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UE inicia cúpula mais tensa dos últimos tempos: Brexit, imigrantes e euro em pauta

Emmanuel Macron, presidente da França, encontra-se com o primeiro ministro de Portugal, António Costa, em Bruxelas, no início da cúpula da União Europeia - REUTERS/Francois Lenoir
Emmanuel Macron, presidente da França, encontra-se com o primeiro ministro de Portugal, António Costa, em Bruxelas, no início da cúpula da União Europeia Imagem: REUTERS/Francois Lenoir

28/06/2018 10h09

Os presidentes europeus enfrentam, a partir desta quinta-feira (28), sua cúpula mais crucial dos últimos anos, com profundas divisões sobre como enfrentar a política migratória e sobre como reformar a Eurozona, uma reunião em que o futuro da chanceler alemã, Angela Merkel, também pode estar em jogo.

A Europa tem muitos desafios, mas o relacionado com a questão migratória pode decidir o destino da União Europeia

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, já advertiu hoje que a Itália poderá vetar as conclusões da cúpula da UE, em caso de divergência, pedindo "atos" que materializem as "demonstrações de solidariedade" de seus sócios.

"A Itália não precisa de mais palavras, mas de atos concretos. Chegou a hora e, desse ponto de vista, (...) estou disposto a agir de acordo com isso", se não houver resposta às demandas italianas, declarou Conte ao chegar à cúpula de dois dias em Bruxelas.

Anos depois da maior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, a acolhida dos imigrantes continua pondo em 28 países da UE em disputa, apesar de sua vontade de darem, unidos, um novo impulso ao bloco frente à saída do Reino Unido em março do ano que vem.

A crise do "Aquarius", um barco com imigrantes socorridos a bordo que atracou na Espanha depois que o governo italiano e Malta fechou-lhe seus portos, reabriu uma ferida, em um contexto de auge das forças eurocéticas na UE.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, advertiu que o bloco tem "muito em jogo", especialmente quando "cada vez mais pessoas" acreditam que movimentos "antieuropeus" e "com tendência a um autoritarismo aberto" podem "deter a onda de migração ilegal".

Apesar da drástica redução das chegadas de imigrantes pelo mar pelo sul da Europa, de um milhão em 2015 para os cerca de 45.000 em 2018, reinstalou-se no bloco uma urgência política que se orientou para a proteção das fronteiras.

A Alemanha também simboliza a crise política na Europa vinculada à migração. A outrora influente chanceler enfrenta a ameaça de seu ministro do Interior de impedir, de maneira unilateral, a entrada de solicitantes de asilo procedentes de outros países da UE.

E o mapa de rota de Berlim e Paris para a reforma da Eurozona, acordada em Meseberg (nordeste da Alemanha), enfrenta reticências de alguns de seus sócios, liderados pela Holanda, sobretudo, na questão de um "orçamento para o euro".

A "cúpula de todas as cúpulas", nas palavras de um alto funcionário europeu, deixa para segundo plano até a difícil negociação do Brexit, dominante nas reuniões anteriores.

'O grande desafio da Europa'

A cúpula começa às 15h (10h no horário de Brasília), mas será apenas à noite que os líderes devem abordar a espinhosa questão da migração. Antes devem falar de sua cooperação com a Otan e de sua política comercial, como a resposta dada às tarifas impostas pelos Estados Unidos.


Embora o objetivo anunciado por Tusk em dezembro seja conseguir um "consenso" sobre a reforma da política comum de asilo nessa cúpula, em ponto morto após dois anos de conversas, os diferentes métodos para proteger as fronteiras europeias viraram prioridade.

A "minicúpula" a 16 no domingo expôs o leque de opções colocadas pelos governos europeus europeus para blindar o bloco: "centros fechados" na Europa, uma maior cooperação com os países de trânsito e de origem dos migrantes, ou reforçar a Frontex, a agência que ajuda os países na gestão de suas fronteiras externas e contribui para a harmonização dos controles fronteiriços da UE.

A proposta principal sobre a mesa da cúpula será criar "plataformas regionais de desembarque fora da Europa", para onde transferir os migrantes socorridos no mar e fazer a seleção dos que poderão pedir asilo no bloco.

Várias fontes diplomáticas indicaram que essa proposta, evocada em um primeiro momento pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), ainda está "aberta", na falta de mais detalhes. "Ela nos coloca questões políticas, jurídicas", disse uma das fontes ouvidas pela AFP.

As conclusões da cúpula, a cujo rascunho a AFP teve acesso, pedem aos governos para adotar medidas para conter o movimento de solicitantes de asilo entre países, um fenômeno que pode "pôr em risco" o espaço de livre-circulação europeu.

O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, classificou a cúpula de "decisiva", em um artigo publicado no jornal "The Guardian", já que "a ausência de um acordo sobre como administrar a crise migratória pode ser um golpe fatal no projeto europeu".

"O tema migratório é o grande desafio da Europa, e é um desafio que não tem uma solução fácil", reconheceu uma fonte diplomática europeia, para quem, no entanto, "pedir soluções imediatas não é realista e é quase populista".