Alemanha dá um passo para a reconciliação por genocídio de Namíbia
Berlim, 29 Ago 2018 (AFP) - A Alemanha entrega nesta quarta-feira à Namíbia os restos mortais de integrantes das tribos Herero e Nama, exterminadas durante a época colonial, em um gesto de reconciliação considerado insuficiente pelos descendentes, que esperam um pedido de desculpas.
Em uma cerimônia religiosa em Berlim, uma delegação namibiana liderada pela ministra da Cultura, Katrina Hanse-Himarwa, receberá 19 crânios, ossos diversos e couro cabeludo tomados pelas forças coloniais alemãs há mais de um século.
A maior parte dos restos mortais procede da coleção antropológica da clínica universitária Charité, de Berlim.
Uma decisão que irritou profundamente os representantes das duas etnias, vítimas do que os historiadores consideram o primeiro genocídio do século XX.
O comportamento da Alemanha é "surpreendente", denunciou Esther Utjiua Muinjangue, presidente da fundação Ova Herero Genocide, para quem Berlim deveria aproveitar a oportunidade para pedir desculpas oficialmente e assim "curar feridas emocionais".
- 'Muito por fazer' -A Alemanha "ainda tem muito por fazer" a respeito de seu passado colonial no território africano (1884-1915), admitiu esta semana a secretária de Estado para Política Cultural Internacional no ministério das Relações Exteriores, Michelle Müntefering.
A cerimônia desta quarta-feira será a terceira entrega de ossos, após eventos similares em 2011 e 2014, mas nenhum pedido de desculpas será apresentado, argumentou Müntefering, por não tratar-se do âmbito adequado para isto.
O governo alemão reconheceu a responsabilidade nos massacres e indicou em 2016 a previsão de um pedido oficial de desculpas no âmbito de negociações com a Namíbia, que seguem em curso.
"Reparações, reconhecimento e desculpas são condições para a normalização das relações diplomáticas entre Alemanha e Namíbia", recordou a ministra Katrina Hanse-Mimrawa na segunda-feira.
Até hoje Berlim não pagou indenizações, optando por compensações em forma de ajuda ao desenvolvimento. A Alemanha afirma que investiu centenas de milhões de euros na Namíbia desde sua independência da África do Sul em 1990.
A ajuda beneficia todo o país, mas as únicas vítimas foram as tribos Herero, que representa 7% da população namibiana (no início do século XX eram 4%) e os Nama. Seus representantes iniciaram um processo judicial em Nova York para exigir indenizações diretas aos descendentes das tribos.
Privados de suas terras e do gado, os Herero se rebelaram em 1904 contra os colonos alemães, o que deixou mais de 100 mortos entre estes últimos.
Enviado para sufocar a rebelião, o general alemão Lothar von Trotha ordenou o extermínio. Os Nama protagonizaram um levante um ano depois e tiveram o mesmo destino.
Ao menos 60.000 Herero e quase 10.000 Nama morreram entre 1904 e 1908. As forças coloniais da Alemanha utilizaram técnicas genocidas: massacres em massa, deslocamentos obrigatórios pelo deserto, onde milhares de homens, mulheres e criançass morreram de sede, e campos de concentração como o de Shark Island.
Os ossos, em particular os crânios das vítimas, foram enviados à Alemanha para experimentos científicos de caráter racial. O médico Eugen Fischer, que trabalhou em Shark Island e cujos textos influenciaram Adolf Hitler, queria provar a "superioridade da raça blanca".
O historiador Christian Kopp, da ONG Sem Anistia para os Genocídios, exigiu a divulgação de quantos ossos procedentes da Namíbia e de outras ex-colônias alemãs permanecem no país.
"Não há nenhuma transparência sobre o tema", disse à AFP.
Em uma cerimônia religiosa em Berlim, uma delegação namibiana liderada pela ministra da Cultura, Katrina Hanse-Himarwa, receberá 19 crânios, ossos diversos e couro cabeludo tomados pelas forças coloniais alemãs há mais de um século.
A maior parte dos restos mortais procede da coleção antropológica da clínica universitária Charité, de Berlim.
Uma decisão que irritou profundamente os representantes das duas etnias, vítimas do que os historiadores consideram o primeiro genocídio do século XX.
O comportamento da Alemanha é "surpreendente", denunciou Esther Utjiua Muinjangue, presidente da fundação Ova Herero Genocide, para quem Berlim deveria aproveitar a oportunidade para pedir desculpas oficialmente e assim "curar feridas emocionais".
- 'Muito por fazer' -A Alemanha "ainda tem muito por fazer" a respeito de seu passado colonial no território africano (1884-1915), admitiu esta semana a secretária de Estado para Política Cultural Internacional no ministério das Relações Exteriores, Michelle Müntefering.
A cerimônia desta quarta-feira será a terceira entrega de ossos, após eventos similares em 2011 e 2014, mas nenhum pedido de desculpas será apresentado, argumentou Müntefering, por não tratar-se do âmbito adequado para isto.
O governo alemão reconheceu a responsabilidade nos massacres e indicou em 2016 a previsão de um pedido oficial de desculpas no âmbito de negociações com a Namíbia, que seguem em curso.
"Reparações, reconhecimento e desculpas são condições para a normalização das relações diplomáticas entre Alemanha e Namíbia", recordou a ministra Katrina Hanse-Mimrawa na segunda-feira.
Até hoje Berlim não pagou indenizações, optando por compensações em forma de ajuda ao desenvolvimento. A Alemanha afirma que investiu centenas de milhões de euros na Namíbia desde sua independência da África do Sul em 1990.
A ajuda beneficia todo o país, mas as únicas vítimas foram as tribos Herero, que representa 7% da população namibiana (no início do século XX eram 4%) e os Nama. Seus representantes iniciaram um processo judicial em Nova York para exigir indenizações diretas aos descendentes das tribos.
Privados de suas terras e do gado, os Herero se rebelaram em 1904 contra os colonos alemães, o que deixou mais de 100 mortos entre estes últimos.
Enviado para sufocar a rebelião, o general alemão Lothar von Trotha ordenou o extermínio. Os Nama protagonizaram um levante um ano depois e tiveram o mesmo destino.
Ao menos 60.000 Herero e quase 10.000 Nama morreram entre 1904 e 1908. As forças coloniais da Alemanha utilizaram técnicas genocidas: massacres em massa, deslocamentos obrigatórios pelo deserto, onde milhares de homens, mulheres e criançass morreram de sede, e campos de concentração como o de Shark Island.
Os ossos, em particular os crânios das vítimas, foram enviados à Alemanha para experimentos científicos de caráter racial. O médico Eugen Fischer, que trabalhou em Shark Island e cujos textos influenciaram Adolf Hitler, queria provar a "superioridade da raça blanca".
O historiador Christian Kopp, da ONG Sem Anistia para os Genocídios, exigiu a divulgação de quantos ossos procedentes da Namíbia e de outras ex-colônias alemãs permanecem no país.
"Não há nenhuma transparência sobre o tema", disse à AFP.
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