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Conheça o movimento francês dos 'coletes amarelos' em cinco perguntas

27/11/2018 15h55

Paris, 27 Nov 2018 (AFP) - O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou nesta terça-feira (27) que não deixará de aumentar um imposto aos combustíveis, apesar dos 10 dias de protestos dos "coletes amarelos", embora já tenha anunciado algumas concessões.

Veja a seguir cinco dados sobre este movimento apolítico e sem líder visível que tem levado milhares de franceses às ruas mediante convocações feitas nas redes sociais.

- Quem são os 'coletes amarelos'? -O movimento dos "coletes amarelos" nasceu em poucas semanas à margem dos sindicatos e partidos políticos. O estopim: a alta dos preços dos combustíveis.

Seu nome faz referência à vestimenta fosforescente utilizada por todo motorista na Franca em caso de incidente em uma estrada para ter mais visibilidade.

Apoiado principalmente pelas pessoas que vivem na periferia, em províncias ou zona rurais, se tornou um movimento mais amplo contra a política tributária do governo, que muitos consideram que favorece os mais ricos.

"Não estão questionando o imposto em si, mas a ideia de que não está sendo dividido de forma equitativa", declara Alexis Spire, diretor de pesquisa do CNRS.

Mas as reivindicações dos "coletes amarelos" são diversas. Alguns pedem que seja restabelecido um imposto aos mais ricos, enquanto outros, medidas para aumentar o poder aquisitivo, e os mais radicais querem a renúncia de Macron.

- No que difere de outros movimentos? -Alguns o comparam com a revolta dos "gorros vermelhos" bretões que obrigaram o governo socialista de François Hollande (2012-2017) a eliminar um imposto aos caminhões para lutar contra a contaminação.

Mas para Danielle Tartakowsky, professora de História Contemporânea, este é "inédito" em vários aspectos. "Primeiro porque nasceu nas redes sociais (...) e segundo porque recorre a um novo modelo de organização", desligado dos corpos intermediários.

E apesar de ter semelhanças com o "Nuit Débout", a versão francesa dos "Indignados" do 15-M na Espanha, os analistas concordam que, sociologicamente, não se trata das mesmas bases.

Os "Indignados franceses" eram jovens urbanos, formados, preocupados com a falta de oportunidades, enquanto os "coletes amarelos" são operários, funcionários precários, de zonas rurais ou cidades de tamanho médio, assinala Jérôme Sainte-Marie, diretor do instituto de pesquisas PollingVox.

"Estes territórios sofreram uma diminuição dos serviços públicos nos últimos anos. Seus habitantes se sentem abandonados pelos poderes públicos e ignorados pelos políticos", aponta Spire.

- Quão grande é este movimento? -No sábado, 17 de novembro, primeiro dia de ação nacional convocado pelos "coletes amarelos", 300 mil pessoas participaram de protestos em todo o país, com um balanço de dois mortos e mais de 600 feridos.

Os protestos esporádicos continuaram ao longo da semana, com bloqueios de estradas e de depósitos de combustíveis.

No sábado passado (24) apenas participaram pouco mais de 100 mil pessoas em manifestações em toda a França, oito mil delas em Paris.

A atenção foi focada na capital francesa, onde aconteceram confusões enfre manifestantes e a polícia na avenida dos Champs-Élysées, com um balanço de 103 detidos.

- O que Macron anunciou? -Apesar de, segundo as pesquisas, a maioria dos franceses apoiar o movimento, Emmanuel Macron anunciou nesta terça-feira (27) que não deixará de aumentar este imposto diante do "alerta ambiental".

"Fim do mundo ou fim do mês, precisamos trata as duas" questões, assinalou o presidente, reafirmando a necessidade de conciliar as exigências sociais e a urgência ambiental.

Entretanto, anunciou que imposto sobre a gasolina e o diesel será adaptado em função da flutuação do preço do barril de petróleo.

Concretamente, se o preço subir, o governo poderia decidir suspender ou reduzir este aumento. Mas, por enquanto, se mantém como planejado e entrará em vigor em 1º de janeiro de 2019.

Anunciou também uma "grande consulta" sobre "a transição ecológica e social", um pacote de medidas para estimular os franceses a adotar modos de vida e de transporte menos poluentes, pelo que justifica a alta dos combustíveis.

E pediu ao seu ministro de Transição Ecológica, François de Rugy, que receba membros dos "coletes amarelos" nesta terça à tarde no Palácio do Eliseu.

- Este movimento pode durar? -Até o momento, os "coletes amarelos" gozam de um amplo apoio público. Uma pesquisa realizada na semana passada mostrou que 70% dos perguntados considerava os protestos justificados.

Mas a queda da participação nas manifestações sugere que o movimento está caindo.

"O movimento poderia desaparecer por desgaste", adverte Jérôme Sainte-Marie.

"Se no próximo sábado só saírem às ruas 50 mil pessoas, poderia ser o seu fim", previu.

"Mas o que fez o movimento aflorar - a rejeição à política de Macron - não desaparecerá tão fácil", concluiu.