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Atentado suicida marca legislativas no Paquistão

25/07/2018 20h37

Islamabad, 25 Jul 2018 (AFP) - O Paquistão viveu nesta quarta-feira (25) um sangrento dia de votação por causa de um atentado suicida, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), que deixou pelo menos 31 mortos e 70 feridos.

O ataque aconteceu na entrada de um centro de votação em Quetta, uma cidade da província do Baluchistão (sudoeste). Um camicase "tentou entrar no colégio eleitoral e quando a polícia quis detê-lo, se fez explodir", disse à AFP um encarregado da administração local, Hashim Ghilzai.

Entre os mortos há três policiais e quando crianças, informaram fontes oficiais.

Anteriormente, outro ataque com granada em outro centro de votação causou a morte de um policial, em Khuzdar, também no Baluchistão, uma das províncias mais pobres do país.

Os colégios eleitorais fecharam, na tarde desta quarta-feira (10h00 no horário de Brasília), apesar de haver longas filas nos locais de votação. As pessoas presentes dentro das seções puderam votar, segundo a comissão eleitoral.

Cerca de 106 milhões de eleitores foram chamados a comparecerem às urnas em um país de 207 milhões de pessoas, para eleger seus deputados para os próximos cinco anos. A sigla vencedora será chamada para formar o novo governo federal.

Imran Khan, líder do Paquistão Tehreek-e-Insaf (PTI) e ex-estrela do críquete, é o principal candidato ao posto de premiê, junto com Shahbaz Sharif, irmão do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz (PML-N).

Essa eleição não é apenas a segunda transição democrática de um governo civil para outro em um país, cuja história está marcada pelos golpes de Estado militares e pelos assassinatos de políticos.

Também é considerada a "eleição mais suja", devido às acusações de conchavos por parte das Forças Armadas, que podem ter beneficiado Khan.

Shahbaz Sharif denunciou nesta quarta-feira "fraudes flagrantes" nas eleições gerais, que estão na fase de apuração, e anunciou que seu partido, no poder nos últimos cinco anos, rejeitará os resultados.

"São fraudes tão flagrantes que todo mundo começou a chorar. O que fizeram hoje faz o Paquistão regredir 30 anos (...) Rejeitamos esse resultado", declarou Sharif, líder do PML-N.

Oito horas após o encerramento das eleições, apenas 37% dos votos haviam sido apurados, segundo a TV nacional.

A Comissão Eleitoral Paquistanesa (ECP) atribuiu a lentidão a problemas técnicos. "Não há absolutamente nenhuma conspiração para influenciar os resultados", afirmou seu secretário, Babar Yaqoob.

Em sua conta no Twitter, o PML-N anunciou que "rejeita integralmente os resultados das eleições gerais de 2018 devido a claras e maciças irregularidades".

A primeira pessoa a entrar em um dos postos eleitorais da cidade de Lahore (leste) foi a empresária Maryum Arif, que disse à AFP que votará no PML-N por ter "servido ao Paquistão".

Pouco depois chegou Shahbaz Sharif, que pediu aos paquistaneses que "saiam de suas casas (...) e mudem o destino do Paquistão", antes de depositar seu próprio voto.

Até 80.000 policiais e forças militares se encontram posicionados nos colégios eleitorais de todo país, diante do temor de novos ataques.

Durante a campanha, morreram mais de 180 pessoas em vários atentados, incluindo três candidatos.

Apesar do clima de tensão, o processo foi tranquilo, ordenado e pacífico, segundo uma observadora eleitoral ocidental no estado de Penjab.

- 'Nebuloso' -Imran Khan votou em Bani Gala, na periferia da capital.

"Chegou o momento de tirar os partidos que sequestraram o país durante anos", declarou.

A ex-estrela do esporte fez campanha com a promessa de construir um "Novo Paquistão" e se comprometeu a erradicar a corrupção, cuidar do meio ambiente e construir um "estado islâmico de bem-estar".

Sua campanha foi ofuscada pelas acusações de que teria o apoio das poderosas instituições de segurança do país. Veículos de comunicação e ativistas denunciam um "golpe silencioso" dos generais.

Os militares rejeitaram as acusações, garantindo não terem um "papel direto" na eleição.

As autoridades eleitorais concederam amplos poderes aos oficiais militares dentro dos colégios eleitorais, o que aumentou os temores sobre uma possível manipulação.

Já Sharif acusa as Forças Armadas e a Justiça de terem feito todo o possível para prejudicar seu partido.

Mais de 19 milhões de novos eleitores, entre eles jovens e mulheres, podem ser decisivos nessa acirrada corrida eleitoral.