do Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA), Tero Varjoranta, apresentou sua demissão nesta sexta-feira, sem que a agência revelasse as razões.
A OIEA é encarregado de verificar o cumprimento desse acordo nuclear.
A Rússia, que mantém boas relações com Irã e Israel, tenta atuar como mediador para evitar um conflito aberto.
O presidente russo, Vladimir Putin, que defende o acordo nuclear, multiplicou os contatos diplomáticos, falando, entre outros, com a chanceler Angela Merkel, e com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Segundo Yosi Mekelberg, do centro de estudos Chatham House de Londres, a Rússia "não está feliz que o Irã tenha muito poder, muita influência" na Síria.
Ele disse que os ataques israelenses foram executados provavelmente com a aprovação tácita da Rússia, que considera o Irã "um perigo para seus próprios interesses".
O jornal israelense "Haaretz" fez um alerta ao governo. "Seria melhor não se deixar levar pela espiral de arrogância (...) Teerã poderia ativar sua arma pesada, o Hezbollah, e neste caso o conflito poderia assumir uma dimensão totalmente distinta".
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