Degradação ambiental está diretamente relacionada com as finanças, diz estudo
Santiago, 30 Nov 2018 (AFP) - É um fato que a exploração dos recursos naturais está diretamente relacionada com a deterioração do meio ambiente, mas um grupo de pesquisadores suecos denuncia que o capital escondido em paraísos fiscais financia as empresas que operam na Amazônia brasileira e as pesqueiras.
"O capital financeiro está moldando os ecossistemas em todo o mundo", afirma Víctor Galaz, subdiretor do Centro de Resiliência de Estocolmo, na apresentação, nesta sexta-feira (30) em Santiago, de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Estocolmo.
Entre outubro de 2000 e agosto de 2011, 68% do capital externo que chegou a nove companhias do setor da soja e da carne bovina que operam na Amazônia brasileira foi transferido através de algum ou vários paraísos fiscais, principalmente das Bahamas, Ilhas Cayman, Antilhas holandesas e Panamá, aponta o estudo. No total, 18 bilhões dos 27 bilhões de dólares que receberam neste período.
"Isto representa até 90-100% do capital estrangeiro para algumas companhias pesquisadas", diz o estudo, em que participaram, além de Galaz, Beatrice Crona, Alice Dauriach, Jean-Baptiste Jouffray, Henrik Österblom e Jan Fichtner.
Mas nem todo o capital vem de fora. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) injetou cerca de 3 bilhões de dólares só em 2010.
Muitas multinacionais recebem 100% de capital estrangeiro através de suas próprias filiais situadas em paraísos fiscais, afirma o pesquisador.
O que ocorreu com estas nove empresas pôde ser estabelecido porque o Brasil era o único país que transparentava este tipo de operações através do Banco Central, desde 2000, mas a normativa foi abolida em agosto de 2011.
Os dados incluíam empréstimos de entidades estrangeiras, transações de leasing/aluguel e transações relacionadas com o comércio financeiro, como o adiantamento do pagamento das exportações e as transações financeiras para a importação.
No caso das empresas pesqueiras, embora só 4% dos navios de pesca registrados tenham bandeira de algum país paraíso fiscal, 70% dos navios que estão ou estiveram implicados em pesca ilegal tem bandeira de algum paraíso fiscal, afirma o estudo intitulado "Paraísos fiscais e degradação ambiental global".
O risco é que, quando se explora um sistema além de certo ponto, todo o ecossistema mundial é afetado, alertam os especialistas. "Há um limite para o desmatamento e o aquecimento porque existe o risco de que, caso se supere esse limite, parte da Amazônia se tornará uma savana", alerta Galaz.
- Risco sistêmico -Por isso, "quando alertamos sobre a presença do setor financeiro (na exploração florestal), não é só para proteger a biodiversidade, o valor ecológico dessa floresta, mas para proteger a integridade do sistema climático. Se não se tem isso em conta, estamos ignorando um risco sistêmico na forma como estamos investindo", afirma.
"O acesso ao capital importa" e a maior quantidade de capital no mundo "não é verde, é cinza ou preto", afirma Galaz no país de seus ancestrais.
Embora as implicações políticas, econômicas e sociais relacionadas com estas jurisdições financeiras secretas sejam conhecidas, seu papel de apoio a atividades com consequências potencialmente negativas para o meio ambiente foram até agora amplamente ignoradas, lembra o estudo.
Boa parte do papel que estes paraísos fiscais jogam na economia mundial foi revelada nos chamados 'Papéis do paraíso' e 'Papéis de Panamá', que mostraram o modus operandi destas jurisdições financeiras secretas para escapar à transparência e eludir o pagamento de impostos, que poderia atingir 200 bilhões de dólares por ano.
Por isso, conclui Galaz, se os governos combatessem os paraísos fiscais, o meio ambiente também se beneficiaria, assim como de uma maior transparência sobre os fluxos de capital.
"O nível de secretismo financeiro é impressionante. É uma batalha constante ter informação financeira sobre investimentos", lamenta.
"O capital financeiro está moldando os ecossistemas em todo o mundo", afirma Víctor Galaz, subdiretor do Centro de Resiliência de Estocolmo, na apresentação, nesta sexta-feira (30) em Santiago, de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade de Estocolmo.
Entre outubro de 2000 e agosto de 2011, 68% do capital externo que chegou a nove companhias do setor da soja e da carne bovina que operam na Amazônia brasileira foi transferido através de algum ou vários paraísos fiscais, principalmente das Bahamas, Ilhas Cayman, Antilhas holandesas e Panamá, aponta o estudo. No total, 18 bilhões dos 27 bilhões de dólares que receberam neste período.
"Isto representa até 90-100% do capital estrangeiro para algumas companhias pesquisadas", diz o estudo, em que participaram, além de Galaz, Beatrice Crona, Alice Dauriach, Jean-Baptiste Jouffray, Henrik Österblom e Jan Fichtner.
Mas nem todo o capital vem de fora. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) injetou cerca de 3 bilhões de dólares só em 2010.
Muitas multinacionais recebem 100% de capital estrangeiro através de suas próprias filiais situadas em paraísos fiscais, afirma o pesquisador.
O que ocorreu com estas nove empresas pôde ser estabelecido porque o Brasil era o único país que transparentava este tipo de operações através do Banco Central, desde 2000, mas a normativa foi abolida em agosto de 2011.
Os dados incluíam empréstimos de entidades estrangeiras, transações de leasing/aluguel e transações relacionadas com o comércio financeiro, como o adiantamento do pagamento das exportações e as transações financeiras para a importação.
No caso das empresas pesqueiras, embora só 4% dos navios de pesca registrados tenham bandeira de algum país paraíso fiscal, 70% dos navios que estão ou estiveram implicados em pesca ilegal tem bandeira de algum paraíso fiscal, afirma o estudo intitulado "Paraísos fiscais e degradação ambiental global".
O risco é que, quando se explora um sistema além de certo ponto, todo o ecossistema mundial é afetado, alertam os especialistas. "Há um limite para o desmatamento e o aquecimento porque existe o risco de que, caso se supere esse limite, parte da Amazônia se tornará uma savana", alerta Galaz.
- Risco sistêmico -Por isso, "quando alertamos sobre a presença do setor financeiro (na exploração florestal), não é só para proteger a biodiversidade, o valor ecológico dessa floresta, mas para proteger a integridade do sistema climático. Se não se tem isso em conta, estamos ignorando um risco sistêmico na forma como estamos investindo", afirma.
"O acesso ao capital importa" e a maior quantidade de capital no mundo "não é verde, é cinza ou preto", afirma Galaz no país de seus ancestrais.
Embora as implicações políticas, econômicas e sociais relacionadas com estas jurisdições financeiras secretas sejam conhecidas, seu papel de apoio a atividades com consequências potencialmente negativas para o meio ambiente foram até agora amplamente ignoradas, lembra o estudo.
Boa parte do papel que estes paraísos fiscais jogam na economia mundial foi revelada nos chamados 'Papéis do paraíso' e 'Papéis de Panamá', que mostraram o modus operandi destas jurisdições financeiras secretas para escapar à transparência e eludir o pagamento de impostos, que poderia atingir 200 bilhões de dólares por ano.
Por isso, conclui Galaz, se os governos combatessem os paraísos fiscais, o meio ambiente também se beneficiaria, assim como de uma maior transparência sobre os fluxos de capital.
"O nível de secretismo financeiro é impressionante. É uma batalha constante ter informação financeira sobre investimentos", lamenta.
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