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Mati, o paraíso calcinado onde avós e netos aproveitavam o verão

26/07/2018 14h50

Mati, Grèce, 26 Jul 2018 (AFP) - Os rostos das gêmeas de nove anos Vassiliki e Sofia, desaparecidas durante os incêndios na periferia de Atenas, estão em todos os meios de comunicação. Elas iam aproveitar um dia de verão com seus avós, de quem também não se tem notícias.

Os avós Philippopoulou e suas netas, Vassiliki e Sofia, chegaram de carro na cidade de Mati.

O avô avisou então o filho que eles mudariam seu trajeto por causa do início dos incêndios, explica Yitanis, o pai, entrevistado em diversas ocasiões pelas redes de televisão.

Desde então, não recebeu notícias de suas filhas nem dos avós.

Primeiro, pensou ter visto suas filhas nas imagens de sobreviventes resgatados por barcos, mas sua esperança se desfez com a negação dos pais das meninas que apareceram nas imagens.

Os rostos de suas filhas gêmeas e dos avós aparecem em um site criado por voluntários, no qual também há fotos de outros 23 desaparecidos.

No entanto, o número exato de pessoas desaparecidas ainda é desconhecido 48 horas depois que os incêndios queimaram uma parte da cidade de Mati, na costa leste de Attica, na Grécia.

O número de mortos aumentou na quarta-feira para 81, tornando-se os incêndios mais mortíferos da história recente da Grécia e um dos mais devastadores do mundo do século XXI.

- 'Chorava no carro' -Mati não é um lugar de turismo internacional como as ilhas gregas, mas de descanso para o fim de semana. Nesta cidade, a uma hora de Atenas, cercada por florestas de pinheiros, há muitas residências secundárias, onde os casais de aposentados aproveitam o verão juntos com seus netos.

"A coisa mais importante é que Katerina está a salvo", disse aliviado Yannis Tsaganou Profotou, de 88 anos, observando a sua neta de nove anos na frente da casa de sua família, que permaneceu praticamente intacta.

A garota fala da fuga frenética no veículo, das ruas cheias de fumaça e de sua chegada a um hotel à beira-mar, onde puderam se refugiar.

Ela lembra dessa experiência de forma tranquila, mas confessa que "chorou no carro".

Sua avó Sophia admite ter descoberto uma vocação de "camicase" no volante, enquanto ziguezagueava entre os galhos em chamas.

Entre as tristes recordações, a tragédia de outro casal de Mati que morreu queimado em casa. A avó salvou seus dois netos, protegendo-os com toalhas molhadas e deixando que a babá os levasse para a praia, enquanto ela ficou em casa com seu marido deficiente.

Na rua Tritonos, onde ainda há brinquedos abandonados, uma das proprietárias é conhecida por muitos. Trata-se da viúva de Theo Angelopoulos, um grande mestre do cinema grego, que morreu em 2012 atropelado pela moto de um policial.

"Eu sabia que tínhamos que fugir, mas pensei que haveria sirenes de emergência, que alguém nos avisaria!", afirma Phivi Angelopoulou. "Mas ninguém nos disse nada, até às 21h00 não vimos a administração pública", declarou indignada.

Uma parte dos arquivos de seu marido, grande referência do cinema grego moderno, como sua correspondência, desapareceu com o fogo, lamenta Angelopoulou.