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Macron e Merkel assinam nova aliança franco-alemã, criticada por naciolanistas

22/01/2019 13h26

Aquisgrano, Alemanha, 22 Jan 2019 (AFP) - A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron defenderam nesta terça-feira sua intenção de aproximar os dois países e fazer avançar a União Europeia, assinando um novo tratado criticados pelos nacionalistas de ambos os países.

O novo tratado de cooperação franco-alemão prevê uma aproximação no setor de defesa, e quer ser "uma contribuição" para a futura criação de um Exército europeu - afirmou Merkel.

O texto foi assinado pela chanceler alemã e pelo presidente francês esta manhã, em Aachen, na Alemanha, a quatro meses das eleições legislativas europeias.

Prevê uma convergência das políticas econômica, externa e de defesa de ambos os países, uma cooperação nas regiões transfronteiriças, assim como uma "assembleia parlamentar comum" composta por 100 deputados franceses e alemães.

Assim que chegaram em Aachen, a capital sob o império de Calor Magno, foram vaiados por uma dúzia de pessoas, algumas das quais vestiam coletes amarelos, símbolo dos protestos sociais que agitam a França.

A extrema direita dos dois países, bem como a esquerda radical, multiplicaram os ataques ao novo tratado de cooperação, evocando uma perda de soberania.

Nos últimos dias circularam boatos sem fundamento sobre a suposta intenção da França de dividir com Berlim o assento permanente de Paris no Conselho de Segurança da ONU, e até mesmo sobre a transferência da Alsácia e da Lorena à Alemanha.

"Os que se esquecem do valor da reconciliação franco-alemã são cúmplices dos crimes do passado. Os que caricaturizam, ou propagam a mentira, ferem os povos que fingem defender", atacou o presidente francês.

O palácio do Eliseu considerou necessário desmentir os boatos e publicou na segunda à noite em seu site um texto explicando "toda a verdade" do tratado.

Já o líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, denunciou ontem o "retrocesso da nossa soberania" e disse estar preocupado de ver "menos serviços públicos e investimentos públicos, redução de salários".

Na Alemanha, também na segunda-feira, o dirigente da extrema direita, Alexander Gauland, acusou Paris e Berlim de quererem criar, com esse tratado, uma "super-UE" dentro da própria União Europeia.

Desafiando as críticas, Macron e Merkel ressaltaram sua intenção de fazer convergir suas políticas.

"Nós ratificamos nossa convergência econômica e social, a aproximação progressiva de nossas sociedades, a aproximação de regiões transfronteiriças, a criação de uma nova dinâmica", disse Macron.

Tanto Merkel quanto Macron reafirmaram seu desejo de fazer emergir futuramente um corpo militar europeu e julgam que seus países têm um papel central nesta questão.

A França e a Alemanha adotaram uma "cláusula de defesa mútua" em caso de agressão, no modelo previsto pela Otan.

Eles podem mobilizar meios militares juntos em caso de ataque terrorista ou cooperar em grandes programas militares.

Paris e Berlim esperam, com essa aliança, reafirmar o projeto europeu, enfraquecido por uma onda anti-europeia e a quatro meses das eleições europeias de maio.

"No momento em que a Europa se vê desestabilizada pelo Brexit e ameaçada pelos nacionalismos, por desafios que ultrapassam o quadro das nações, a Alemanha e a França devem assumir suas responsabilidades e mostrar o caminho", disse o presidente francês.

Este acordo "completa" o Tratado do Eliseu, firmado em 1963 pelo general Charles de Gaulle, chefe do Estado francês, e pelo então chanceler Konrad Adenauer. O texto selou a reconciliação franco-alemã depois da guerra.

O tratado foi assinado por dois líderes enfraquecidos. Merkel se prepara para deixar o cargo em 2021 e Macron enfrenta uma crise social sem precedentes.