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Impasse eleitoral na Flórida será resolvido com segunda contagem manual

15/11/2018 23h11

Miami, 16 Nov 2018 (AFP) - Mais de uma semana depois das eleições de meio de mandato dos Estados Unidos, o estado da Flórida ainda carecia de resultados definitivos em dois de seus principais cargos eletivos e, mergulhado em um atoleiro de demandas e apelações, precisará de uma segunda contagem manual.

Não é a primeira vez que o estado do sudeste dos Estados Unidos chama a atenção de todo o país por vitórias eleitorais apertadas e seu caótico sistema eleitoral: aconteceu no ano 2000, quando o republicano George W. Bush venceu por mais de 500 votos seu adversário democrata, Al Gore, sendo eleito presidente depois de manter o país em suspense.

Nesta quinta-feira venceu o prazo que as autoridades eleitorais tinham para entregar os resultados de uma recontagem dos votos, que começou no sábado depois de não ter sido possível definir vencedores nas disputas pelo governo do estado, por um assento no Senado federal e outros postos locais nas eleições de 6 de novembro.

O condado de Palm Beach, na costa nordeste, não conseguiu cumprir o prazo das 15h locais (18h de Brasília) para entregar a recontagem dos votos devido a problemas em suas máquinas, mas serão levados em conta os resultados que suas autoridades eleitorais entregaram previamente.

"Foi um esforço heroico", disse a jornalistas a supervisora eleitoral de Palm Beach, Susan Bucher. "Mas ficamos estagnados por problemas mecânicos".

Por enquanto, o republicano Ron DeSantis, favorito do presidente Donald Trump, está no limiar da vitória à frente de seu adversário, o democrata Andrew Gillum, com uma diferença de 0,4%.

Gillum insiste em que todos os votos devem ser contados e ainda não aceita a vitória do adversário, depois de admiti-la na noite da eleição e de ter se retratado dias depois.

"Um voto rejeitado é justiça negada", disse em um comunicado. "Há dezenas de milhares de votos que ainda devem ser contados".

O jornal Miami Herald já dá como vencedor DeSantis, embora o resultado oficial só vá ser conhecido na terça-feira.

Outros dois postos, entre eles o de senador, continuavam tendo estreitas margens de vitória (inferiores a 0,25%), que o secretário de Estado da Flórida, Ken Detzner determinou nesta quinta uma recontagem manual cujos resultados devem ser entregues no domingo.

"Isto é o que estivemos falando desde o começo", disse Marc Elias, o advogado do candidato democrata, Bill Nelson, em teleconferência de imprensa.

Nelson, atual senador, defende o cargo ante o atual governador republicano, Rick Scott, que tem uma vantagem na disputa de pouco mais de 13.000 votos em uma participação eleitoral de 8 milhões.

Entretanto, uma dezena de demandas com todo tipo de argumentos caiu em diferentes seções eleitorais, exigindo anular ou incluir votos, ajustar prazos ou adiá-los.

Em um golpe para os democratas, o juiz federal Mark Walker - que delibera sobre um punhado de demandas vinculadas às eleições - negou uma moção que pedia o adiamento deste prazo para que pudessem ser contabilizados todos os votos de Palm Beach, um condado que tende a ser progressista.

Segundo o calendário eleitoral, os resultados das eleições serão certificadas na terça-feira da semana que vem.

- "Todos sabem como isto vai terminar" -Em meio a este caos, o mesmo juiz decidiu nesta quinta-feira pela manhã a favor de Nelson e do Partido Democrata, contrários a que 4.000 votos tivessem sido rechaçados porque as assinaturas dos eleitores apresentavam inconsistências.

O juiz Mark Walker determinou às seções eleitorais que permitam aos eleitores corrigir as cédulas rejeitadas por disparidade nas assinaturas antes das 17h locais de sábado (20h de Brasília).

"O assunto neste caso é definir se a lei da Flórida que permite que os oficiais eleitorais rejeitem os votos por correio e as cédulas provisórias devido à disparidade nas assinaturas e sem um padrão (...) supera o filtro da constitucionalidade. A resposta é simples: não", disse o juiz.

Rick Scott anunciou que vai apelar da decisão.

"Todo mundo sabe como isto vai terminar", disse seu porta-voz, Chris Hartline. "Quando a recontagem tiver concluído, nesta tarde, Nelson terá que decidir se quer preservar seu legado e sair com dignidade [do Senado] ou se quer ser lembrado para sempre como alguém que foi usado por grupos com interesses liberais".

Independentemente de quem vença, os republicanos vão manter a maioria no Senado, mas se o assento continuar nas mãos dos democratas, a vantagem será menor.

O presidente Donald Trump meteu a colher na disputa na Flórida, denunciando fraude eleitoral e exigindo dos candidatos democratas que aceitem a derrota.