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Ataques aéreos da coalizão saudita matam 26 crianças no Iêmen

24/08/2018 19h11

Nações Unidas, Estados Unidos, 24 Ago 2018 (AFP) - Dois ataques aéreos da coalizão liderada pela Arábia Saudita no Iêmen mataram ao menos 26 crianças, informaram altos funcionários da ONU nesta sexta-feira, ao convocar uma investigação independente sobre os bombardeios contra civis desde o início da guerra, há três anos.

Ao menos 22 crianças e quatro mulheres morreram em um ataque da coalizão quando fugiam das zonas de combate no Iêmen, informou o secretário-geral-adjunto das Nações Unidas para assuntos humanitários, Mark Lowcock.

Outro ataque, na quinta-feira, matou quatro crianças, segundo Lowcock.

Os dois bombardeios aconteceram na região de Al-Durayhimi, ao sul da cidade rebelde de Hodeida.

"Esta é a segunda vez em duas semanas que um ataque aéreo da coalizão liderada pela Arábia Saudita causa dezenas de baixas civis", disse Lowcock em um comunicado.

Um ataque da coalizão contra um ônibus no reduto rebelde de Saada em 9 de agosto matou 51 pessoas, incluindo 40 crianças, levando o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, a pedir uma investigação independente.

Lowcock ecoou o apelo de Guterres por "uma investigação imparcial, independente e rápida" e disse que "aqueles com influência" devem garantir que os civis sejam protegidos.

A agência de notícias Saba, liderada pelos rebeldes, indicou que o ataque aéreo na quinta-feira atingiu um ônibus e uma casa, mas os Emirados Árabes Unidos (EAU), parceiro na coalizão, culpou os rebeldes huthis pelo ataque.

Al-Durayhimi tem sido palco de confrontos entre os rebeldes e as forças pró-governo há duas semanas.

"Tinha esperança que a indignação que se seguiu ao ataque de Saada há duas semanas fosse um ponto de virada no conflito. Os ataques de ontem em Al-Durayhimi, que mataram 26 crianças, indicam que não foi isso que aconteceu", afirmou Henrietta Fore, diretora da UNICEF, a agência da ONU para as crianças.

-Crimes encobertos -A coalizão informou que investigará o ataque ao ônibus em 9 de agosto, que gerou uma forte comoção internacional, mas os grupos de direitos humanos insistem que qualquer investigação deve ser imparcial.

Um relatório da ONG Human Rights Watch afirma que a coalizão não investiga adequadamente as acusações de crimes de guerra derivadas de ataques contra alvos civis.

A diretora do HRW para o Oriente Médio, Sarah Leah Whitson, afirmou que os investigadores da coalizão "estão apenas encobrindo crimes de guerra".

A União Europeia pediu às partes beligerantes que "priorizem a proteção dos civis em todos os casos" após os ataques em Al-Durayhimi, e destacou a necessidade de se acabar com a guerra.

As conversações mediadas pela ONU entre os rebeldes huthis e o governo do Iêmen serão iniciadas no dia 6 de setembro, como um primeiro passo para a retomada das negociações de paz.

O Conselho de Segurança pediu uma investigação "crível" do ataque ao ônibus, mas não exigiu uma pesquisa independente.

Três dos cinco membros permanentes do Conselho - Grã-Bretanha, França e Estados Unidos - apoiam a coalizão em sua campanha militar.

Liderada pela Arábia Saudita, a coalizão lançou sua campanha militar no Iêmen em 2015 para pressionar os huthis que ainda controlam a capital, Sanaa, e devolver o poder ao presidente Abd Rabo Mansur Hadi.

A guerra deixou quase 10.000 mortos e desencadeou o que a ONU descreve como a pior crise humanitária do mundo.