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Macron anuncia aumento do salário mínimo para acalmar 'coletes amarelos'

10/12/2018 21h55

Paris, 10 dez 2018 (AFP) - O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou nesta segunda-feira (10) uma série de medidas para desmobilizar o movimento dos "coletes amarelos", como o aumento em 100 euros do salário mínimo, e afirmou considerar "justa" sua revolta em muitos aspectos.

Em um discurso televisionado para tentar encontrar uma saída para a crise dos "coletes amarelos", o chefe de Estado enumerou várias medidas, entre elas o aumento do salário mínimo em cem euros mensais sem custo para o empregador, a isenção para os aposentados com renda inferior a 2.000 euros de um recente aumento de impostos e o pagamento de horas extras "sem impostos, nem encargos" a partir de 2019.

O salário mínimo mensal na França é de 1.498 euros brutos e 1.344 euros líquidos.

"Minha única preocupação são vocês, minha única luta é por vocês", disse Macron durante quase 13 minutos de discurso no Palácio Presidencial do Eliseu.

Macron também pediu às empresas "que puderem" que paguem a seus funcionários um bônus de fim de ano também isento de impostos e encargos sociais.

"Queremos uma França onde se possa viver dignamente do trabalho. Peço ao governo e ao Parlamento para fazerem o necessário para isso", declarou Macron, antes de anunciar o aumento do salário mínimo.

O presidente admitiu que considerava "justa em muitos aspectos" a revolta dos manifestantes e que era consciente de ter "ferido" seus compatriotas com certas declarações durante protestos que ele atribuiu a "40 anos de mal-estar que ressurgem".

No início de sua fala, Macron condenou a "violência inadmissível" registrada durante as manifestações iniciadas em novembro e assegurou que "esta violência não se beneficiará de nenhuma indulgência".

Macron revelou que se sente "responsável" por não ter agido com a rapidez necessária para reformar o país e assim ajudar os mais pobres da sociedade.

Fazendo referência a um "estado de emergência econômica e social", o jovem presidente destacou o "momento histórico" no qual a França se encontra.

Segundo fontes policiais, desde o primeiro protesto dos "coletes amarelos", em 17 de novembro, as forças de segurança francesa detiveram 4.523 pessoas em todo o país após confrontos que bloquearam as ruas de várias cidades francesas, transformadas em campos de batalha entre manifestantes e a Polícia.

Só no sábado, no quarto ato desta mobilização inédita, cerca de 2.000 pessoas foram detidas - um recorde no país.

A brecha entre os franceses parece se aprofundar entre parte da população que se sente cada vez mais pobre e afirma não ser ouvida pelas elites, e Macron, rotulado de o "presidente dos ricos".

Os "coletes amarelos" criticam a supressão do imposto sobre as fortunas, adotada por Macron quando chegou ao poder, há 18 meses, uma medida considerada um "presente para os ricos".

Já desde sábado, após manifestações em todo o território francês, o premiê Edouard Philippe tinha feito concessões para "restabelecer a unidade nacional".

Mas as expectativas dos manifestantes são cada vez mais volumosas e não lhes basta que o governo tenha aberto mão de aumentar os impostos sobre os combustíveis, a reivindicação original deste movimento heterogêneo e sem liderança.

- Impacto econômico -A Comissão Europeia informou que analisará atentamente o impacto orçamentário das medidas anunciadas por Macron.

O estrago econômico da atual crise, que entra em sua quarta semana, preocupa a todos. Várias lojas de Paris e nas províncias decidiram não abrir nos últimos sábados devido aos protestos, renunciando a uma renda importante a duas semanas das festas de final de ano.

O ministro da Fazenda, Bruno Le Maire, informou nesta segunda-feira que os distúrbios e as manifestações já custaram à França 0,1% de seu PIB.