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Putin expressa preocupação da Rússia com lei marcial na Ucrânia

27/11/2018 13h16

Moscou, 27 Nov 2018 (AFP) - O presidente russo, Vladimir Putin, expressou nesta terça-feira a "séria preocupação" de Moscou depois que a Ucrânia instaurou a lei marcial e pediu a chanceler alemã Angela Merkel que tente dissuadir Kiev de qualquer ato "irracional" em resposta à captura de três embarcações ucranianos pela frota de Moscou.

O Parlamento ucraniano aprovou na segunda-feira a instauração da lei marcial nas regiões de fronteira após os incidentes no estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov.

A decisão sem precedentes desde a independência da ex-república soviética em 1991 foi adotada por iniciativa do presidente ucraniano Petro Poroshenko, que apresentou como justificativa o crescente risco de uma ofensiva terrestre russa.

A frota russa capturou no domingo dois navios de patrulha e um rebocador ucranianos. Vinte marinheiros foram detidos.

A Rússia justificou a ação afirmando que agiu "em estrita conformidade" com "o direito internacional" e acusou os navios ucranianos de incursão ilegal em águas territoriais russas diante da península anexada da Crimeia.

A diplomacia russa, que convocou na segunda-feira o encarregado de negócios ucraniano em Moscou, acusou Kiev de "criar um pretexto para reforçar as sanções" ocidentais contra a Rússia, em vigor desde 2014.

Putin "disse esperar que Berlim possa influenciar as autoridades ucranianas para dissuadi-las de outros atos irracionais", segundo um comunicado do Kremlin.

Para o presidente russo, "é evidente que tudo isso está relacionado com a campanha eleitoral na Ucrânia", cuja eleição presidencial está prevista para o ano que vem.

- "Séria preocupação" -A lei marcial, que será aplicada a partir de quarta-feira na Ucrânia em várias regiões de fronteira, em particular com a Rússia, Belarus e as zonas costeiras do Mar de Azov, permitirá durante um mês que as autoridades ucranianas mobilizem a população, controlem os meios de comunicação e limitem as reuniões públicas.

O incidente entre a Guarda Costeira russa, vinculada ao Serviço Federal de Segurança (FSB), e os navios ucranianos aconteceu no domingo no Mar Negro, quando as embarcações tentavam entrar no estreito de Kerch para chegar ao Mar de Azov, uma rota marítima crucial para as exportações de cereais ou aço produzidos no leste da Ucrânia.

Kiev informou que seis marinheiros ucranianos ficaram feridos. Moscou citou três.

Um tribunal da península emitiu uma ordem de prisão temporária para três deles, acusados de cruzar ilegalmente a fronteira russa, segundo a delegada para os direitos Humanos da Crimeia, Liudmila Lubina.

Doze marinheiros ucranianos devem ser apresentados nesta terça a um juiz em Simferopol, capital da península, segundo a mesma fonte.

Na segunda à noite, a imprensa russa transmitiu trechos do interrogatório dos marinheiros capturados em que um homem apresentado como capitão afirma que os movimentos de seu navio eram uma "provocação", repetindo a versão de Moscou.

O comandante da marinha ucraniana, Igor Voronshenko, chamou as declarações de "mentiras" proferidas, segundo ele, "sob pressão".

Por sua vez, o serviço de segurança ucraniano (SBU) admitiu em comunicado que alguns de seus "oficiais" estavam a bordo dos navios capturados pela guarda costeira russa.

O incidente motivou uma avalanche de críticas a Moscou.

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, denunciou na segunda-feira durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança uma ação "ilegal" da Rússia, que torna "impossível uma relação normal" entre Washington e Moscou.

"Não gostamos do que está acontecendo", disse o presidente americano Donald Trump, sugerindo que trabalhará com os países europeus para solucionar a crise.

A França pediu que as partes "tranquilizem" a situação.

O incidente foi o mais recente em um período de tensão no estreito de Kerch.

Desde a anexação da Crimeia em 2014, a Rússia reivindica o controle do estreito de Kerch, a única rota marítima entre o Mar Negro e o de Azov.

As relações entre Rússia e Ucrânia estão em uma profunda crise desde 2014. Pouco depois da anexação da Crimeia explodiu um conflito armado no leste ucraniano entre as tropas de Kiev e os separatistas. Mais de 10.000 pessoas morreram desde então.

Kiev e o Ocidente acusam a Rússia de apoiar militarmente os separatistas, o que Moscou nega. O Ocidente impôs importantes sanções econômicas à Rússia pela anexação da Crimeia e seu suposto papel na guerra no leste da Ucrânia.