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Mati, a cidade grega que deixou de existir após o incêndio que matou mais de 70 pessoas

Em Mati, na Grécia

24/07/2018 18h38

"Mati não existe mais": silêncio desolador, carros e animais carbonizados. A pequena cidade costeira ao leste de Atenas ficou reduzida a cinzas, após um incêndio no qual morreram ao menos 74 pessoas na zona, 26 delas em um mesmo terreno, abraçadas.

Os corpos do grupo calcinados foram encontrados "em grupos de 4 ou 5 pessoas, pode ser que se trate de famílias, amigos ou desconhecidos que se juntaram em uma última tentativa de se protegerem, enquanto tentavam chegar ao mar, a 30 ou 40 metros dali", diz Vassilis  Andriopoulos, um dos socorristas da Cruz Vermelha que descobriu o grupo nesta terça-feira (24) de manhã.

Ele lamenta a presença de "crianças pequenas" neste grupo. As vítimas parecem ter ficado presas entre o fogo e um penhasco de 30 metros de altura que desce para o mar, ao tentar fugir das chamas.

Uma jovem que tinha tentado pular um pouco mais para frente também morreu, apontou um morador. À noite, um fotógrafo da AFP encontrou perto dali os cadáveres de quatro pessoas que certamente estavam tentando fugir, três em um carro e uma em moto.

"Em cinco ou dez minutos"

Na rua principal tudo está preto, particularmente os grandes pinheiros que rodeiam as casas. O mar está cinza e o cheiro de queimado é onipresente. Dezenas de carros calcinados cobrem as calçadas. Há também cadáveres de cães.

Stella Petridi, uma aposentada de 65 anos, tinha seis cachorros. Ela estava na igreja quando, ao sentir o fogo se aproximar, correu para casa, onde estavam os animais. Mas não conseguiu abrir a porta de sua casa, que já estava em chamas.

Não teve outra opção senão correr para a praia, onde um barco de patrulha a retirou junto com outras pessoas, por volta de 04H00 da madrugada, deixando-as na cidade portuária de Rafina, cujo prefeito, Evangelos  Bournous, afirmou que "Mati não existe mais".

Athanasia  Oktapodi, de 60 anos, testemunhou a rapidez de propagação das chamas, qualificadas de "fulminantes" pelos próprios bombeiros. "Vi o fogo descer a partir da colina por volta de 18H00, e em cinco ou dez minutos já estava no meu jardim". Como a maioria das casas de Mati, a sua estava rodeada de pinheiros.

"Pegaram fogo. Saí correndo como louca para a praia e entrei na água. Depois chegaram as patrulhas", comentou.

A maioria dos sobreviventes ficaram impotentes e aterrorizados no mar, observando as chamas durante horas. Algumas pessoas nessa situação se afogaram.

Escolha terrível

Lela Demertzi, de 53 anos, carregou nos ombros suas mãe doente até a praia. "Meu marido ficou, fez tudo para salvar nossa casa, e conseguiu", afirma.

No entanto, o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, instou os habitantes a abandonarem seus bens para proteger suas vidas.

Além dos pinheiros, que funcionam como um combustível, vários moradores disseram ter ouvido muitas explosões devido a botijões de gás, muito comuns nas casas de veraneio.

Na tarde desta terça-feira, alguns moradores continuavam buscando seus parentes, e receberam o apoio de equipes de psicólogos enviadas ao local.

Os voluntários da Cruz Vermelha distribuem água, remédios e sanduíches aos afetados.

Na pequena cidade vizinha de Kokkino  Limanaki, que enfrenta o mesmo caos que Mati, uma jornalista da AFP observou socorristas retirarem de um carro o cadáver de uma idosa.

"Seu filho saiu da casa para colocá-la a salvo no veículo", comenta um vizinho, Anastasios Probonas, engenheiro de 60 anos. "Mas ele já tinha queimaduras, e por isso eu lhe disse que partisse rápido com seus dois filhos, o que fez em moto", deixando sua mãe para trás.