Paz, drogas e corrupção estão no centro das eleições na Colômbia
Bogotá, 24 Mai 2018 (AFP) - A Colômbia se prepara para eleições presidenciais decisivas. Os flagelos do narcotráfico, a corrupção e a desigualdade se somam à necessidade de consolidar uma paz ainda frágil, apesar do histórico acordo com as Farc.
A violência dos grupos armados que disputam o controle de antigos feudos da ex-guerrilha comunista, especialmente nas fronteiras do país, e a insegurança nas cidades também marcam o primeiro turno das eleições, em 27 de maio.
- Implementar a paz -"Terminado o conflito, os colombianos temos à frente o enorme desafio de construir a paz", reiterou o presidente Juan Manuel Santos, que vai deixar o poder em agosto, após oito anos de mandato.
Prêmio Nobel da Paz em 2016, Santos idealizou o acordo assinado neste ano com as então Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Mas seus esforços para acabar com o último conflito armado na América não se refletem em sua popularidade, que segundo as pesquisas é inferior a 20%.
Nascido em 1964 de uma insurreição camponesa que exigia uma maior distribuição de terras, o grupo rebelde chegou a ser o mais poderoso do continente e se desarmou no ano passado, tornando-se um partido político.
A implementação do pacto - questionada por ex-guerrilheiros que acusam o Estado de violações - será uma das principais tarefas do próximo governo.
"O novo presidente da Colômbia enfrentará a decisão de implementar ou não o acordo", disse à AFP Cristian Rojas, diretor do Programa de Ciência Política da Universidade de La Sabana.
Contudo, os pontos estruturais do pacto dificilmente poderão ser alterados.
Entre os seis candidatos na disputa, o advogado Iván Duque, de 41 anos, que promete reformar o acordo de paz, figura como favorito pelo direitista Centro Democrático (CD), do influente senador e ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
O CD considera que o acordo garante "impunidade" aos responsáveis por crimes graves. O grupo primeiro prometeu "rasgar" o pacto, mas depois sugeriu para reformá-lo.
Um possível mandato de Duque "seria problemático" para promover as mudanças "estruturais" acordadas, que incluem reformas eleitorais e agrárias para combater a desigualdade, disse Yann Basset, diretor do Observatório de Representação Política da Universidade do Rosario.
- Desigualdade -A Colômbia foi duramente abalada por uma guerra interna que, em meio século, confrontou guerrilheiros, paramilitares de direita e agentes do Estado, deixando mais de 8 milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.
Rica em minerais, biodiversidade e pedras preciosas, a Colômbia é também um dos países mais desiguais do continente, superada apenas pelo Haiti e por Honduras.
A pobreza afeta 17% dos 49 milhões de habitantes, com picos de 36,6% nas regiões mais isoladas, particularmente nas áreas rurais, segundo dados oficiais.
A luta contra a desigualdade é uma das bandeiras do ex-prefeito de Bogotá, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, do movimento Colômbia Humana, segundo colocado nas pesquisas, a dez pontos de Duque.
Nenhum deles parece ter a capacidade de superar os 50% dos votos necessários para vencer no primeiro turno. Nesse caso, eles teriam que se enfrentar em um segundo turno em 17 de junho.
Atrás dele vem o ex-prefeito de Medellín, Sergio Fajardo (com 12% dos votos, de centro), o ex-vice-presidente German Vargas (7,5%, de centro) e o ex-negociador de paz Humberto Street (2,5%, centro-esquerda).
A possibilidade de a esquerda chegar ao poder é uma novidade em um país historicamente governado pela direita. Mas a tendência pode mudar. "Há muita volatilidade nas preferências", alerta Basset.
Para o especialista, a ascensão da esquerda, visível nas eleições legislativas de março, deve-se ao fato de que "a guerrilha hoje em dia não dá tanto medo".
As Farc tiveram 0,5% do total dos votos parlamentares, embora o pacto lhes garanta dez assentos.
- Corrupção e narcotráfico -A Colômbia ocupa o 96º lugar no ranking de percepção de corrupção da organização Transparência International, que avalia 180 países.
Além das irregularidades na entrega de licitações públicas, o país também foi abalado pelo esquema de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht.
A empresa reconheceu ter entregado 11,1 milhões de dólares em propinas na Colômbia. Já a Promotoria avalia esse valor em mais de 27,7 milhões.
Nas eleições, "também há um clima de descontentamento com a classe política, com muitos problemas de corrupção nos últimos dois anos", disse Basset.
Mas a corrupção não está apenas ligada ao Estado. Desde os anos 80, a Colômbia está no radar mundial do narcotráfico.
Apesar dos grandes esforços contra o tráfico de drogas, o país continua a ser o maior produtor mundial de cocaína, um mercado arduamente disputado pelos dissidentes das Farc, por gangues criminosas e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), reconhecido pelo governo como o último grupo rebelde.
"Hoje, o narcotráfico continua sendo a principal ameaça à paz", alertou Santos em 24 de abril, na ONU. Ele espera assinar um acordo com o ELN semelhante ao das Farc, para resolver completamente o conflito.
Para o analista Juan Cárdenas, o próximo presidente terá um "desafio muito forte" relacionado ao controle territorial.
