Criação de Igreja ucraniana autônoma é celebrada em Istambul

Istambul, 6 Jan 2019 (AFP) - O patriarca Bartolomeu de Constantinopla apresentou, neste domingo (6), em Istambul, o decreto oficial confirmando a criação de uma Igreja ucraniana independente, um revés para a Igreja russa que denuncia um "cisma".
O evento, que conclui o processo de reconhecimento desta Igreja pelo patriarcado de Constantinopla, ocorreu durante a missa da Epifania na igreja ortodoxa de São Jorge, em Istambul, na presença do presidente ucraniano Petro Poroshenko, de acordo com um correspondente da AFP no local.
Este decreto, chamado "tomos", foi assinado no sábado (5) pelo patriarca Bartolomeu e pelo metropolita Iepifani, eleito em dezembro à frente da nova Igreja. Abre caminho para o reconhecimento desta Igreja por outras denominações cristãs.
"O sol sempre nasce depois da escuridão da noite. A injustiça (...) foi eliminada, a justiça foi restaurada", declarou Iepifani durante a cerimônia que ele co-celebrou com o patriarca Bartolomeu.
Saudando um evento que "permanecerá na história do nosso país", Poroshenko assegurou que "a Ucrânia respeitará a escolha religiosa e a liberdade religiosa de cada cidadão".
A campanha eleitoral para a presidência de 31 de março na Ucrânia e as pesquisas mais recentes apontam uma crescente popularidade para Poroshenko, que ainda não oficializou a sua candidatura.
Os sociólogos atribuem esta alta à criação da Igreja independente da Ucrânia, apresentada pelo presidente como uma das grandes conquistas do seu mandato.
Primeiro passo
Em outubro de 2018, o patriarcado da Constantinopla tomou a histórica decisão de reconhecer uma Igreja Ortodoxa independente na Ucrânia. A decisão provocou a ira da Igreja russa, que denunciou uma cisão e rompeu seus laços com Constantinopla.
Com sede em Istambul - a antiga Constantinopla, capital do império bizantino antes da conquista otomana em 1453 - o patriarca da Constantinopla é considerado "o primeiro entre seus iguais" e exerce uma primazia histórica e espiritual sobre os outros patriarcas do mundo ortodoxo.
Em dezembro de 2018, um concílio que se reuniu em Kiev aprovou a criação de uma nova Igreja ortodoxa, dando fim a 332 anos de controle religioso russo sobre a Ucrânia e elegeu o metropolita Iepifani, nascido Serguei Dumenko, de 39 anos, como seu chefe.
Crítico da influência religiosa russa na Ucrânia, Iepifani é considerado próximo ao patriarca de Kiev, Filaret, excomungado por Moscou pela criação de uma Igreja dissidente na Ucrânia em 1992, após a dissolução da URSS, e reabilitado em outubro por Constantinopla.
A Igreja da Ucrânia reúne o autoproclamado patriarcado de Kiev, com o maior número de fiéis, e a minúscula Igreja Autocéfala.
Um terceiro ramo, fiel ao patriarcado de Moscou, que perdeu alguns de seus fiéis desde o início da crise com a Rússia em 2014, mas ainda tem o maior número de paróquias na Ucrânia, rejeitou o concílio como "ilegal".
Alguns especialistas, como Regina Elsner, do Centro de Estudos do Leste Europeu em Berlim, acreditam que o reconhecimento de Constantinopla é apenas um "primeiro passo".
"Agora precisamos ver quantos bispos ucranianos se unirão a essa Igreja e quantas outras Igrejas ortodoxas a reconhecerão", diz ela.
As tensões religiosas são um novo episódio do divórcio político, cultural e social entre Kiev e Moscou desde a anexação da península ucraniana da Crimeia em 2014, e o início de um conflito armado entre o exército ucraniano e os separatistas pró-russos.
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