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Médicos cubanos começam a abandonar Brasil

23/11/2018 00h45

Brasília, 23 Nov 2018 (AFP) - Centenas de médicos cubanos aguardavam nesta quinta-feira, no Aeroporto de Brasília, os primeiros voos fretados para voltar à Ilha, após a decisão de Havana de suspender sua participação no programa "Mais Médicos", devido às críticas do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

Com a saída deste primeiro grupo, integrado por 430 profissionais, começa a retirada dos mais de 8.300 cubanos que atuavam no programa e que deverá ser concluída até 12 de dezembro.

Carregando volumosa bagagem, incluindo muitos eletrodomésticos (difíceis de adquirir em Cuba), os médicos cubanos se aglomeravam no Aeroporto de Brasília desde o início da tarde.

Os voos estavam previstos para às 22H00 local, mas ocorreu atraso.

"Nas primeiras horas desta sexta-feira começarão a chegar à Pátria os apóstolos da saúde cubana que são #MasQueMedicos. Nossa homenagem a estes homens e mulheres que fizeram história no Brasil. Bem-vindos para casa", escreveu no Twitter o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, que deve receber os médicos no aeroporto.

Esta primeira leva de médicos parte apenas uma semana após Cuba anunciar - na quarta-feira passada - que abandonaria o programa Mais Médicos, do qual participava desde sua criação, em 2013, através da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS).

A decisão de Havana foi provocada pela posição de Bolsonaro de condicionar a permanência dos médicos cubanos à aprovação em exames para revalidar suas competências, ao recebimento dos salários integrais e à autorização para a vinda de suas famílias ao Brasil.

"Eu acho que é um pouco ruim para o povo brasileiro, principalmente para o povo pobre, que se va a sentir a falta dos 8.500 médicos cubanos que estão indo embora", declarou o médico Joendri Vera Fernández enquanto aguardava para despachar sua bagagem.

- 'Escravidão' -Lançado em 2013 pela presidente Dilma Rousseff, o programa 'Mais médicos' permitiu dar assistência à população das regiões mais pobres e rurais do Brasil, principalmente graças à chegada de profissionais cubanos, que atualmente ocupavam metade dos postos do programa.

No contrato, a Ilha pagava um salário aos seus médicos em missão de cerca de 30% do valor desembolsado pelo Brasil, mantendo seus salários e postos de trabalho em Cuba e dedicando o restante do dinheiro ao orçamento estatal.

"É a situação de praticamente escravidão a qual estão sendo submetidos os médicos e as médicas cubanas do Brasil. Imaginou confiscar da senhora 70% do seu salario?" - questionou Bolsonaro.

O Ministério da Saúde abriu inscrições para preencher as vagas com médicos brasileiros e, posteriormente, com profissionais estrangeiros.

O processo de seleção terminará este mês e os profissionais vão se apresentar aos municípios imediatamente.

Os médicos e paramédicos cubanos trabalham em 67 países, uma prática iniciada nos primeiros anos da revolução de Fidel Castro em 1959 e que foi qualificada como "diplomacia de jalecos brancos".

Estes serviços representam a principal fonte de renda da ilha, com 11 bilhões de dólares ao ano, acima do turismo e das remessas do exterior, embora em muitos casos Cuba ofereça cooperação gratuita, como acontece no Haiti.