Historiador russo Yuri Dmitriev volta a ser detido

O historiador russo Yuri Dmitriev, conhecido por seu trabalho sobre o Gulag --sistema de campos de trabalhos forçados para qualquer cidadão que se opusesse ao regime na União Soviética-- durante o stalinismo, foi detido novamente, menos de três meses depois de ter sido absolvido em um caso polêmico de pornografia infantil.
Dmitriev, 62, foi detido na quarta-feira "como parte de uma investigação por violência de caráter sexual", declarou à AFP Vitali Konovalov, responsável do Comitê de Investigação - instituição russa encarregada dos casos criminais - da região de Carelia, na fronteira com a Finlândia.
Os simpatizantes de Dmitriev afirmam que as autoridades russas tentam intimidar o historiador por seu trabalho, que fez revelações sobre os períodos mais obscuros da história da URSS.
Se for declarado culpado, Dmitriev pode ser condenado a até 20 anos de prisão.
O historiador comparecerá nesta quinta-feira a uma audiência com um juiz que decidirá sobre uma possível prisão, indicou à AFP seu advogado, Viktor Anufriev.
Dmitriev dirige a Memorial, principal organização russa de defesa dos direitos humanos, em Carelia.
O historiador passou um ano preso, acusado de ter feito imagens pornográficas de sua filha adotiva, o que ele sempre negou.
Em abril, o pesquisador foi absolvido das acusações de pornografia, mas declarado culpado de posse ilegal de armas e condenado a dois anos e meio de controle judicial.
O julgamento, no entanto, foi anulado por outro tribunal, que reenviou o caso para outra instância. De acordo com o advogado, a detenção de quarta-feira está relacionada com novos depoimentos da avó da criança.
Durante 30 anos, Yuri Dmitriev estabeleceu uma lista de 40.000 nomes de pessoas executadas em Carelia durante o stalinismo. Também foi o responsável pela descoberta da vala comum de Sandarmokh, onde quase 9.000 pessoas foram fuziladas.
A rede de televisão NTV, controlada pelo Estado russo e conhecida por seus ataques aos opositores do Kremlin, acusou na quarta-feira o historiador de ter tentado fugir para a Polônia antes de sua prisão, mas seu advogado negou e afirmou que seu cliente não tinha nem mesmo passaporte.
"Se tivéssemos uma justiça normal, uma rede de televisão que emite tantas calúnias pagaria bilhões", reagiu o ex-deputado opositor Dmitry Gudkov.
A prisão de Dmitriev preocupa organizações de direitos humanos que, aproveitando a Copa do Mundo na Rússia, alertaram a comunidade internacional para a situação do que consideram prisioneiros políticos.
Segundo a jornalista e ativista Zoya Svetova, trata-se de uma "vingança".
"Sua absolvição foi considerada uma vitória para a sociedade civil e agora estamos vendo uma vingança óbvia" das forças de segurança, disse à AFP. "O fato de acontecer durante a Copa do Mundo de futebol mostra que as autoridades não têm medo de prejudicar o evento", afirmou.
Várias ONGs pediram o boicote ao evento esportivo, realizado até 15 de julho, para pressionar a Rússia e denunciar "uma nova onda de opressão", segundo a Anistia Internacional.
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