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O que acontecerá com as 2.300 crianças separadas dos pais?

22/06/2018 21h06

El Paso, Estados Unidos, 23 Jun 2018 (AFP) - O caos reina na fronteira entre os Estados Unidos e o México diante da falta de informações: ninguém sabe qual será o destino das 2.300 crianças imigrantes separadas de seus pais pelo governo americano.

Embora o presidente Donald Trump tenha assinado uma ordem executiva para acabar com sua política de separação de famílias que entraram de forma clandestina pela fronteira, essas crianças continuam separadas em centros de detenção ou lares de acolhida, às vezes a mais de 3.000 quilômetros de onde estão seus pais ou responsáveis.

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Os pais, detidos para serem processados criminalmente, muitas vezes não têm ideia de onde estão seus filhos e, em alguns casos, já foram deportados sem eles.

Agulha em um palheiro

Diante de uma enxurrada de duros depoimentos de pais sem notícias de seus filhos, o presidente americano acusou nesta sexta-feira no Twitter os democratas de divulgarem "histórias falsas de tristeza e dor, esperando que isso os ajude nas eleições" e de não defender a segurança na fronteira.

Depois se reuniu com familiares de vítimas de crimes executados por imigrantes clandestinos. Esses pais "foram permanentemente separados de seus entes queridos porque foram assassinados por imigrantes ilegais criminosos", disse o presidente a jornalistas.

Os advogados que defendem os imigrantes separados de seus filhos asseguram que o governo não tem planos para reuni-los e que trabalham como "detetives particulares" para unir pais e filhos, uma tarefa que comparam com encontrar uma agulha em um palheiro.

"No terreno há muita confusão, instruções e informações contraditórias, inclusive por parte de atores do governo", disse Michelle Brané, diretora de Direitos dos Imigrantes na Comissão de Mulheres Refugiadas.

"Isso é só um exemplo de como este governo opera: anúncios de políticas grandes e audazes sem planos sobre como implementá-las, aumentando o caos no terreno", declarou Brané na quinta-feira em uma videoconferência.

Como exemplo, relatou o caso de uma menina registrada como uma menor de dois anos e que usava fraldas. Falava quiché, uma língua maia usada na Guatemala e no México, e ninguém a compreendia.

Após horas de trabalho investigativo, Brané conseguiu identificá-la em uma lista de 500 nomes: tinha, na realidade, quatro anos, seu nome era outro e sua tia estava detida "no mesmo centro".

"Continua sendo um processo caótico", disse na mesma videoconferência Wendy Young, presidente da Kids In Need of Defense (KIND), que oferece ajuda legal gratuita a menores imigrantes sem documentos.

'Conheça os seus direitos'

Alison Jimena Valencia Madrid, de seis anos, está em Phoenix (Arizona), longe de sua mãe, que está detida em Port Isabel (Texas) e não sabe quando poderá vê-la. Mas conta com uma grande vantagem: durante sua viagem de 17 dias de El Salvador até a fronteira entre México e Estados Unidos, sua mãe a ajudou a memorizar um número de telefone que lhe permitiu entrar em contato com uma tia em Houston.

Alison é uma das crianças ouvidas chorando em uma gravação de áudio supostamente feita em um centro de detenção, e que foi escutada por milhões de pessoas, provocando uma indignação generalizada.

"Nunca pude falar com ela (...) É muito desesperador porque a todo momento me pergunto como estará, se ela comeu, se estão cuidando dela, se deram banho nela", declarou sua mãe à CNN.

Trump, que assegurou que a "tolerância zero" com a imigração ilegal continua, pediu à Justiça uma autorização para deter as crianças junto com seus pais por mais tempo do que os 20 dias permitidos por lei, uma medida que para ativistas pró-imigrantes equivaleria a prender durante meses ou anos pais e filhos.

A pedido do governo, o Pentágono prepara até 20.000 camas para alojar menores imigrantes em bases militares.

"Levamos 30 anos para melhorar o tratamento das crianças no sistema migratório e parece que o governo o destruiu em três meses", disse Young, criticando que os militares "não são um serviço social"

A Câmara de Representantes pode votar na semana que vem um projeto de lei migratória moderado, depois que uma versão conservadora naufragou.

"Não será fácil abrigar as famílias juntas, mas devemos fazê-lo", tuitou o senador Marco Rubio após visitar um centro onde abrigam os menores. "Não podemos voltar à política de separar famílias ou liberar todos", acrescentou.

Em meio à confusão, a primeira-dama Melania Trump fez uma viagem surpresa ao Texas para ver em primeira mão as condições de detenção das crianças imigrantes, mas causou indignação ao embarcar no avião com uma jaqueta verde oliva que continha na parte de trás a frase "Eu realmente não importo, você se importa?".