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Começa na Turquia julgamento de suspeitos do assassinato de embaixador russo

08/01/2019 16h06

Ancara, 8 Jan 2019 (AFP) - O julgamento de 28 pessoas suspeitas de envolvimento no assassinato do embaixador russo na Turquia começou nesta terça-feira (8), dois anos depois de um crime por trás do qual Ancara vê a mão de seu inimigo declarado, o clérigo Fethullah Gülen.

O embaixador Andrei Karlov foi assassinado em 19 de dezembro de 2016 por um policial turco, que não estava de serviço naquele dia. O crime aconteceu durante a abertura de uma exposição no centro da capital turca.

O assassino, identificado como Mevlüt Mert Altintas, gritou "Allahu Akbar" (Alá é grande, em árabe) e disse querer se vingar pela situação na cidade síria de Aleppo, prestes a ser completamente tomada pelo regime de Damasco com o apoio de Moscou. Ele foi abatido pelas forças de segurança no local do crime.

As impressionantes imagens ao vivo do assassinato deram a volta ao mundo.

Quase que imediatamente, a Turquia apontou a rede do clérigo Fethullah Gülen como culpada, responsabilizando-a também pelo frustrado golpe de Estado de 15 de julho de 2016. As autoridades turcas consideram a rede um "grupo terrorista".

O assassinato do embaixador Karlov sacudiu o país, que estava se recuperando da violenta tentativa de golpe alguns meses antes e depois de ser alvo de uma série de atentados.

Doze dos 28 suspeitos julgados são acusados por "pertencimento a uma organização terrorista", e os demais, por "tentativa de derrubar a ordem constitucional" e por assassinato ou tentativa de assassinato "com um objetivo terrorista", segundo o auto de acusação.

Destes, 13 estão atualmente em prisão preventiva.

No primeiro dia deste julgamento, que irá durar a semana toda, seis pessoas foram interrogadas. Elas negaram ter vínculo com o assassino e com o movimento de Gülen, embora alguns deles tenham admitido que o clérigo havia se aproximado.

- 'Caos' -Ainda de acordo com o auto, o objetivo do assassinato foi criar um "entorno de caos" e "romper" as relações bilaterais entre Turquia e Rússia, ao provocar um conflito entre os dois países.

A viúva de Karlov, Marina Karlova, apoiou esta hipótese em uma entrevista à emissora de televisão Rossiya-24.

"Acho que o objetivo deste assassinato era romper essas negociações e prejudicar as relações entre Rússia e Turquia", declarou.

O procurador de Ancara pede prisão perpétua para todos os acusados.

O crime ocorreu quando as relações entre Ancara e Moscou estavam muito tensas, depois da crise deflagrada pela destruição de um bombardeiro russo por parte da aviação turca, em novembro de 2015, acima da fronteira turco-síria.

Desde então, a situação mudou e Turquia e Rússia reforçaram a sua cooperação, especialmente na Síria, embora os dois países apoiem lados opostos.

Gülen, que mora nos Estados Unidos há cerca de 20 anos, é um dos suspeitos neste processo.

Em abril de 2018, as autoridades turcas emitiram uma ordem de prisão contra ele no âmbito da investigação do assassinato de Andrei Karlov.

Moscou nunca apoiou publicamente a pista de Gülen apresentada pela Turquia. Investigadores russos colaboraram na investigação turca, mas, como indica Selim Koru em um relatório do Foreign Policy Research Institute, "se fizeram descobertas diferentes, não disseram".

Desde 2016, milhares de pessoas foram acusadas de ter ligações com a rede de Gülen. Tanto os grupos de defesa dos direitos humanos como os aliados ocidentais de Ancara criticaram duramente essas detenções.