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EUA: mexicanos em situação ilegal serão devolvidos durante processo migratório

20/12/2018 21h47

Washington, 20 dez 2018 (AFP) - O governo de Donald Trump anunciou, nesta quinta-feira (20), que enviará para o México os imigrantes em situação ilegal que cruzarem a fronteira sul, enquanto a Justiça estiver trabalhando nos respectivos casos.

O objetivo é evitar que estes "desapareçam" em solo americano, segundo a administração.

O governo mexicano, por sua vez, informou que receberá os imigrantes, mas não aceitará os deportados.

O anúncio é feito no contexto do fracasso dos esforços do governo Trump para deter uma onda migratória - fundamentalmente de centro-americanos - que busca entrar nos Estados Unidos.

"Imigrantes que tentarem burlar o sistema para entrar no nosso país ilegalmente não poderão desaparecer nos Estados Unidos, onde muitos evitam as audiências judiciais", às quais devem comparecer para acompanhar seus casos de pedido de refúgio, anunciou a secretária de Segurança Interna, Kirstjen Nielsen.

"Eles vão esperar pela decisão de uma corte migratória no México. (A política de) 'Prender e soltar' será substituída pela de 'prender e devolver'", disse Nielsen.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, espera que esta decisão leve a uma queda histórica da imigração ilegal.

"O incentivo de vir aqui, solicitar o asilo e permanecer nos Estados Unidos durante a tramitação deste pedido não vai mais existir", afirmou.

Depois do anúncio, a embaixada do México afirmou que vai garantir os direitos dos migrantes que forem enviados para casa dos Estados Unidos enquanto tramitar seu pedido de refúgio. A missão diplomática esclareceu, porém, que o país não vai aceitar pessoas deportadas pelos Estados Unidos.

O México "garantirá que as pessoas estrangeiras que tiverem recebido sua intimação gozem plenamente dos direitos e liberdades reconhecidos na Constituição", declarou o encarregado de negócios da embaixada mexicana em Washington, José Antonio Zabalgoitía, em entrevista coletiva.

O diplomata especificou que esta medida foi adotada por motivações "humanitárias".

"A medida se refere apenas aos solicitantes de asilo e refúgio nos Estados Unidos", especificou Zabalgoitía.

"Não vamos aceitar deportados pelos Estados Unidos", esclareceu ele na entrevista coletiva.

No último ano, milhares conseguiram atravessar a fronteira para pedir refúgio, forçando os Estados Unidos a analisar seus casos, algo que pode levar meses, ou anos. Por esta razão, os imigrantes são soltos à espera do processo.

Nielsen afirmou que a decisão de quinta-feira vai reduzir a migração clandestina, "ao retirar um dos principais incentivos para que as pessoas se lancem na perigosa viagem aos Estados Unidos".

- O muro -Donald Trump tomou o tema da luta contra a imigração como o eixo de sua campanha eleitoral e voltou a atiçar a polêmica durante as eleições de meio de mandato, em novembro passado.

Depois que uma caravana de migrantes hondurenhos que saiu de San Pedro Sula em outubro captou a atenção de Trump, ele alertou para uma suposta "invasão" que ameaçava o país e retomou o tema do muro, apresentando-o como uma emergência nacional, mobilizando a Guarda Nacional e efetivos do Exército para assisti-los.

Em sua campanha contra a imigração, a construção de um muro na fronteira com o México ocupa papel central e nesta quinta-feira, Trump afirmou que não vai assinar um projeto de orçamento que não inclua um financiamento para o muro, apesar da ameaça iminente de que uma falta de acordo provoque o temido "shutdown" do governo federal.

- "Alguém tem que ser adulto" -Para a União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), fechar a fronteira a pessoas que percorreram milhares de quilômetros buscando segurança nos Estados Unidos é uma "afronta aos valores americanos".

"Obrigar os demandantes de asilo a ficar no México é a última de uma série de medidas punitivas cruéis impulsionadas pelo governo Trump, que são fundamentalmente contrárias ao compromisso da nossa nação de dar proteção a quem foge da perseguição", disse Chris Rickerd, assessor principal da organização.

Zabalgoitía pediu para "não transformar os migrantes em uma bola de pingue-pongue".

O representante disse que o México "reconhece que o governo dos Estados Unidos tem o direito de determinar sua política migratória, conforme seus interesses", mas que a aplicação desta medida está orientada aos migrantes.

"Antepomos o bem estar dos migrantes, não vamos colocá-los em uma situação de dupla vulnerabilidade. Preferimos recebê-los", afirmou.

"Em uma situação em que se tem esse confronto, alguém tem que ser adulto no recinto", concluiu.