Londres quer tratar epidemia de criminalidade como problema de saúde pública
Londres, 21 dez 2018 (AFP) - As autoridades londrinas, que enfrentam o aumento das cifras de criminalidade há vários anos, decidiram tratar este fenômeno como um problema de saúde pública e aplicar métodos utilizados na luta contra as epidemias.
Só em 2018, Londres foi palco de 133 homicídios, dos quais dois terços foram cometidos com armas brancas. O número de agressões com facas que provocaram ferimentos subiu para 5.570, um nível recorde.
Diante destas estatísticas, uma solução que parece contar com o consenso da classe política britânica é tratar estes crimes como uma epidemia.
As autoridades escocesas adotaram a mesma estratégia a partir de 2005, pouco depois da Escócia ter sido qualificada como a "nação mais perigosa do mundo desenvolvido" em um informe das Nações Unidas, segundo o qual 2.000 escoceses eram agredidos por semana.
Este enfoque, teorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), parte do princípio de que a violência é um fenômeno contagioso: as pessoas expostas ou vítimas de violência serão mais suscetíveis de reproduzir comportamentos violentos. Portanto, é preciso evitar o contágio.
Na Escócia, foi implementada uma Unidade de Redução da Violência (SVRU, sigla em inglês) para aplicar esta ideia, contou à AFP seu diretor, Niven Rennie.
"Em dez anos, reduzimos o número de homicídios, agressões e a posse de armas em mais de 50%", declarou.
Para isso, a unidade desenvolveu uma estratégia em três etapas. Primeiro, reforçou as penas contra os indivíduos portadores de armas ou autores de agressão para isolá-los e limitar a propagação da violência.
Depois, identificou as pessoas mais perigosas, concentrando-se nas quadrilhas, e propôs a elas um acompanhamento na busca de emprego e em direção a uma vida "estável". "Descobrimos que um grande número de pessoas implicadas na violência na realidade buscavam uma saída. Foi uma grande descoberta naquele momento", detalha Rennie.
A partir de 2012, a unidade desenvolveu ações de prevenção nas escolas e hospitais, a fim de consolidar os resultados obtidos.
Embora a violência conjugal ou sexual continue estando no centro da preocupação, o método escocês se tornou um exemplo a seguir, e os responsáveis políticos londrinos recorrem a Glasgow em busca de ideias.
No parlamento britânico, o grupo multipartidário sobre violência com arma branca e a Comissão de Violência Juvenil apoiam a unidade, que em 13 de dezembro foi objeto de um debate em sessão plenária pela primeira vez.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, lançou sua própria Unidade de Redução da Violência, copiando até o nome. E o distrito londrino de Lambeth, um dos mais afetados pela criminalidade juvenil e pelas agressões com facas, elabora atualmente uma estratégia baseada nesta abordagem de saúde pública.
- "Sentimento de insegurança" -Segundo uma pesquisa realizada pela Comissão de Violência Juvenil, 70% dos londrinos de entre oito e 24 anos são expostos a situações de "violência grave" ao menos uma vez por mês.
"É preciso compreender o sentimento de insegurança que estes jovens sentem", afirma à AFP Duncan Bew, cirurgião de traumatologia no King's College Hospital de Londres, e especialista da Comissão. "É por isso que começam a andar armados, porque se sentem em perigo".
O médico expressa sua frustração de ver estas vítimas passarem por sua mesa de operações, e considera que alguns atos violentos poderiam ser "evitados".
O criminologista Simon Harding, da Universidade West London, alerta das dificuldades de aplicar este método sem a participação das pessoas interessadas. "As respostas virão das comunidades", declara à AFP.
Ele defende uma aproximação "sob medida", adaptada às particularidades sociológicas londrinas, e que implique tanto as autoridades como as associações, as escolas e os hospitais, seguindo o exemplo escocês.
apz/oaa/bc/pc/db/mvv
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