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Jornalistas, na alça de mira das máfias, segundo ONG

29/11/2018 17h18

Paris, 29 Nov 2018 (AFP) - Os jornalistas são alvo frequente das máfias no mundo, com 30 profissionais mortos nos últimos dois anos, a metade deles no México, alertou nesta quinta-feira (29) a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) em um relatório.

Estas organizações criminosas "estenderam seus tentáculos por todo o planeta, mais rápido que todas as multinacionais juntas", afirmou o autor do relatório, o jornalista investigativo Frédéric Ploquin.

Em 2018, 12 jornalistas foram mortos pela máfia, principalmente no México (4) e Brasil (3), além dos três funcionários do jornal El Comercio do Equador que foram assassinados por dissidentes das Farc na Colômbia.

Outros quatro assassinatos estão sendo investigados no México, "e este número, já preocupante, poderia aumentar devido ao fato de que neste país os mafiosos e os políticos se misturam ou se aliam para calar os jornalistas", segundo o relatório da RSF, sediada em Paris.

No ano anterior, morreram no mundo ao menos 14 repórteres pelas máfias, nove deles no México, como Cándido Ríos Vázquez, que investigava o narcotráfico local no estado de Veracruz, antes de ser assassinado a tiros.

A RSF dá conta, ainda, de ao menos cinco tentativas de assassinato de jornalistas no mundo por parte destes grupos criminosos, "sem contar as muitas agressões e ameaças, assim como a destruição de meios de comunicação". Em seu domicílio, em seu trabalho ou por meio das redes sociais, os jornalistas nestas situações devem escolher entre "se calar ou morrer".

- Jornalismo investigativo -A Europa também é afetada por este problema, com os assassinatos dos jornalistas investigativos Daphne Caruana, falecida em 2017 na explosão de seu carro em Malta, e Jan Kuciak, que morreu junto com sua companheira em 2018 na Eslováquia.

Ambos trabalhavam sobre a máfia italiana e sobre algumas de suas operações financeiras nas que estavam implicados empresários e políticos.

Na Itália, só em 2017, 196 jornalistas se beneficiaram de medidas de proteção e uma dezena, como Roberto Saviano, autor do livro sobre a camorra "Gomorra", vivem com escolta policial permanente.

Em Apulia, no sul da Itália, a jornalista Marilù Mastrogiovanni, que investiga a organização mafiosa Sacra Corona Unita, recebe ameaças continuamente e vive sob proteção. "Não há policiais suficientes para combater a máfia, e ainda menos para defender os jornalistas", segundo Mastrogiovanni.

Diante das ameaças, alguns jornalistas encerram suas investigações, outros decidem se mudar ou se exilar, e alguns compartilham suas informações, principalmente com colegas de consórcios internacionais de investigação.

"Os jornalistas que investigam assuntos tão perigosos como a máfia se encontram com frequência sozinhos e impotentes diante das represálias", ressalta em um comunicado Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, chamando as autoridades a garantir-lhes "um apoio e uma proteção adequadas e não se fazerem de surdos".

tsz-app/pc/db/mvv