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Erdogan e Trump prometem evitar vácuo de poder na Síria após saída dos EUA

23/12/2018 20h41

Ancara, 23 dez 2018 (AFP) - Os presidentes da Turquia e dos Estados Unidos, Recep Tayyip Erdogan e Donald Trump, coincidiram neste domingo (23) na necessidade de se evitar um vácuo de poder na Síria depois que as tropas americanas se retirarem do país devastado pela guerra.

Em um telefonema, os dois chefes de Estado se comprometeram a "assegurar a coordenação militar, diplomática e em outras áreas para evitar um eventual vácuo de poder (...) após a retirada e a fase de transição na Síria", informou o governo turco em um comunicado.

Trump surpreendeu a maioria de seus aliados na quarta-feira ao ordenar a retirada dos 2.000 soldados de seu país mobilizados em território sírio.

A iniciativa surpreendeu inclusive o próprio governo a ponto de levar à demissão do secretário da Defesa, Jim Mattis, e do enviado especial para a coalizão contra o Estado Islâmico, Brett McGurk.

Mas a Turquia, ao contrário, elogiou a iniciativa.

Neste domingo, Erdogan - segundo o comunicado turco - informou a Trump que seu país estava "preparado para apoiá-lo" durante a retirada.

Mais cedo, tanto Erdogan quanto Trump haviam informado através de suas respectivas contas no Twiter terem tido uma produtiva conversa telefônica.

Trump tuitou que os dois líderes tiveram "um telefonema longo e produtivo", em que também falaram sobre o grupo Estado Islâmico (EI) e comércio, a participação dos dois países na Síria e a "retirada lenta e extremamente coordenada das tropas americanas da região".

Erdogan tuitou pouco depois que os dois líderes concordaram em "aumentar a coordenação em muitos temas, inclusive as relações comerciais e os desenvolvimentos na Síria", qualificando o telefonema como "produtivo".

As tropas americanas vão sair da Síria sob o comando do atual vice-secretário da Defesa Patrick Shanahan, um novo chefe do Pentágono, que assumirá o cargo em janeiro, depois que Jim Mattis se demitiu mencionando divergências com Trump sobre temas-chave, inclusive a Síria.

A saída dos Estados Unidos permitiria às tropas turcas agir contra o combatentes curdos na Síria, considerados terroristas por Ancara, mas que apoiaram firmemente os esforços de Washington naquele local.

Muitos políticos americanos e aliados internacionais temem que a retirada seja prematura e desestabilize ainda mais uma região já devastada pela guerra.

Uma retirada americana "abrirá caminho para que a Turquia inicie operações contra os curdos, e iniciará uma guerra sangrenta", prevê o analista de assuntos curdos Mutlu Civiroglu.

Neste domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que "lamentava profundamente" a decisão de Trump e que "um aliado deve ser confiável".

Vários políticos americanos dos dois partidos rechaçaram a afirmação de Trump de que o EI tinha sido derrotado, e muitos no Exército dos Estados Unidos expressaram alarme e consternação ante a ideia de abandonar repentinamente aos parceiros curdos de Washington.