Para isso, o Estado deve recuperar o monopólio da força e ter uma "presença institucional" em um país de geografia complexa, acrescentou.
A violência dos grupos armados que disputam o controle de antigos feudos da ex-guerrilha comunista, especialmente nas fronteiras do país, e a insegurança nas cidades também marcam o primeiro turno das eleições, em 27 de maio.
- Implementar a paz -"Terminado o conflito, os colombianos temos à frente o enorme desafio de construir a paz", reiterou o presidente Juan Manuel Santos, que vai deixar o poder em agosto, após oito anos de mandato.
Prêmio Nobel da Paz em 2016, Santos idealizou o acordo assinado neste ano com as então Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Mas seus esforços para acabar com o último conflito armado na América não se refletem em sua popularidade, que segundo as pesquisas é inferior a 20%.
Nascido em 1964 de uma insurreição camponesa que exigia uma maior distribuição de terras, o grupo rebelde chegou a ser o mais poderoso do continente e se desarmou no ano passado, tornando-se um partido político.
A implementação do pacto - questionada por ex-guerrilheiros que acusam o Estado de violações - será uma das principais tarefas do próximo governo.
"O novo presidente da Colômbia enfrentará a decisão de implementar ou não o acordo", disse à AFP Cristian Rojas, diretor do Programa de Ciência Política da Universidade de La Sabana.
Contudo, os pontos estruturais do pacto dificilmente poderão ser alterados.
Entre os seis candidatos na disputa, o advogado Iván Duque, de 41 anos, que promete reformar o acordo de paz, figura como favorito pelo direitista Centro Democrático (CD), do influente senador e ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).
O CD considera que o acordo garante "impunidade" aos responsáveis por crimes graves. O grupo primeiro prometeu "rasgar" o pacto, mas depois sugeriu para reformá-lo.
Um possível mandato de Duque "seria problemático" para promover as mudanças "estruturais" acordadas, que incluem reformas eleitorais e agrárias para combater a desigualdade, disse Yann Basset, diretor do Observatório de Representação Política da Universidade do Rosario.
- Desigualdade -A Colômbia foi duramente abalada por uma guerra interna que, em meio século, confrontou guerrilheiros, paramilitares de direita e agentes do Estado, deixando mais de 8 milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.
Rica em minerais, biodiversidade e pedras preciosas, a Colômbia é também um dos países mais desiguais do continente, superada apenas pelo Haiti e por Honduras.
A pobreza afeta 17% dos 49 milhões de habitantes, com picos de 36,6% nas regiões mais isoladas, particularmente nas áreas rurais, segundo dados oficiais.
A luta contra a desigualdade é uma das bandeiras do ex-prefeito de Bogotá, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, do movimento Colômbia Humana, segundo colocado nas pesquisas, a dez pontos de Duque.
Nenhum deles parece ter a capacidade de superar os 50% dos votos necessários para vencer no primeiro turno. Nesse caso, eles teriam que se enfrentar em um segundo turno em 17 de junho.
Atrás dele vem o ex-prefeito de Medellín, Sergio Fajardo (com 12% dos votos, de centro), o ex-vice-presidente German Vargas (7,5%, de centro) e o ex-negociador de paz Humberto Street (2,5%, centro-esquerda).
A possibilidade de a esquerda chegar ao poder é uma novidade em um país historicamente governado pela direita. Mas a tendência pode mudar. "Há muita volatilidade nas preferências", alerta Basset.
Para o especialista, a ascensão da esquerda, visível nas eleições legislativas de março, deve-se ao fato de que "a guerrilha hoje em dia não dá tanto medo".
As Farc tiveram 0,5% do total dos votos parlamentares, embora o pacto lhes garanta dez assentos.
- Corrupção e narcotráfico -A Colômbia ocupa o 96º lugar no ranking de percepção de corrupção da organização Transparência International, que avalia 180 países.
Além das irregularidades na entrega de licitações públicas, o país também foi abalado pelo esquema de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht.
A empresa reconheceu ter entregado 11,1 milhões de dólares em propinas na Colômbia. Já a Promotoria avalia esse valor em mais de 27,7 milhões.
Nas eleições, "também há um clima de descontentamento com a classe política, com muitos problemas de corrupção nos últimos dois anos", disse Basset.
Mas a corrupção não está apenas ligada ao Estado. Desde os anos 80, a Colômbia está no radar mundial do narcotráfico.
Apesar dos grandes esforços contra o tráfico de drogas, o país continua a ser o maior produtor mundial de cocaína, um mercado arduamente disputado pelos dissidentes das Farc, por gangues criminosas e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), reconhecido pelo governo como o último grupo rebelde.
"Hoje, o narcotráfico continua sendo a principal ameaça à paz", alertou Santos em 24 de abril, na ONU. Ele espera assinar um acordo com o ELN semelhante ao das Farc, para resolver completamente o conflito.
Para o analista Juan Cárdenas, o próximo presidente terá um "desafio muito forte" relacionado ao controle territorial.
Para isso, o Estado deve recuperar o monopólio da força e ter uma "presença institucional" em um país de geografia complexa, acrescentou.
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