Confrontos por presença de mulheres em templo deixam um morto na Índia
Thiruvananthapuram, Índia, 3 Jan 2019 (AFP) - Uma pessoa morreu e ao menos 15 ficaram feridas nos confrontos registrados no estado de Kerala, sul da Índia, depois que duas mulheres entraram em um templo hindu desafiando os mais tradicionalistas, anunciou a polícia local nesta quinta-feira.
Os enfrentamentos explodiram depois que as duas mulheres entraram escondidas e sob proteção policial no santuário hindu de Sabarimala, onde as mulheres com idades entre 10 e 50 anos - consideradas impuras por menstruar - têm a entrada proibida.
Em setembro, a Suprema Corte revogou a proibição de décadas de que mulheres em idade fértil entrassem no templo banhado a ouro de Sabarimala. Desde então, muitas ativistas tentaram entrar no templo, enfrentando a resistência de milhares de devotos.
Na terça-feira, milhares de mulheres formaram uma corrente humana para apoiar a decisão da Justiça. O governo de esquerda do estado apoiou esta manifestação batizada "Muro de mulheres".
Na quarta, a polícia usou gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e jatos de água quando protestos e confrontos entre grupos rivais.
"A pessoa que morreu fazia parte da manifestação do Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi, de ontem e foi ferida no lançamento de pedras" contra os manifestantes, declarou à AFP o porta-voz da polícia Pramod Kumar.
"Seus ferimentos eram graves e faleceu na quarta à noite. Ao menos outras 15 pessoas ficaram feridas em incidentes em todo o estado", informou Kumar. Ao todo, a polícia prendeu 266 manifestantes.
Nas últimas semanas, tradicionalistas hindus - apoiados pelo Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi - impediram as tentativas de acesso das mulheres ao local, algumas vezes violentamente.
Em uma operação surpresa na madrugada de quarta, anunciada por ativistas, mas que enfureceu os devotos conservadores, a polícia permitiu que duas mulheres entrassem no templo e, em seguida, saíssem sem serem vistas.
Imagens de vídeo mostraram as mulheres de 42 anos, Kanaka Durga e Bindu, que tem apenas um nome, usando túnicas pretas e com as cabeças abaixadas enquanto corriam para dentro.
Assim que a notícia se espalhou, o líder espiritual do templo ordenou que este fosse fechado para um ritual de purificação. O santuário foi reaberto cerca de uma hora depois.
Líderes locais do BJP anunciaram dois dias de protestos em Kerala contra a violação. O estado é governado por uma aliança de partidos de esquerda.
Kerala segue sob tensão nesta quinta, e a polícia mobilizou reforços no estado para evitar novos episódios de violência.
Grande parte do comércio está fechado e o transporte público não funciona. Segundo a imprensa local, 99 ônibus foram danificados.
Alguns jornalistas foram agredidos em Palakkad durante uma manifestação organizada pelo BJP e o Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), uma poderosa organização de massas, matriz do nacionalismo hindu, no qual se inspira o atual primeiro-ministro indiano.
O chefe de governo de Kerala, Pinarayi Vijayan, acusou o BJP e o RSS de transformarem Sabarimala em um "campo de batalha".
O veredicto de setembro foi a mais recente decisão progressista do tribunal, apresentando um desafio para o tradicionalista BJP de Modi.
A restrição às mulheres em Sabarimala reflete uma crença - não exclusiva do Hinduísmo - de que mulheres em idade fértil, ou seja, que menstruam, são impuras.
Os tradicionalistas argumentam também que a divindade do templo, Ayyappa, era celibatária.
Desde setembro, data da decisão, as mulheres tentam entrar no templo, mas eram expulsas, às vezes violentamente, por devotos hindus. Por segurança, a polícia precisava escoltá-las.
A Suprema Corte deve começar a ouvir a contestação de sua decisão em 22 de janeiro.
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