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Extrema direita alemã mantém pressão sobre a chanceler Merkel

30/08/2018 16h44

Chemnitz, Alemanha, 30 Ago 2018 (AFP) - A extrema direita alemã reuniu nesta quinta-feira (30) 1.000 pessoas em Chemnitz contra a política migratória de Angela Merkel, depois de um assassinato ocorrido nesta cidade da ex-RDA, convertida em epicentro de protestos da ultradireita contra os estrangeiros e a chanceler.

Diferentemente dos protestos anteriores, a manifestação, cheia de bandeiras alemãs, terminou tranquilamente.

Os participantes foram convocados pelo pequeno grupo local de extrema direita "Pró-Chemnitz", à margem de um "diálogo cidadão" organizado pelas autoridades locais com moradores desta cidade da Saxônia, em ebulição desde o fim de semana passado.

Centenas de policiais foram mobilizados para a ocasião por medo de incidentes similares aos ocorridos nas manifestações anteriores de domingo, quando houve "caçadas coletivas" de estrangeiros na rua, e de segunda-feira, com confrontos entre extrema esquerda e extrema direita, deixando um balanço de 20 feridos.

Um exemplo deste clima tenso, especialmente na ex-Alemanha Oriental, foi o ataque contra um jovem sírio de 20 anos, vítima de insultos e espancamentos xenófobos, realizado por três pessoas em Wismar, no norte da Alemanha, na noite de quarta-feira.

A vítima teve o nariz quebrado e hematomas no rosto e no tórax, segundo a polícia, que abriu uma investigação e procura os agressores.

- Preocupação na ONU -O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos qualificou na quarta-feira essas manifestações como "chocantes".

"Acho fundamental que os políticos de toda a Europa denunciem isso", disse Zeid Ra'ad Al Hussein.

A polícia local recebeu reforços de toda a Alemanha.

As manifestações dos últimos dias foram convocadas após a morte de um alemão de 35 anos, esfaqueado durante uma briga à margem de uma festa local no fim de semana por razões desconhecidas.

A polícia prendeu dois suspeitos, um sírio e um iraquiano, acusados de terem agido depois de um bate-boca.

O perfil do iraquiano, principal suspeito, incomoda a extrema direita já que este migrante chegou em 2015 à Alemanha saído do Curdistão, pediu refúgio e já foi condenado várias vezes por violência e posse de drogas.

Deveria se expulso, mas apelou da decisão e ganhou o recurso em 2016, segundo afirma o jornal Bild. No sábado, a extrema direita prevê uma "marcha fúnebre" em homenagem à vítima do esfaqueamento.

- Contra Merkel -Há meses o partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD), presente no Parlamento nacional, ataca Merkel por sua política migratória.

O AfD lhe acusa de ser responsável pelo aumento da criminalidade na Alemanha após a entrada de mais de um milhão de migrantes no país em 2015 e 2016, embora as estatísticas oficiais não confirmem semelhante aumento.

Um de seus dirigentes, Alexander Gauland, apoia a ideia que os habitantes de Chemnitz "se defendam". "É normal que as pessoas estejam cansadas da situação atual", declarou o jornal Die Welt, já que "a migração destrói a sensação de que se pode confiar em um vizinho".

Nesse contexto, o bem-sucedido polemista alemão Thilo Sarrazin apresenta oficialmente nesta quinta o seu livro "OPA hostil - Como o Islã freia o progresso e ameaça a sociedade", que já lidera as listas de vendas na Amazon, apesar de não estar ainda nas livrarias.

Essa estratégia da tensão dá lucros eleitorais ao AfD, que tem desbancado o partido social-democrata, e disputa nas pesquisas a posição de segunda força política do país, atrás dos conservadores de Angela Merkel, pouco antes das eleições regionais de outubro na Baviera e em Hesse.

- Comité Auschwitz -"Os sobreviventes de Auschwitz ao redor do mundo veem os eventos de Chemnitz de forma dramática, estão cada vez mais preocupados com as tentativas de grupos de extrema direita de controlar a rua", disse nesta quinta-feira o vice-presidente do Comitê Internacional de Auschwitz, Christoph Heubner, em comunicado.

Um guarda da prisão, contratado pelo Ministério da Justiça da Saxônia, revelou nesta quinta ter causado o escândalo do vazamento de documentos judiciais confidenciais sobre a investigação do homicídio de domingo.

Em um comunicado divulgado por seu advogado, Daniel Zabel afirmou que queria "que o público soubesse o que aconteceu".

Disse que fotografou o mandado de prisão do iraquiano e o transmitiu ao grupo de extrema direita "Pró-Chemnitz", que o difundiu nas redes.

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