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Ministro da Energia paga pelo descontentamento popular no Iraque

29/07/2018 12h13

Bagdá, 29 Jul 2018 (AFP) - O premier do Iraque destituiu neste domingo seu ministro da Energia, após três semanas de protestos motivados pela corrupção e os cortes de energia, em um país que teve a infraestrutura arruinada por sucessivos conflitos.

O governo iraquiano enfrenta há anos a pressão das ruas, principalmente durante o verão, quando a temperatura chega a 50°C.

Este ano, manifestações diárias ocorrem há três semanas para protestar contra os serviços públicos deficientes, os problemas crônicos de eletricidade, os cortes no abastecimento de água, o desemprego, a corrupção na política e as ingerências estrangeiras no país.

O movimento começou em Basra, grande cidade portuária do sul, e se estendeu a outras províncias e, em seguida, a Bagdá. Quatorze pessoas já morreram nos protestos.

O governo anunciou neste domingo a "suspensão" do ministro da Energia, Qasem Al-Fahdaui, membro de um partido sunita e um dos alvos do protesto, alegando "a deterioração do setor de eletricidade".

Embora apenas o Parlamento possa destituir um ministro, o Iraque ainda não conta com esta instância funcionando, porque estão sendo recontados os votos das eleições legislativas realizadas em maio.

Um representante do governo informou à AFP que o premier Haider Al-Abadi ordenou a abertura de uma investigação sobre "os contatos e a atribuição de postos e contratos fictícios" do ministério.

Após a sua suspensão, o ministro Fahdaui, eleito deputado nas últimas eleições na província sunita de Al-Anbar, pediu à diretoria do ministério que colaborasse com a investigação, segundo um de seus conselheiros.

A crise de energia é crônica no Iraque, um país de 38 milhões de habitantes onde, oficialmente, foram investidos 40 bilhões de dólares para renovar a rede elétrica.

Mas grande parte deste dinheiro terminou no bolso de políticos e empresários. O país ocupa a 12ª posição na lista dos mais corruptos do mundo.

A atual rede elétrica fornece energia por algumas horas do dia e obriga os iraquianos a usarem geradores vendidos por empresas privadas.

- Novos protestos -Apesar da queda do ministro, manifestantes anunciaram protestos nas cidades de Basra e Samawa, onde estão mobilizadas as forças de segurança, que poderiam dispersar os manifestantes a qualquer momento.

O advogado Tareq Al-Maamuri denunciou recentemente o ministro Fahdaui por ter fracassado em fornecer eletricidade aos iraquianos e por desvio de dinheiro público, citando uma cifra de 40 bilhões de dólares.

Desde a queda do regime de Sadam Hussein, em 2003, nenhum ministro da Energia concluiu seu mandato. Alguns pediram demissão, outros foram demitidos, e um deles fugiu para o exterior, acusado de ter roubado 500 milhões de dólares.

Após a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, houve 12 anos de embargo internacional, que deixou abandonada a rede elétrica do país.

O mau estado da infraestrutura agravou-se devido ao aumento do consumo a partir de 2003, após a invasão dos Estados Unidos, quando os iraquianos começaram a usar eletrodomésticos, computadores, antenas parabólicas e celulares.

No verão, a produção de eletricidade no Iraque cobre apenas 60% da demanda. O país depende em grande parte de seus vizinhos para se abastecer de eletricidade ou combustível para suas centrais elétricas, apesar de sua imensa riqueza em petróleo.

A situação piorou ainda mais porque várias companhias elétricas estão endividadas e tiveram que cortar o abastecimento em zonas do sul.

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