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Candidatos à Presidência na penosa busca por seu vice ideal

27/07/2018 10h40

São Paulo, 27 Jul 2018 (AFP) - Os candidatos às eleições presidenciais de outubro têm tido dificuldade em encontra um companheiro de chapa que lhes garantam votos, recursos e tempo de TV, afastando o fantasma do impeachment, sofrido em 2016 pela presidente Dilma Rousseff, substituída por seu vice, Michel Temer.

A escolha de um vice-presidente "é produto de uma estratégia de equilíbrio da chapa e de busca de votos (...) É uma equação complexa", disse à AFP Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília.

Entre os presidenciáveis que lideram as pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) oficializaram suas candidaturas sem ter um vice do lado. Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) vão pelo mesmo caminho.

Caldas afirma que as "indefinições" se devem em parte à situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas, mas que cumpre pena de mais de 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O PT mantém sua candidatura, embora deva ser invalidada pela Justiça eleitoral.

A postura do PT gera indefinições muito grandes em todo o cenário eleitoral, afirma Caldas.

Além disso, "os candidatos estão tendo dificuldades para encontrar aquele nome que não só agregue tempo de TV e fundos" que a lei eleitoral distribui entre os partidos, "mas também que traga votos", indica o analista Everaldo Moraes.

Os partidos apressam as negociações - até com forças ideologicamente opostas - como objetivo de definir as chapas até 5 de agosto para, então, estar com tudo pronto até 15 de agosto, quando vence o prazo para o registro de candidaturas na Justiça eleitoral nas eleições que se desenham como as mais incertas e polarizadas desde o retorno da democracia, em 1985.

"O que os candidatos estão buscando, nesse sistema de presidencialismo de cooptação, é tempo de televisão e a chamada governabilidade, que tantos escândalos já justificou", escreveu o colunista Merval Pereira, do jornal O Globo, em alusão a pactos vinculados a propinas.

- Ofertas recusadas -Em eleições passadas, afirma Moraes, as chapas foram definidas em torno de "tucanos e petistas", que dominam as disputas eleitorais desde 1994.

"Hoje temos quatro candidatos com números [nas pesquisas] que podem levá-los ao segundo turno", acrescenta.

Bolsonaro, que lidera as intenções de voto em um primeiro turno sem Lula, já recebeu negativas do senador evangélico. Magno Malta (PR) e do general da reserva Augusto Heleno e espera resposta da advogada Janaína Paschoal, que formulou as acusações de manipulação das contas públicas que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff pelo Congresso.

Alckmin também teve recusado o convite para integrar sua chapa pelo empresário Josué Gomes, filho de José Alencar, que como vice-presidente de Lula, fez a ponte entre o PT e os industriais.

Marina Silva, por sua vez, segue sem fechar alianças e Ciro Gomes ora faz acenos, ora críticas ao PT, depois que o 'Centrão' (coalizão de partidos conservadores com peso no Congresso) se inclinou por Alckmin.

- O fantasma do impeachment -Moraes destaca a possibilidade de que se tenha somado um novo fator na complexa equação da vice-presidência, depois do conflito que sacudiu o atual mandato e que levou Dilma a acusar Temer de "traidor".

"Neste momento deve ser difícil para os candidatos escolher um nome que traga esse potencial de votos, que traga essa ajuda na questão do tempo na TV, mas ao mesmo tempo não desestabilize", afirma.

"Nosso passado recente mostrou o quanto a figura de um vice pode ser importante e não deve ser desprezada", continua.

Tanto o "tucano" Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) quanto Lula tiveram relações próximas com seus companheiros de chapa, Marco Maciel e José Alencar, respectivamente. Mas em décadas passadas, os vice-presidentes ficaram várias vezes à frente do país, seja devido a tragédias - como o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954 -, doenças, renúncias ou crises políticas, como os impeachments de Fernando Collor, em 1992, e de Dilma Rousseff.

Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas, minimiza esses temores.

A chapa presidencial "tem muita independência dos partidos que lhes dão apoio (...) Por isso, eu não acredito que nas alianças passe um cálculo do presidente, a escolha de um vice que seja consistente com as suas preferências", afirma.

"Muitas vezes, [os candidatos a presidente] escolhem um vice diametralmente oposto a eles", diz Carlos Pereira, evocando as inverossímeis alianças que se tem visto na política nacional.