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O negócio da imigração ilegal no Texas

24/06/2018 10h45

El Paso, Estados Unidos, 24 Jun 2018 (AFP) - Para os ativistas que fazem voluntariado em defesa dos imigrantes tirar proveito econômico deles é "repugnante". Mas o negócio da imigração ilegal no Texas gera cadeias prósperas e emprega credores, agiotas e advogados de pequeno porte.

Desde o último mês, o Texas esteve no centro do escândalo migratório gerado pela política de "tolerância zero" do presidente Donald Trump, que provocou a separação de mais de 2.300 crianças de suas famílias ao entrar no país ilegalmente, ou pedindo refúgio.

Mais de dois terços das detenções acontecem no Texas. No ano fiscal de 2017, a patrulha fronteiriça apreendeu 303.916 indivíduos na fronteira sul. Deles, 207.693 foram capturados no Texas, segundo o escritório de migração ICE.

Por isso, o Texas tem a maior quantidade de prisões para imigrantes.

Construído em 1983, o centro de detenção em Houston foi o primeiro privado da história moderna dos Estados Unidos. Seus donos, Corrections Corporation of America (CCA) e GEO Group, são as duas maiores corporações de prisões no país.

"Apreciamos muito a contínua confiança que o escritório de Imigração e Alfândega mostra em nossa companhia", disse em 2017 o presidente da GEO, George Zoley, no comunicado no qual informou de um novo contrato com o governo federal de 110 milhões de dólares.

Segundo o centro de pesquisa In The Public Interest (INPI), este esquema faz com que a prisão maciça por crimes menores - como a entrada ilegal - seja promovida na esfera privada.

As duas corporações, "juntas, gastaram mais de 10 milhões de dólares em candidatos políticos e quase 25 milhões em lobby desde 1989", assinalou um relatório de junho.

GEO e CoreCivic somaram lucros anuais de quatro bilhões de dólares em 2017, segundo documentos das duas empresas.

- 'É repugnante' -"É uma indústria que acomoda um lobby a favor de sentenças mais longas (...) e mais severas, porque sempre que há uma cama ocupada, eles fazem dinheiro", disse à AFP a advogada de migração Jodi Goodwin, voluntária na ONG Migrant Center for Human Rights.

Segundo o ICE, no ano fiscal de 2017 a média de população diária de imigrantes era de 30.539 indivíduos. Neste ano fiscal, a cifra já alcança 50.379.

"É asqueroso. É repugnante", afirmou Goodwin.

O escândalo de separação familiar também trouxe à tona os operadores privados dos abrigos para onde vão as crianças quando afastadas de seus pais ou responsáveis.

Existem 31 abrigos para crianças no Texas, segundo o Texas Tribune. Deles, os mais conhecidos são os do Southwest Key Programs.

Esses abrigos infantis têm contrato com o Escritório de Reassentamento de Refugiados (ERR) e foram acusados de maltratar as crianças.

A revista Bloomberg informou que o Southwest Key receberá mais de 458 milhões de dólares do governo este ano.

- Imigrante? 20% para você -"Isso é uma indústria e uma indústria em alta", declarou à AFP o economista William Glade, professor emérito da Universidade do Texas.

A pequena economia de cidades como McAllen, Hidalgo, El Paso, Laredo e Tornillo, na fronteira do Texas com o México, também tem a migração como epicentro: escritórios particulares de advogados migratórios e casas de empréstimos "somente com assinatura" são vistos nas ruas.

As lojas de empréstimo para pagar fianças (em inglês, "bail bonds") enchem o centro de El Paso. Esses negócios empresta dinheiro aos detidos que não podem pagar a fiança fixada pelo juiz para serem libertados enquanto seu caso é processado.

Segundo contaram os comerciantes, para crimes comuns os agentes de "bail bonds" cobram ao acusado cerca de 10% de comissão sobre o valor da fiança.

Mas quando se trata de casos migratórios, o prelo sobe fortemente: Lachica Bonds cobra 20% do valor da fiança aos estrangeiros acusados de entrada ilegal, mais 500 dólares para processar a informação.

E "a maioria das fianças migratórias são de 10.000 e 15.000 dólares, embora agora eu tenha uma de 25.000", disse à AFP uma funcionária que pediu anonimato.

Depois, quando os imigrantes são liberados, precisam usar uma tornozeleira eletrônica que monitora sua localização.

Essas tornozeleiras são vendidas às autoridades pela BI Incorporated, parte da corporação GEO Group. Seus funcionários no escritório de El Paso se negaram a informar à AFP o preço das tornozeleiras.