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Irã acusa EUA de prejudicar gravemente sua economia

27/08/2018 13h46

Haia, 27 Ago 2018 (AFP) - Teerã denunciou nesta segunda-feira (27) a vontade de Washington de prejudicar gravemente a economia iraniana, no início das audiências na Corte Internacional de Justiça (CIJ) sobre o restabelecimento das sanções dos Estados Unidos contra o Irã.

As audiências sobre o tema começaram hoje na sede da CIJ, em Haia, e devem durar quatro dias.

"Os Estados Unidos propagam publicamente uma política, cujo objetivo é prejudicar o mais gravemente possível a economia iraniana, e as empresas e cidadãos iranianos", afirmou o conselheiro jurídico e representante da delegação da República Islâmica, Mohsen Mohebi.

Desde abril, a divisa iraniana, o rial, perdeu cerca de metade de seu valor.

Diante dos 15 juízes da CIJ - principal órgão judicial da ONU -, a delegação do Irã, que apresentou a demanda em julho, defende a suspensão das novas sanções americanas, que têm consequências dramáticas para a economia iraniana.

- Flagrante agressãoO restabelecimento das sanções anunciado pelo presidente americano, Donald Trump, "é uma flagrante agressão contra o meu país", declarou Mohebi.

"O Irã se oporá ao estrangulamento econômico americano por todos os meios pacíficos", acrescentou.

Em maio, o presidente Donald Trump retirou seu país do acordo nuclear assinado pelo Irã e pelas grandes potências em 2015, no qual a República Islâmica se comprometeu a não produzir armamento atômico. Em troca, o país foi beneficiado por uma retirada progressiva das sanções internacionais.

Mas a saída de Washington do acordo representou o retorno das duras sanções americanas contra o Irã.

Os Estados Unidos "se defenderão com firmeza diante do Irã" na CIJ, disse hoje o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que chamou o processo de "desvio da corte".

Em um comunicado, Pompeo acusa o Irã de "interferir nos direitos soberanos dos Estados Unidos de tomar medidas legais, incluindo o restabelecimento das sanções, que são necessárias para a proteção da nossa segurança nacional".

Já Mohebi alegou: "ao não ter outra solução a não ser recorrer à CIJ após buscar em vão uma solução diplomática", Teerã deseja que "se ponha fim de imediato" a essas medidas de Washington.

Com a nova batalha judicial na CIJ, Teerã deseja "encerrar de modo imediato" estas medidas.

A República Islâmica pede ao tribunal a suspensão temporária das sanções, antes que os juízes se pronunciem posteriormente sobre o mérito do caso.

O governo iraniano afirma que as ações americanas violam diversos dispositivos do tratado Irã-EUA de 1955.

O texto, que não é muito conhecido, prevê "relações amistosas" entre as duas nações e respalda os intercâmbios comerciais.

Irã e Estados Unidos não mantêm relações diplomáticas desde 1980.

Trump considera que as sanções têm como objetivo "aumentar a pressão" sobre o regime iraniano para que mude de comportamento, especialmente no que diz respeito às suas ambições nucleares.

Trump disse, no entanto, estar "aberto" a um novo acordo sobre o programa nuclear com o Irã.

O guia supremo iraniano, Ali Khamenei, declarou há alguns dias que "não haverá guerra, nem negociações com os Estados Unidos".

A CIJ deve se pronunciar sobre o fim provisório das sanções nos dois meses seguintes ao início das audiências. Uma decisão final sobre o caso pode demorar vários anos.

Após uma primeira onda de sanções, lançada no início de agosto, em 5 de novembro outras medidas entrarão em vigor, afetando o setor de petróleo e gás, que desempenha um papel fundamental na economia iraniana.

Em seu pedido à CIJ, Teerã fala de um "assédio" econômico imposto por Washington, "com todas as consequências para a população iraniana assediada".

Várias companhias internacionais - entre elas a francesas Total e a alemã Daimler - já comunicaram o fim de suas atividades no Irã, devido à entrada das sanções em vigor.

As companhias aéreas British Airways e Air France anunciaram para a próxima quinta-feira a suspensão de seus voos para o Irã, argumentando que essas conexões não são mais rentáveis.

Os advogados de Washington apresentarão seus argumentos nesta terça. Segundo especialistas, os Estados Unidos alegarão a incompetência da CIJ neste caso.