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Conheça os principais episódios da crise migratória na Europa

24/06/2018 10h11

Paris, 24 Jun 2018 (AFP) - Há vários anos, o fluxo de migrantes para a Europa tem provocado múltiplas tragédias, com milhares de afogados no Mediterrâneo, além de atritos políticos e tensões entre os países-membros da UE, apesar da queda contínua das chegadas à costa europeia desde 2015.

- 2011-2014, um fluxo progressivo -Após uma alta progressiva desde 2011, em 2014 a chegada de migrantes praticamente quadruplicou, com um total de 280 mil, dos quais mais de 170 mil foram para a costa italiana e 43.500 para a costa grega.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais de 3.500 pessoas que fugiam da guerra ou da pobreza morreram no mar, a maior parte delas no Mediterrâneo central.

De acordo com cifras do Acnur de outubro de 2014, 144.630 sírios solicitaram refúgio no conjunto da UE desde 2011, quando começou o conflito no país. Alemanha e Suécia se distinguiram por seus esforços ao acolher migrantes.

- 2015, mais de um milhão de migrantes -Foi em 2015 que a situação adquiriu proporções vertiginosas: a Organização Internacional para as Migrações (OIM) estimou em 1.047.000 chegadas por mar à Europa, sendo 854.000 delas à Grécia e 154.000 à Itália. O aumento é explicado principalmente pela estagnação da guerra na Síria, combinada com a deterioração das condições de vida nos campos de refugiados.

Em 19 de abril de 2015 aconteceu em frente à costa líbia a pior catástrofe no Mediterrâneo em décadas. Até 800 migrantes procedentes da África ocidental morreram no naufrágio de uma embarcação que colidiu com um cargueiro português que havia ido ajudá-los. Naquele ano, o Acnur registrou quase 3.800 vítimas.

No fim do verão de 2015, quando milhares de refugiados fugiam dos conflitos no Oriente Médio e em outras regiões, a chanceler Angela Merkel decidiu abrir as portas da Alemanha, provocando uma chegada maciça de solicitantes de refúgio (890 mil em um ano). Agindo de forma unilateral, foi criticada por muitos de seus sócios europeus.

O país, à beira da saturação, reintroduziu os controles em suas fronteiras.

Outros países imitaram a decisão de Berlim, principalmente no leste da Europa, que rechaçam as cotas de divisão de refugiados entre os 28 membros da UE. Áustria, República Tcheca, Eslováquia, países de trânsito, restabeleceram os controles nas fronteiras. Hungria e Eslovênia, principais países de entrada à zona Schengen, ergueram cercas com arames.

As solicitações de refúgio atingiram seu auge, com 1,26 milhão de solicitações na UE em 2015.

- 2016, acordo Turquia-UE -Em 18 de março de 2016, UE e Turquia fecharam um acordo migratório para frear o fluxo de milhares de migrantes à Grécia.

O polêmico acordo prevê, em troca de ajuda financeira, especialmente, a expulsão sistemática de todos os migrantes para a Turquia. Combinado com o fechamento da rota dos Bálcãs, permitiu reduzir drasticamente as chegadas à Europa, que caíram em 2016 para 390 mil, segundo a OIM.

- 2017, Itália na linha de frente -Ao cortarem a rota que passa por Grécia e Turquia, a Líbia se tornou, apesar dos perigos da travessia, a principal via de migração no Mediterrâneo, e a Itália a principal porta de entrada à Europa.

A tendência se inverteu radicalmente a partir de meados de julho de 2017, essencialmente devido aos acordos fechados por Roma com as autoridades e as milícias líbias.

Esses polêmicos acordos, acompanhados do apoio concreto da Guarda Costeira líbia, fizeram com que as chegadas à Itália caíssem 75%. Mas muitas vozes denunciaram o custo humano para os migrantes, que são detidos e, em muitos casos, vítimas de violências e extorsões na Líbia.

- 2018, crise política na UE -Na Itália, onde chegaram 700 mil migrantes desde 2013, uma coalizão de ultradireita e os antissistema chegou ao poder no fim de maio e decidiu, entre suas primeiras medidas, negar a autorização para atracar em um porto italiano para um barco humanitário que tinha 630 migrantes procedentes da África.

O "Aquarius" terminou a sua travessia na Espanha, após uma odisseia de uma semana no Mediterrâneo que exacerbou as tensões na UE, principalmente entre Roma e Paris.

Na Alemanha, em 18 de junho, a ala mais conservadora da coalizão do governo deu um prazo de duas semanas a Angela Merkel para que feche as fronteiras, o que poderia provocar uma crise política importante.